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Era uma vez uma menininha muito ocupadinha!

Se fosse comparada a um personagem de livros infantis, certamente seria o Sr. Coelho de Alice no País das Maravilhas. Sempre correndinho e com pressa.

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Ela acordava cedo todos os dias e era a primeira a chegar à escola.

Aliás, ela se esforçava para ser a primeira em tudo: a levantar a mão e oferecer-se para ler em voz alta e a dizer o resultado da operação matemática.

Primeira a terminar a prova, a sair pro lanche e a ir embora. Era a primeira a ajudar seus colegas na escola.

Foi ficando conhecida por todos como Primeirinha. E todas as pessoas com as quais convivia a adoravam! Era considerada um exemplo, pois para ela não havia “tempo ruim” nem tampouco a palavra “não”!

E assim foi crescendo! Foi a primeira a fazer estágio, a se formar, a casar e a primeira a ser mãe…

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Amada por todos, seguia sua vida em velocidade expressa. Ela era uma locomotiva de alta performance e a palavra descanso nunca fez parte do seu vocabulário.

Certa feita, reencontrou um amigo de infância! Do abraço afetuoso ao café na Confeitaria Express da cidade, foi um pulo.

Primeirinha, logo se apressou em cancelar as três reuniões que tinha agendadas pois queria usufruir daquela doce companhia. Pensou, afinal: “Sabe Deus quando o verei de novo! Quero conversar! Vou me permitir essa pausa!”

Muitas lembranças, memórias e risadas foram ouvidas pelas várias xícaras de café que foram dançando sobre a mesa. Testemunhas oculares de um momento delicioso que só amigos sabem viver!

Em dado momento, o amigo sabedor da fama de Primeirinha, desafiou: “Você que é a primeira em tudo, já descobriu os segredos que o vento conta?”

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Primeirinha enrubesceu e pela primeira vez na vida as palavras não brigavam para saírem de sua boca. Emudeceu e foi obrigada a responder: “Não sei!”

O impacto inicial dessas novas sensações logo foi substituído pela voraz vontade de aprender que sempre a consumiu! E ela quase aos berros pediu: “Conta, por favor!”

Ele então, sorriu! E apenas sorriu!

Ela novamente insistiu: “Para com este mistério, conta os segredos do vento!”

O amigo, carinhosamente respondeu: “Os segredos que o vento conta são únicos e se referem somente a você! É uma conversa muito íntima que não permite plateia e tampouco pode ser compartilhada.”

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E ela, ouriçada e curiosa, confessou: “Eu quero muito saber os segredos que o vento tem para compartilhar comigo! Ensina-me, por favor!”

Para ouvir os segredos que o vento conta”, ele respondeu, você deve estar só.

Deve procurar um lugar silencioso e colocar uma cadeira na varanda para ele poder te encontrar.

Deve fechar os olhos e respirar profundamente. Logo, ele vem… Vai farfalhar as folhas, sacudir as flores e fazer cócegas na grama. Vai cumprimentar as portas e estalar as madeiras do telhado.

Vai brincar de escorregar sobre o assoalho e sibilar nas frestas das janelas e finalmente se acercará de você.

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Primeirinha agradeceu, despediu-se e saiu praticamente correndo.

Tomadas todas as providências, partiu para um chalé no interior. Afinal, ela tinha muita pressa de conhecer aquele segredo.

No cair da noite, ela já estava lá, sentadinha de acordo com as orientações que recebera.

Passou um minuto, dez minutos e nada acontecia… Foi bem devagarinho que percebeu a lua sobre si. Depois viu as estrelas. Em seguida, sentiu a textura deliciosa da mantinha que a aquecia e suas narinas foram inundadas pelo cheiro da terra úmida.

Primeirinha respirou fundo e uma maravilhosa sensação de paz a envolveu e, finalmente, o vento apareceu.

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Contou segredos que houvera guardado uma vida toda!

Naquela conversa, então soube que não precisava ser sempre a primeirinha. Que nenhum mal havia em ser a segundinha. Que o mundo não iria acabar se ela não se apressasse e que ela poderia (e deveria) curtir momentos de comunhão com o vento, o céu, a lua e o luar.

Depois que o vento se foi, ela chorou e agradeceu, pois o grande milagre aconteceu!

Perguntou a si mesma, como levara tanto tempo para conhecer os segredos do vento…

Lembrou então de um poema de Fernando Pessoa que somente agora compreendia bem:

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“Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.”

E ali mesmo adormeceu.

Por Danielle Lourenço Hoepfner