MINHA CULPA MINHA MÁXIMA CULPA
Parte 2 – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Quando o assunto é violência doméstica, nos vem a mente agressões físicas, tapas, surras e a grande vítima … A MULHER. Mas as nuances que escondem nos casais estes comportamentos só com uma escuta diferenciada podemos perceber que é um jogo sutil, que envolve relações doentes e muitas vezes nos esquecemos da pior violência que é a psicológica, a que se passa nos aterros do submundo das relações. Um jogo de poder que não diferencia e não escolhe sexo, mas sim quem domina a relação. Jogo arriscado e fascinante.
Um jogo onde não há perdedor, ambos são ganhadores. Jogadores aprisionados nas suas histórias de vida e marcas que carregam de relações doentes na infância e onde encontram-se as respostas para as artimanhas de como jogar o jogo do encontro e do poder.
Na escuta do consultório é que percebemos as mazelas sutis deste jogo que não faz escolhas aleatórias para saber que parceiros encontrar para completar a partida.
O dominador percebe no dominado suas fraquezas e onde seu ego esta fragmentado para cravar suas garras e algemas e assim ter o parceiro certo para o jogo de poder. Isto é um jogo inconsciente de ambos os lados. Neste tipo de relação doente onde um se perde para o outro se encontrar, sempre vemos duas pessoas fragmentadas e prisioneiras de suas vidas mal resolvidas.
O que domina e sufoca psicologicamente o outro tem sua fragilidade, apesar de se mostrar mais forte e nesta relação doente tenta recompor e estruturar seus próprios medos e complexos e o dominado da mesma forma se vitimizando e ambos se apoiam como forma de sobreviver.
Este é um jogo que só tem como finalizar quando um jogador se reconhece e para de jogar.
Me reporto a um caso, onde a paciente era a dominadora e trazia a fragilidade do marido nas entrelinhas do discurso e numa sessão eu disse para ela… como você é poderosa… ela para, me olha e desata no choro e diz… percebi, não sou poderosa, sou uma pedinte na verdade e aí sim começamos o trabalho de terapia.
E quando a mulher permanece na relação apesar dos maus tratos físicos, agressões e humilhações, onde ela esconde… caí da escada,etc… desculpas esfarrapadas para encobrir a situação e perdoar o agressor.
Nos vários casos que tive oportunidade de atender só pude perceber e concluir o que move uma mulher a se manter neste tipo de relação doente é seu sentimento de menos valia e um lugar, para ela, a comodidade de ser a vítima como forma de ter atenção, de ser alguém, alguém que sofre mas em nome dos filhos, da sociedade ou de qualquer desculpa plausível, aguenta a punição.
Uma paciente, no segundo casamento, diz que não merece o marido que tem, pois ele é bom a trata bem, é companheiro e ela não se acha merecedora dele. Sua história, um primeiro casamento, aos 18 anos, com um homem agressivo e violento, que lhe surrava e a agredia por qualquer coisa, mas ela não tinha mágoa dele pois ela sabia que não era boa dona de casa e acreditava que ele tinha razão quando a criticava, só ficava triste de ser agredida fisicamente, mas o desculpava pois ele tinha uma história de agressão na infância e morreu em briga de bar.
No decorrer das sessões ela conseguiu juntar os fragmentos de sua própria história, do porque aceitava e perdoava ser agredida e porque era tão difícil ter um homem legar que a trata bem. Lembra-se de uma cena na sua infância que a marcou… era de uma família muito pobre e certa vez estava com a mãe, que era catadora de reciclável, e na porta de uma confeitaria uma senhora a viu olhando os doces e lhe ofereceu que poderia escolher um doce que ela pagaria, ela como criança esperta escolheu o melhor e talvez o mais caro, ganhou, mas mãe quando viu ficou brava queria que ela devolvesse, mas o que mais a marcou foi ouvir que não poderia pedir o mais caro, pois era pobre e não merecia explorar as pessoas, deveria ter se contentado com o mais simples e que a pessoa que escolhesse.
Juntando os pontos, o primeiro marido era de família bem situada financeiramente e aí para saborear este doce há que se pagar um preço, o preço da humilhação e o segundo marido sendo bom e a tratando bem, a coloca no lugar que não acredita merecer.
Portanto vítima e agressor fecham um jogo, jogo de nuances sutis, onde ambos foram de alguma forma vítimas de suas próprias experiencias e história de vida, o agressor normalmente foi vítima de agressão e quando adulto reverte o jogo, procura sua presa para descontar suas frustrações e se a vítima preenche os quesitos o jogo pode ser jogado.
Por estas razões que as delegacias da mulher e as casa de apoio são paliativos e precisam oferecer tratamento psicológico para estas pessoas e só assim elas conseguirão reconstruir seus fragmentos e reestruturar suas vidas, rever e reescrever suas histórias para ocupar seu digno lugar na vida.
E a frase que muitas ouviram de seus companheiros… EU NÃO SEI PORQUE BATO, MAS VOCÊ SABE PORQUE APANHA… faz sentido, de uma forma inconsciente ela sabe. Muito triste.
Por Pedra Bucci
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