Era uma vez um reino, em terras distantes, governado por um rei muito jovem. A despeito de sua idade, nascera com o dom de governar. Era justo, sábio e muito curioso. O povo o amava genuinamente e ele de tudo fazia para vê-los felizes.
O reino era dividido em duas grandes áreas, Caixas Grandes e Pequenos Mimos. Uma bem ao norte e outra bem ao sul. Uma mais urbana e acelerada enquanto a outra era mais campestre e sossegada.
Um fato muito peculiar de Presentópolis, era que cada casa dispunha de um medidor de felicidade. Estes aparelhinhos ultramodernos mediam a felicidade da população e eram transmitidos em tempo real para o palácio.
O Rei Sophus exigia que equipe de assessores entregassem relatórios diários dos índices de felicidades(IF) dos súditos. O IF era algo que ele considerava na elaboração de seus projetos de melhoria do reino e para definições de ações futuras.
Há alguns anos, algo o intrigava… Pequenos Mimos sempre apresentava IF muito superior em relação à Caixas Grandes…
Ele se reunia com os assessores e debruçavam-se sobre as planilhas, relatórios e pesquisas e por mais que todos se esforçassem, não havia um motivo concreto para àquela diferença. Ano a ano, Sophus tentava proporcionar as mesmas condições e recursos para ambas as localidades, respeitando a cultura local.
Apesar das regiões irmãs usufruírem dos mesmos avanços em termos de saúde, educação, transporte, remuneração, o IF sempre era vertiginosamente menor em Caixas Grandes.
Na última reunião de avaliação, Sophus tomou uma decisão que surpreendeu a todos. Ele resolveu ir, pessoalmente, investigar o que propiciava aqueles resultados.
Os assessores reais foram contra. Afinal, como um rei abandonaria a sede do governo para viver entre o povo?
Nada nem ninguém o demoveu. Comunicou a sua esposa que viveria um tempo em cada local, de modo anônimo, buscando por aquela resposta que não permitia que a paz encontrasse morada em seu coração.
E assim foi feito.
Dias depois já estava instalado em Caixas Grandes e não pode deixar de sentir um certo orgulho por aquela cidade próspera, bem estruturada e bela.
Ele se sentou em uma praça ultra moderna e se pôs a observar os transeuntes.
Logo avistou uma família voltando para casa. Uma alegre criança pulou do carro quando a porta se abriu, correndo em direção ao porta-malas. Claro, uma caixa gigante estava ali guardada. Os pacotes de presentes quase caiam para fora da caixa, tamanha a quantidade!
Sophus sorriu ao ver toda aquela agitação feliz e viu o IF da casa subir consideravelmente. Fez suas anotações e seguiu observando. O fenômeno se repetiu outras vezes em outras casas. Ele ficou satisfeito em ver como as crianças eram bem tratadas e como ganhavam caixas grandes de seus pais!
Dias depois, fato curioso chamou sua atenção naquelas mesmas casas que presenciara o aumento de IF, o medidor acusava um declínio de valores. Ele logo pensou: “ Bingo! São estes medidores que estão com problema! Decifrei a charada!”.
Imediatamente comunicou-se com a sede do reino e ordenou uma calibragem nos medidores, manutenção nas redes de envio e recepção de dados e… nada foi encontrado de errado.
Ainda, confuso com aquela descoberta que não fazia nenhum sentido para ele, voltou a praça.
E assim, ainda sem compreender, várias vezes presenciou os índices de felicidades subirem ao chegarem as caixas grandes, de presentes, brinquedos, eletrodomésticos, celulares, móveis para depois acompanhar o seu declínio, aparentemente imotivados.
Sentiu compaixão por seu povo: tão organizado, tão comprometido, tão trabalhador! Os pais saiam cedo de casa e só voltam a noite, buscando os melhores condições de vida aos seus filhos! Buscavam condições financeiras para propiciarem as melhores e maiores caixas que seus filhos fossem felizes!
Mesmo desanimado, resolveu concluir a tarefa autoproposta e seguiu para Pequenos Mimos.
Após algumas horas de viagem, estava hospedado em singela pousada, próxima a uma praça cercada de moradias pequenas e aconchegantes.
Ainda taciturno, com as dúvidas acerca do sucesso da tarefa que deseja concluir, viu um fato que começou a clarear suas ideias.
Um pequeno carro estacionou em uma das casas. O veículo nem havia sido desligado quando um menino saiu porta afora gritando: “Paiiiiiiiiiiiiiii!!! Você já chegou do trabalho? “ O pai desceu do carro anunciando: “Vim mais cedo te fazer uma surpresa filho! Bora andar de bike?”. E sob os olhos pasmos de Sophus, o medidor de IF subiuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu muitooooooooooo!
Do outro lado da praça, uma senhora saiu de sua casa carregando singelo prato, coberto com alvo pano branco. Dirigindo-se a casa da vizinha, tocou a campainha e entregou o prato. Conversaram, riram. Depois de um tempo, abraçaram-se e ele, maravilhado, viu o medidor subir em ambas as residências.
E não foram poucas as vezes que Sophus viu o IF daquele povo subir: quando amigos chegavam para jantar, quando o carteiro entregou uma carta, quando a primeira flor brotou no jardim, quando as crianças brincavam na areia, quando a banda desfilou na rua, no campeonato de pipa, nos picnics dos parques, no jogo de bola na quadra, quando os filhos levavam os netos para visitarem os avôs…
E, com lágrimas nos olhos, profundamente agradecido, compreendeu…
Levantou-se, andou até encontrar uma floricultura. Escolheu o mais lindo buquê e solicitou que o enviassem a esposa. E célere, tratou de voltar para casa. Afinal, agora não tinha mais TEMPO para perder! Descobrira que o melhor presente, não vem em caixas grandes! O melhor presente é o tempo que passamos com quem amamos e os pequenos mimos que a vida nos propicia.
Por Dani Lourenço