O homem – palavra que aqui designa essa figura inventada em algum momento da História e que ora vemos nas ruas indistintamente e que parecem ter sempre existido, embora nunca tenha existido de fato.
Inventado do barro, nasceu pelado, já de gravata, eventualmente falando sobre futebol e batendo no peito.
O homem está sempre resguardando sua homenidade.
O homem tem medo de chorar.
O homem tem medo de sentir.
O homem tem medo até mesmo de tocar outro homem, porque aí o homem desmorona, o que toca e o tocado.
Basicamente, o homem tem medo.
Embora homem não possa ter medo para ser, de fato, homem.
Mas, de fato, de fato, o homem, esse que vemos nas ruas, não existe.
Ele foi inventado por si mesmo para oprimir pessoas com ou sem testículos, sem ou com útero.
Variando a intensidade de opressão de acordo com o modo como a pessoa se relaciona com esses tecidos íntimos, como os aceita.
E, principalmente, variando a intensidade de opressão de acordo com como cada uma dessas possibilidades de tecidos íntimos demonstra seu medo do homem através do comportamento.
Posso dizer com orgulho: não sou homem o suficiente.
Não quero ser homem o suficiente para oprimir embora, às vezes, oprima pois nasci num mundo onde se acredita que o homem existe.
Jamais serei, no entanto, homem o suficiente.
Porque o homem não existe.
O homem é o bicho papão dos homens adultos.
Porque se você não for homem o suficiente, o homem te pega.
O homem, esse que pensamos ver nas ruas, assim como o bicho papão, não existe.
É uma história que contaram a você, o homem.
Você nunca consegue ser homem.
O homem é uma piada.
Uma piada de exame de próstata.
O homem não se sustenta com um dedo enfiado em suas intimidades.
Nem sob o mais relapso escrutínio: nenhum homem tem todas as ferramentas necessárias, os itens de fábrica e os acessórios e o cheiro de carro novo que um homem deve ter para ser homem.
O homem, minhas amigas, subiu no telhado.
E pensa que um nó de gravata bem feito vai salvá-lo da queda.
O homem será, um dia, apenas a marca de giz que registra onde o corpo caiu.
Uma pessoa, curiosa, vai perguntar: o que tinha aqui?
O corpo do homem, a outra responderá.
Mas, dizem, sequer tocou o chão.
Tocar o chão é desígnio de coisas que existem.
E o homem, não devemos deixar de observar, jamais existiu.
Não existe.
Jamais existirá.
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