Era uma vez uma patinha feia que se transformou em cisne. Esse é o resumo da primeira parte da história que versa sobre um cisne fêmea que foi largada pela cegonha em uma família de patos e que sofreu horrores até descobrir sua verdadeira origem. Você lembra, certo? O que me disponho a contar hoje é a continuação dessa história. Desculpe-me por acabar com sua ilusão: ela, Swan, não foi feliz para sempre. Depois que se descobriu cisne, apesar das expectativas de ser plena e realizada, ainda não havia encontrado a felicidade. Ela nadava por entre os cisnes em um lago azul e adorava receber os mimos que as crianças, de quando em quando traziam. Mas era só. Tudo havia piorado muito!
Não morava com os cisnes… Toda sua vida havia sido estruturada na fazenda onde viviam os patos e, ao entardecer, voltava para sua família, afinal, pai e mãe é quem cria, ela pensava. Pensava também que não podia ser ingrata com aqueles que, amorosamente, haviam a recebido no seio familiar. E, na prática, descobrir-se cisne não facilitou muito as coisas. Antes se achava diferente, agora ela tinha certeza! Seus pais continuam criticando suas asas longas e brancas e seu “crush” vivia afirmando que ela era muito exibida. As “amigas” comentavam que ela era meio teatral, com aqueles movimentos lentos e suaves. As primas caçoavam que ela era muito pescoçuda e, para finalizar, o dono da fazenda reclamava que ela não produzia nada. Aquele frenesi que sentiu ao se mirar no lago, deu lugar a uma tristeza incontida. Certa noite, saiu para caminhar pela trilha dos bois. Mesmo sendo um cisne, adorava o cheiro de mato e amava ver a dança dos vagalumes. Era um momento de paz que a ajudava a tentar entender o que havia de errado em sua vida. Ouviu ao longe o piado da sábia coruja-do-mato: -“Uuuu – u – uhuhuhuhu”. Grasnou alto, saudando a amiga querida. Talvez a única amiga que fizera nestes anos.
A coruja acercou-se dela.
– Boa noite linda amiga! Que olhar tristonho é esse? – Boa noite minha querida! Nada de novo! Só a ladainha eterna de críticas e reclamações de todos ao meu redor! Sabem que sou cisne, mas me tratam como uma pata que é “fora do padrão”. Eu sofri a vida inteira me achando uma pata perdedora. Hoje, sinto-me ainda pior! Um cisne fêmea fracassada! Não dei certo nem lá nem cá!
A despeito da dor e da tristeza, talvez movida pela intimidade que só a verdadeira amizade promove, a coruja riu.
-Você ainda ri da desgraça alheia, sua bruxa de asas? Comentou Swan, rindo gostosamente junto com a companheira.
– Amiga! Eles te tratam como pato porque você age como tal! Não se pode servir a dois senhores! Sua essência é de cisne, mas seus modelos mentais e crenças são de pato! Você é um pato tentando viver em um corpo de cisne! E assim, você “vive” no pior lugar do mundo: o muro! Vive tentando se equilibrar entre estas duas realidades! O muro suga sua energia e sua alegria minha querida!
Não adianta se saber cisne, você tem que se sentir um cisne! Buscar no seu coração a capacidade de nadar como quem flutua! Lembrar, pelo elo da sua ancestralidade, o balé natural da espécie! Mover-se com graciosidade!
Não adianta querer viver uma vida nova com velhos hábitos! Liberte-se de tudo o que não te faz bem e assuma a força da sua essência! Quando tiver dúvidas, volte ao lago, mire-se e pergunte a você mesma: “Quem sou eu?” e responda bem alto: “Eu sou um cisne lindo e perfeito!”. Volte para casa, medite e você saberá o que fazer!
Elas não podiam se abraçar, mas o olhar que trocaram foi tão intenso como um abraço de gratidão!
Ela retomou o caminho de casa, mas ainda conseguiu ouvir ao longe:
– Sentirei saudades! Venha me ver sempre que puder!
As palavras da coruja caíram como sementes boas em solo fértil! Em poucas semanas, haviam germinado!
Swan terminou o relacionamento com o pato, despediu-se da família e mandou um beijinho de ombros para “as amigas”. Foi morar no alojamento de cisnes, inscreveu-se num curso de balé aquático e falam as boas línguas que ela está saindo com uma galera nova e superdivertida!
E pela primeira vez na vida, Swan se percebeu sem nada, mas com tudo que havia sonhado para si! Descobriu que, às vezes, é preciso perder para ganhar! É preciso se arriscar, entregar-se e confiar no fluxo da vida! Descobriu que, não escolher, já era uma escolha. Descobriu assim, que podia fazer escolhas melhores! Descobriu que a vida não é um conto de fadas, mas que pode ser uma história repleta de bons episódios! E por fim, permitiu-se ser quem era… e ser feliz.
Seja feliz você também!
Beijos,
Dani
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