Recentemente estive em um conhecido teatro de Curitiba para assistir um show musical com cantores que são referências nacionais e internacionais em suas áreas.
Como comprei há meses, consegui um lugar logo nas primeiras fileiras, bem próximo do palco.
Eu e meu marido chegamos com 15 minutos de antecedência e nos sentamos ao lado de três senhorinhas.
Quando nos acomodamos, as três se levantaram para ir ao banheiro. Elas nem haviam chego à porta do sanitário, quando percebi que uma mulher jovem com sua filha adolescente se sentaram no lugar das “meninas”.
Comentei com meu marido: -”Vixé! Será que elas erraram o assento? Quando as senhorinhas voltarem, pode dar confusão..”
Quando retornaram de lá, olharam para nós, para as duas sentadas no lugar que era delas, para a fileira e começaram a revirar a bolsa em busca do ingresso. Nesse ínterim, a dupla se manifestou: “-Podem sentar senhoras, erramos a poltrona”. Elas pularam para as próximas poltronas liberadas.
Ok, pensei. Foi um equívoco e está tudo certinho. Porém, eu estava enganada… Dois minutos depois, chega um casal e adivinha? A história se repete e as duas saem e vão para a quarta fileira e sentam bem atrás de nós.
Qual não foi minha surpresa quando ouvi o seguinte comentário entre elas: “Muito azar né filha? Tomara que os donos dessas cadeiras não cheguem! Vamos torcer!”
Virei para elas, olhei a cena e pensei, muito azar não! É muita “cara de pau”!
Depois, apagaram-se as luzes, o show começou e as bonitonas ali, na tentativa que alguém fosse abduzido por uma nave espacial e deixasse as cadeiras da plateia liberadas! Perdia-as de vista depois que estavam na quinta fileira.
Observei também que o fenômeno parecia ocorrer em outros lugares do teatro, porque era um tal de gente chegando, povo levantando, gente chegando e povo levantando que só vendo…
Confesso que fiquei indignada, estupefata e desolada…
Cadê a ética e o respeito que um dia moraram aqui pertinho? Que educação que esta mãe está ofertando a esta adolescente? Que praga se tornou o “jeitinho brasileiro”, que antes se definia como “resolução de problemas pelo uso da criatividade e inovação” e hoje se define como “prática legitimada da corrupção de pequena, média e larga escala”?
Não sou de perder a fé nas pessoas e na humanidade, mas admito que este tipo de comportamento coloca em prova as minhas convicções.
Mas vamos lá! Se você estiver lendo minha coluna, Sra. Pula Cadeira, seguem algumas dicas!
Principal delas: para, que tá feio! A educação é fundamentada nos exemplos, assim, pense o que você vem transmitindo a sua filha?
Temos que ensinar que devemos viver dentro das nossas condições financeiras.
Conseguir ir a um show, mesmo que no segundo balcão é motivo de orgulho e alegria! Já nos coloca em uma situação diferenciada de grande parte da população brasileira que nem sonha em ter acesso a este tipo de experiência cultural!
Mãezinha, cabe-nos ensinar que é feio se apropriar de algo que não é nosso e que é horrível tentar dar uma de “espertalhona”, enganando para conseguir uma vantagem, prêmio ou benefício. Hoje sua filha pula cadeira sob sua orientação e amanhã vai fazer o quê?
Os grandes atos de corrupção que tanto nos chocam e que fazemos questão de apontar nos políticos, nos ambientes eleitorais, empresariais, profissionais é tão perverso quanto pequenos atos de corrupção como “roubar” um lugar.
A mudança dessa realidade não começa lá no congresso, começa em cada um de nós, no dia a dia.
Um abraço,
Dani