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Nas passarelas e nas vitrines, a moda apresenta-se cada vez mais plural. Não apenas oferecendo opções para diferentes estilos. Fundindo-os em composições inesperadas, as produções construídas com variadas referências querem vestir consumidores que não cabem em apenas um lifestyle. A moda está múltipla pois nós estamos também.

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Lembro que há alguns anos, ainda na faculdade, estudei que duas macrotendências opostas guiavam o design: de um lado materiais e processos tecnológicos serviam aos que anseiam pelo futuro, enquanto uma segunda vertente abraçava o artesanal e as referências retrô em uma espécie de escapismo. Para desenvolver um produto, cada estudante precisava optar por uma delas, decidir de que “lado” estava. Por que não estar em ambos?

A moda atual traz esses dois polos, há tecido inteligente e mules em jacquard bordado dividindo espaço no closet. Longe de pertencerem a mundos distintos, essas duas vertentes (e muitas outras) fazem parte de um mesmo look: entre a vontade de voltar às origem estáveis do passado, pela incerteza do futuro, e o ímpeto de avançar, pois o que temos já não nos satisfaz, absorvemos e refletimos as duas coisas. E é por isso que o contraste (de volumes, de cores, de texturas) nos representa.

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Adotamos o hi-lo misturando valiosos itens vintage com t-shirt de fast fashion, usando casacos tradicionais com tênis e deixando o conservadorismo de lado para customizar itens clássicos (um bom exemplo é o trabalho da artista Olivia Lambiasi, que agora pode ser adquirido online na Shop2gether em mais uma união entre arte e tecnologia). Desconstruímos modelagens  e invertemos formas de uso, mostramos o que estava escondido com costuras e forros aparentes e tops de renda sobre a camiseta, nos identificamos com o conforto do moletom oversized ao mesmo tempo em que desejamos usar uma calça de couro justíssima.

Não queremos abrir mão de nada. E, além do styling, há a crescente busca por produtos que retratem essa vontade seja através da função ou da estética. De mãos dadas com a macrotendência slowfast, a chamada crono-sensibilidade, que representa a união entre tempo passado e tempo presente, pode ser exemplificada pela recém lançada parceria entre o artista Jeff Koons e a Louis Vuitton, uma “sobreposição do tempo longo e slow das obras-primas imortais usadas por Koons como estampas, com o tempo curto e fast das bolsas fashion (leia mais na matéria do Observatório de Sinais). Da mesma forma o retorno dos logos antigos, aderido por marcas como Levi’s e Ellus em coleções recentes, traz um toque de nostalgia para um modismo revisitado nas últimas temporadas (a logomania) que conquistou consumidores das novas gerações.

Esqueça a necessidade de um formato, da vontade de dar nome ao seu estilo (e de basear-se naquelas ultrapassadas definições de esportivo, clássico ou romântico), das páginas de certo x errado. A autenticidade mora na incoerência. Somos, e estamos cada vez mais, multifacetados. Ser high e low, fast e slow é “a última palavra em fashion”.