Visual Hunt
“Um homem muito cheio de si mandou revestir de espelhos todas as paredes e o forro do seu mais belo quarto. Com frequência ele se fechava ali, contemplava sua imagem, admirava-se detalhadamente, a partir de cima, a partir de baixo, de frente, por trás. Com isso ele se achava totalmente reanimado, pronto para enfrentar o mundo.
Certa manhã ele saiu daquele quarto sem trancar a porta. Seu cão entrou. Ao ver outros cães, ele os farejou; como eles também o farejavam, ele grunhiu; como eles também grunhiam, ele os ameaçou; como também o ameaçavam, ele latiu e se atirou sobre eles. Foi um combate medonho: as batalhas contra si mesmo são as mais ferozes que existem! E o cão morreu extenuado.
Um asceta passava por ali enquanto o dono do cão, desolado, mandava emparedar a porta do quarto com espelhos.
– Esse lugar pode ensinar muito a você, disse ele. Deixe-o aberto.
– O que o senhor quer dizer?
– O mundo é tão neutro quanto os espelhos que você tem. Conforme sejamos admirativos ou ansiosos, ele nos devolverá a mesma coisa que lhe damos. Se você estiver feliz, o mundo também estará. Se inquieto, ele também ficará. No mundo nós combatemos sem cessar nossos reflexos e morremos no confronto. Que esses espelhos ajudem você a compreender isto: em cada ser e a cada instante, feliz, fácil ou difícil, não vemos nem as pessoas nem o mundo, mas apenas nossa própria imagem. Veja isso e todo medo, toda rejeição, todo combate abandonará você.”
Por Pedra Bucci