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A portinhola da gaiola está aberta mas ainda não consigo voar livremente

Fonte: Visual Hunt (Foto: )

Marcos era aquele tipo de homem que causava impacto e admiração nas pessoas. Com cerca de 40 anos era casado com 2 filhos, líder de uma grande empresa e uma referência de ética e profissionalismo.

Estava sempre com um sorriso acolhedor nos lábios e uma mão estendida para a ajudar. Era muito amado em sua família, entre os amigos, seus liderados e colegas de trabalho.

No entanto, essa aura de perfeição era uma grande fachada. Marcos não se sentia plenamente feliz… Parecia morar numa gaiola de portinhola aberta, sem contudo ter coragem para voar livremente.

Fonte: Visual Hunt

Esse “peso” na alma se manifestou na época da faculdade. Ele achou que era o estresse dos estudos e afirmou pra si mesmo que, quando se formasse, isso passaria.

Não passou!

Ele começou a trabalhar e gostava muito do que fazia, mas o peso continuava. Imaginou que quando fosse promovido, tudo ficaria bem.

Mas, não ficou!

Quando conheceu a esposa, teve certeza de que aquele amor intenso seria a solução dos seus problemas.

De fato, o fardo ficou mais leve, mas o peso ainda se fazia presente.

Vieram os filhos e nova esperança brotou em seu coração… No entanto, por mais amor que sentisse pelos filhos e por mais que estivesse encantando com seu papel de pai, o peso “pesava”…

As promoções vieram, o dinheiro também, algumas viagens, muitas fotos de brindes em locais badalados e o peso ali, sempre de penetra em sua vida.

Um dia, já quase acostumado com aquele parceiro indesejado, viu o anúncio da visita de um mestre indiano em sua cidade. O mestre iria proferir uma palestra sobre o sentido da vida e aquele tema tocou seu coração. Ele pensou… quem sabe ele não me ajuda?

A palestra foi muito impactante e versou sobre o processo individual de cada ser humano. Falou de propósito, intenções, possibilidades e energia. Ele não entendeu tudo mas sentiu-se acolhido pelo amor que emanava do mestre.

Fonte: Visual Hunt

E a sensação de bem estar foi tanta, que ele decidiu tentar conversar com ele após o encerramento das atividades daquele dia.

Quando chegou nos “bastidores”, foi recebido com carinho pela equipe de organizadores que assentiu de imediato a sua presença junto ao mestre.

Ele achou até estranho, pois foi preparado até para pagar pelo encontro se fosse o caso.

E ali, naquele espaço, com aquelas pessoas e com aquele mestre, seu dinheiro não significava nada. Ele era um homem apenas. Um homem em busca de orientação que merecia respeito e atenção pelo simples fato de ser um filho do Deus. Só aquele tratamento amoroso, já o encantou sobremaneira…

Ele esperava um local em penumbra, com lenços, velas e incensos… Riu de si mesmo ao entrar em uma sala de paredes brancas. O mestre estava sentado em uma poltrona e lhe ofereceu a outra cadeira próxima para que se acomodasse.

Marcos sentou-se e abriu a boca para começar a despejar toda sua angústia. Mas o olhar amoroso do mestre, calou-o com ternura.

A princípio, sentiu-se incomodado com o silêncio, mas o mestre sorria com os olhos, emanando amor e paz. Parecia ler sua alma com a tamanha facilidade, como se o conhecesse mais que ele mesmo.

E ele não sabe dizer por quanto tempo ficaram ali, naquele silêncio que falou tanto. O choro que brotou de seus olhos era de dor e alívio ao mesmo tempo… Ele chorou muito. Talvez o choro represado de uma vida toda.

Em dado momento, o mestre saudou-o: “Namastê meu irmão! O que o traz aqui?”

Marcos respondeu: “Mestre, tenho tudo para ser o homem mais feliz do mundo, no entanto sinto um peso no coração. É como se eu estivesse em um gaiola, vendo a porta aberta, sem conseguir voar e ganhar o mundo. Este peso me prende ali”.

O mestre sacudiu afirmativamente a cabeça, demonstrando respeito e entendimento à questão.

Fez-se um novo silêncio até que ele iniciou a explicação: “Filho, o que você sente, este peso, é uma coisa simples de resolver. Perdoe e peça perdão a quem de direito.

Marcos teve ímpetos de gritar. Eu perdoar, até que tudo bem. Mas pedir perdão pra quem? Ele era um cara super gente boa. Começou a se arrepender de ter ido ali com aquele velho maluquete.

Como era muito educado, fez questão de responder com serenidade: “Mestre, você não me conhece. Sou uma boa pessoa e não preciso pedir perdão a ninguém. Lamento ter tomado seu tempo.”

Ao fazer menção de levantar, o mestre foi mais rápido e colocou a mão direita sob a fronte de Marcos. E como num filme, algumas cenas foram aparecendo em sua mente. Viu quando empurrou um amigo que quebrou o pé e não conseguiu mais jogar bola. Viu quando denunciou o irmão à mãe, quebrando o coração de ambos, sem ter dado oportunidade de que seu irmão se corrigisse. Viu quando traiu a esposa. Viu quando gritou com os filhos. Viu quando trapaceou nas comissões prejudicando um colega. Viu quando negou comida a um mendigo. Viu quando fez fofoca de uma ex-namorada. Viu quando não foi ao aniversário do melhor amigo para ficar jogando videogame. Viu isso… Viu aquilo… Viu muito… e viu mais…

Se o choro do início do conversa havia sido de alivio, o de agora era de profundo desespero e arrependimento.

Quando finalmente se acalmou, o mestre sentou-se novamente e continuou sua orientação. “Este peso que você sente são como bolas de ferro que te prendem a situações de dor e mágoa. Ninguém consegue ser feliz sob a dor do outro. O perdão não apaga o passado, mas certamente, muda e requalifica o futuro!”

Marcos ainda meio atordoado, ainda questiona: “Mas mestre, e se meu amigo não me perdoar? Se minha mãe não entender? E como vou achar o mendigo?”.

Ele suspirou e respondeu: “Você fará a sua parte. Peça perdão sinceramente e tente reparar seus erros. Acolha um outro mendigo e sempre se disponha a estender a mão ao outro. A vida se encarregará de te ajudar.’

Mestre, disse Marcos, que tarefa difícil! E quanto aqueles que me magoaram?

Ele concluiu: “Agora que você já sabe como é difícil, pode auxiliá-los também nesta etapa. Conceda o perdão a todos que precisam e liberte-os também.

Marcos abraçou o mestre tentando demonstrar toda sua gratidão. Sabia que tinha uma tarefa gigante pela frente, mas já sentia mais leve e forte para iniciá-la.

E ele sabia, que logo logo, sua alma começaria a voar, livre, leve, solta e feliz.

Fonte: Visual Hunt

Por Dani Lourenço

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