Engana-se aquele que pensa que o coração de uma mulher é uma casa pequena, simples e de livre acesso! Para adentrar neste império, há que se ter um convite!
Ò ser ingênuo que não percebeu que é uma visita neste castelo de mil portas e que seu trânsito é liberado somente entre a cozinha, a sala e o quarto.
Ò ser inocente, que nunca percebeu as engenhosas e disfarçadas fechaduras que levam ao interior do castelo onde moram os sonhos, registros de vida, os anseios e os mais loucos desejos…
Nestes espaços, as memórias correm livre, leves e soltas e gargalham entre uma corrida e outra… Por certo, que algumas delas, por vezes, jogam-se ao chão em pranto sentido, resultado de uma trombada com as saudades…
O quarto das recordações parece um grande bazar de quinquilharias… No entanto, é ali que estão joias preciosas da vida dessa ourives. Não se engane… aquele não é um papel de bala! É a recordação de um momento lindo, onde ela recebeu um valioso presente da sua primeira amiga! Aquele também não é um galho seco! É uma flor de jardim, a prova de um pueril e afogueado romance!
Há pilhas de fotos, registros de momentos únicos e inesquecíveis…
No espaço de flashback, alguns momentos podem ser detalhadamente repetidos… Ela “vê” o dia que, de dentro do carro, parada em um semáforo, foi agraciada por uma espécie de dança, executada por um ilustre desconhecido. Ela riu daquele corpo meio cambaleante, estilo Chaplin e eternizou o momento em que ele, galantemente, “tirou” o chapéu da cabeça, para ela atravessar. Algo inusitado, simples mas intenso. Memorável…
Na sala das sensações, ela pode sentir, sempre que deseja, tudo que fez suas borboletas dançarem no seu estômago: o primeiro beijo numa quadra de futebol em meio a brumas, o beijo roubado dentro de um elevador, seu primeiro gozo, o murmúrio do “eu te amo” pronunciado ao pé do ouvido, o som do pôr do sol, o gosto do luar e os segredos de um céu estrelado.
Há labirintos e um quarto de jogos. Uma vasta biblioteca e a sala dos encantamentos e poções, afinal toda mulher carrega o dom da cura.
Ouvem-se músicas de diversos cômodos e sim, pode-se mergulhar em lagos profundos e florestas intocadas.
O que vê, nada mais é que a ponta do iceberg. É o que ela quer e permite que você veja!
Não se iluda, ela é muito mais do que seus olhos humanos podem captar! Ela é um mundo inexplorado e um universo: corpo, intensidade e alma.
Se for convidado a adentrar os seus domínios, faça-o com delicadeza e coragem! Com atitude e determinação, ciente do risco de querer ser hóspede para sempre!
Por Dani Lourenço