Esta história que vou contar, não é uma historinha de contos de fadas… É uma história de “verdade verdadeira”, daquelas que a gente pode até jurar de dedinhos!
Clara era uma lagarta bonachona e feliz. Não tinha nenhum tipo de desafio ou dificuldade. Sua vida era comer e dormir! A comida era farta e sono abundante.
Às vezes, enquanto lagarteava ao sol, pensava em como era sortuda por viver assim. Considerava que seria impossível ser mais feliz do que era.
Um dia porém, um sono maior que o normal a envolveu. Sentiu um calor morno, sabe? Aquele parecido com o colo de mãe.
Percebeu que uma espécie de coberta fofinha envolvia todo seu ser e ela não resistiu. Entregou-se plenamente àquela esplêndida letargia.
De quando em quando abria preguiçosamente os olhos e reconhecia o quanto amava aquele casulo e o aconchego que o mesmo proporcionava. Vivia ainda mais feliz e quentinha em meio as brumas do adormecimento. Pensava sobre como era sortuda por viver assim. Considerou novamente que seria impossível ser mais feliz do que era.
O tempo que cantou canções de ninar para embalar o seu repouso, foi o mesmo que a despertou com um vigoroso toque de despertar. Ela ouvia trombetas possantes na sua alma, determinando o fim daquela quietude.
Tentou tapar os ouvidos, mas quando a voz vem do interior, ela não pode ser calada.
Muito a contragosto, acordou. Uma leve brisa e o calor do sol tocaram seu corpo. Ela arregalou os olhos ao perceber que o casulo havia se rompido.
Num movimento involuntário, provocado pela energia da vida, renasceu!
Sentiu as asas nas suas costas e um líquido quente correu por elas, com um vigor intenso, semelhante ao das águas de um rio que busca, apaixonadamente, o mar. E o milagre se fez, tornou-se um ser alado.
Olhava suas asas com incredulidade! Não sabia ao certo o que acontecera… De modo instintivo, bateu as asas e percebeu que podia voar.
E então… Se você pensa que ela voou feliz e acabou a história, você está errado.
Quando ela percebeu que podia voar ficou apavorada! Tentou voltar para o casulo, mas ele havia se partido ao meio.
Sentiu-se perdida, insegura, amedrontada e profundamente infeliz! E agora?
Quem tinha feito aquilo com ela? Ninguém tinha perguntado se ela queria ser borboleta. Era tão feliz como lagarta…
Olhou ao redor e tudo parecia aterrorizante! Ela podia ser comida por um pássaro, podia rasgar a asa em um galho ou morrer com a chuva, pensava em desespero e choque!
Por fim, resolveu fazer alguma coisa. Com muito esforço, abrigou os pedaços do casulo embaixo de umas folhas e ficou ali, recolhida em sua dor.
De repente, ouviu um cumprimento:
– Dona Borboleta! Bom dia! Nova por aqui? Permita que eu me apresente! Sou Caco, o caracol.
– Bom dia? Só se for para você! Dormi lagarta, acordei borboleta, estou com medo, frio, fome e muito mau humor! Ela vociferou.
Caco riu tanto, que seu casco até tremeu!
– Ha! Ha! Ha! Como eu curto senso de humor nas minhas conversas matinais!
E o diálogo seguiu…
– Mesmo? Bom para você! E sério, ao menos que saiba como eu volto para minha vidinha, não quero papo!
– Ó bela criatura alada! O que queres é algo impossível! O tempo só segue uma direção: para frente! Na vida, não há retornos. Tudo o que nos resta do passado são as lembranças do que fomos e vivemos. Lembranças e ensinamentos que, consolidados, permeiam o que somos no agora!
A natureza não erra! O fluxo de vida que nos impulsiona é o mesmo que deu origem ao Cosmos. Uma explosão e uma nova vida se faz!
Entenda, que para que o novo emerja é necessário que o velho desvaneça.
Escute a voz que vem do seu coração. Ela contará o motivo desta metamorfose e revelará o seu sentido da vida!
O caracol fez uma respeitosa saudação com suas anteninhas e partiu, caminhando lentamente por entre a grama.
Clara ficou ali, ainda amuada e certa de que não haviam respostas e nem soluções para suas lamúrias.
E a vida seguiu firme, convicta a ensinar as lições que Clara precisava aprender. Com fome, ela teve que começar a se aventurar e arriscar uns pequenos voos. Mais confiante, começou a admirar as flores das alturas e enebriar-se com seus aromas frescos, temperados de orvalho e luar.
Fez alguns amigos e desejou ardentemente ter nascido minhoca! Pensava consigo mesma que devia ser perfeito morar no ventre da terra, passear com os amigos e bater papo o dia todo…
Começou a se perceber só e se sentia resignada com a nova vida. Pelo menos, podia comer e sabia o que fazer para sobreviver.
Em um dia bem feio, tudo mudou… (De novo!) Um forte vento se fez e arremessou Clara para longe. Ela batia as asinhas com vigor, mas não pôde com a ventania. Deixou-se levar.
Ela não sabe por quanto tempo ficou em meio aquela tempestade, mas quando deu por si, estava em um galho de uma árvore frondosa.
Olhou ao redor e não reconheceu nada daquele cenário. Chorou ao lembrar do seu casulo, que aquela altura, era um “pó”sulo… Envolveu-se em suas próprias asas e extenuada, adormeceu.
O dia seguinte, foi mais camarada. Amanheceu quente e ensolarado. Clara acordou sentindo aquela fominha matinal e partiu em busca de alimentos. Ao explorar o local, avistou lindo canteiro de flores e folhas verdes. Mais a frente, rodelas de laranja e cascas de melancia. Pensou, ao menos, a comida era boa naquelas paragens.
Logo após pousar na laranja, notou uma “presença”. Mas, estranhamente, não teve medo. Sentiu um calorzinho gostoso, daqueles que a gente sente quando nossa alma reconhece uma alma amada. Deu de cara com outra borboleta e sabia que dali para frente, teria um companheiro muito especial.
Sorriu! Mas não só de boca, sabe como? Sorriu de alma! Aquele sorriso que parece uma explosão de fogos de artifício ou um baile animado com música de gente feliz.
O sorriso foi devolvido e nenhuma palavra se disse. Ambos ficaram ali conversando pelo idioma da alma, que tudo sabe, tudo sente e tudo compartilha… O idioma da plenitude, da soma e do amor.
Sob aquela magia, foram voar juntos e encontraram uma linda menina, que sorriu ao vê-los passar. E foi ali que o coração de Clara falou, como previra o caracol.
“Clara, este é o sentido da sua vida! Desadormecer a alegria nos corações humanos! Despertá-los para apreciarem a beleza e singeleza da efemeridade!”
Novamente, suas asas foram inundadas por aquele calor familiar, mas desta vez, de modo consciente e voluntário.
Clara, no auge de sua iluminação, compreendeu como era sortuda por viver assim. Considerou novamente que seria impossível ser mais feliz do que era.
E novamente, seu coração respondeu: “O tempo não para, o ciclo da vida é infinito e o melhor ainda está por vir!”
Agradeço a querida Laura Hoepfner, pelas lindas ilustrações que fez especialmente para este texto!
Por Dani Lourenço
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