“Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?”
Um dos momentos que mais gosto do meu dia é quando acordo e posso ficar na cama esperando meu pequeno Rafael chegar ao meu quarto. De um instante ao outro não sou mais sua mãe e ele não é mais meu filho. Viramos cachorros. O cachorro pequeno começa a latir pois está chovendo lá fora. Rapidamente temos que nos proteger da chuva nos escondendo embaixo das cobertas. E quantas conversas são trocadas até que a chuva vá embora!
Fico pensando até quando viajaremos juntos ao mundo em que somos cachorros que falam.
O mundo das crianças de hoje em dia tem pouco espaço para o imaginário e a fantasia. É mais concreto, mais imediato, traduzido em imagens e palavras, sem nenhum esforço, através da televisão, tablet e celular.
As conversas ao pé da cama ou durante o almoço se tornaram uma raridade. No restaurante a cena da família sentada à mesa, cada um com o seu eletrônico, tornou-se rotineira. Não há olho no olho. Não há espaço para contar um episódio vivenciado na escola ou no trabalho. Não há espaço para o silencio. Não há espaço para a voz.
Penso que, de certa forma, nossas crianças perderam a voz. Até porque, de que adiante ter voz se não há quem possa ouví-las?
Pais imersos na correria do dia a dia, chegam em casa e carregam o celular para todos os cômodos, preocupados em reponder imediatamente um e-mail. Olham a agenda da escola para ver se saiu alguma nota e perguntam se terá prova nos próximos dias. Sentam em frente ao computador.
Os filhos, cada um em seu quarto, ligam a televisão e deitam na cama, não sem antes checar suas mensagens nos celulares.
Crianças de 8-9 anos já tem seus próprios celulares e acessam de suas televisões smarts de dentro do seu quarto canais de vídeos e de busca pela internet.
Melhor assim, estão protegidos dentro de casa. Quanta inocência a nossa.
A internet e as redes sociais proporcionam um mundo aberto e irrestrito acessado de dentro de nossas próprias casas e distante dos nossos olhos. E nesse mundo fascinante não há duvidas de que nossos filhos encontrarão quem os escute. E ali soltarão a sua voz.
Na minha casa temos feito um esforço para tentarmos deixar a tecnologia um pouco de lado, mas ainda temos muito para evoluir.
Meus filhos, um de 6 e outro e 9 anos, não tem celular e não terão tão cedo.
Fico pensando porque uma criança precisa ter um celular?
Se tiverem algum problema na escola basta irem até a secretaria e pedirem para entrar em contato comigo. Alias, na escola que meus filhos estudam, é proibido o uso de celular, mesmo na hora do recreio, as crianças são “obrigadas” a conversar, interagir e brincar.
O computador aqui de casa fica no meio do corredor. Não há televisão no quarto deles e desta forma, para assistirem algo juntos, eles tem que entrar em acordo e ceder um pouco daqui, um pouco dali.
Ao colocá-los para dormir a noite (eles escolheram dormir no mesmo quarto), muitas vezes fico parada do lado de fora da porta escutando suas conversas. Ouvindo suas risadas e suas vozes.
Escute a voz de seus filhos.
Dê espaço para que eles possam falar.
Desta forma eles saberão quem procurar no dia em que se sentirem sozinhos.
“Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!”
** Este texto se inicia e termina com trechos do poema Enjoadinho do nosso grande poeta Vinícius de Moraes **
Por Juliana G. Loyola
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