Sempre nos perguntam: “Como vocês foram parar na Itália?”, “O que faziam lá?”, “Trabalharam/estudaram lá?”, “Quanto tempo ficaram por lá?”, “Viajaram muito pela Europa?” Então vamos começar do começo essa história…
Nos casamos em 1997, ambos com 25 anos e formados em Administração de Empresas e com pós-graduação, eu em Marketing e o André em Auditoria Contábil. Eu trabalhava como Coordenadora de Marketing de uma multinacional (Hettich) e o André trabalhava em uma empresa de centrais telefônicas, mas a situação não estava boa.
André jogou, por muitos anos, futsal em Curitiba. Um grande amigo dele (Flavinho), continuava jogando, só que agora na Itália, depois de ter passado pela Espanha e por Portugal. Flavinho sabia que o André era descendente de italianos e que as coisas não andavam muito boas por aqui. O time, OXS Jesi, procurava jogadores brasileiros, mas com cidadania italiana, já que naquela época (1999), em cada time de futsal na Itália, podia ter no máximo 2 estrangeiros.
A decisão de irmos morar fora não foi fácil de ser tomada. Eu tinha um bom emprego, boas perspectivas, tínhamos um apartamento novinho, recém montado, carros, independência financeira, famílias e amigos que teríamos que deixar. Depois de noites em claro, muitas lágrimas, orações, conversas avaliando prós e contras, decidimos que íamos aceitar a oportunidade e ir para Itália.
O time foi atrás de toda documentação, cartórios, registros, certidões e parte burocrática. André embarcou em outubro/1999 e eu fiquei no Brasil para me desligar da empresa, vender o meu carro, alugar e esvaziar o apartamento. Em um tempo recorde (menos de 2 meses), André conseguiu o passaporte italiano e em dezembro/1999, após 7 anos sem jogar pra valer, ele voltava as quadras. Só que agora, na Liga Oficial da série A da Itália, OXS Jesi.
A OXS era o patrocinador do time, uma indústria de sapatos http://www.oxs.it Jesi é uma pequena cidade na província de Ancona, região de Marche, costa do Mar Adriático. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jesi.
Eu fui de mudança para Itália em janeiro de 2000. Chegando lá, moramos por um tempo na casa do Flavinho até encontrarmos um apartamento para nós. Depois, nos mudamos para um apartamento na parte nova da cidade. Nossa nova vida era simples e desprovida de muitos confortos que estávamos acostumados. Não tínhamos TV, carro, telefone, computador, ou maquina de lavar roupa. O colchão da nossa cama era horrível, devia ser da época da 1ª. Guerra mundial!. Aos poucos, conseguimos emprestado uma TV, uma bicicleta, o que foi uma grande conquista para nós.
Nossa temporada morando na Itália foi de 1999-2001, conforme havíamos previsto inicialmente. Dois anos morando fora e depois retornaríamos para o Brasil. No segundo ano por lá, as coisas ficaram menos difíceis. O apartamento que morávamos era melhor, apesar de se assemelhar a um cortiço pelo lado externo. Tínhamos 2 TV`s, computador, telefone, celular, máquina de lavar roupa e podíamos usar o furgão do time para nos locomover.
O André fez um curso de contabilidade comercial por lá. Eu fiz um curso de culinária.
Ambos trabalhamos em serviços de mão de obra. Nunca conseguimos nada em nossas áreas de formação. Trabalhamos na montagem (linha de produção) de vaporetos, colheita de uva para produção de vinho verdicchio (tradicional vinho branco da região). Andre trabalhou numa fábrica de caixa de papelão e eu empacotando lenços umedecidos.
Nossos custos fixos (água/luz/gás/parte da alimentação) eram pagos pelo time. Com o salário do André, complementávamos as compras do supermercado e economizávamos cada mísero centavo. Não gastávamos com nada extra. Não saíamos e nossa diversão se restringia a encontrar amigos brasileiros do time (sim, metade do time era de ítalo-brasileiros) e brasileiros, na verdade brasileiras, que moravam por lá.
Morar em um outro país é sempre uma boa experiência de vida e de cultura. Mas visitar a Itália, fazendo turismo é muito diferente de viver por lá. A latinidade que une Brasil e Itália, também explicita o lado negativo dessa antiga cultura. Burocracia extrema, lerdeza do sistema, horários restritos eram algumas coisas que me irritavam lá. Óbvio que existiam outras tantas coisas me encantavam, a começar pela gastronomia…
Todo dinheiro economizado era investido em viagens. Nos finais de semana, normalmente o André jogava no campeonato, mas em algumas oportunidades de feriados, conseguíamos dar uma escapada. Mas nas férias, que começavam maio/junho e iam até agosto, aí sim, viajávamos longamente.
Nossas viagens eram ao estilo mochilão, trem e hostel – na maioria das vezes. Uma das primeiras viagens que realizamos dentro da Europa, foi para Espanha, Marrocos (Tanger) e Portugal.
Em outra oportunidade, no auge do verão europeu, fomos à Escandinávia (Suécia, Dinamarca e Noruega), onde a temperatura média foi de 16 graus! Lá, viajamos de trem, navio, ferry e ônibus. Trem era muito, muito caro por lá.
No carnaval de 2000, passamos o aniversário do Andre (08/03) em Veneza. Um dia lindo de céu azul e com um leve frio de inverno enfeitava aquela silenciosa festa de máscaras e fantasias belíssimas.
Num feriado de Páscoa, o time OXS Jesi, participou de um campeonato na Bósnia. Como era um feriado mais longo e uma data especial, as esposas puderam acompanhar o time. Jesi é pertinho de Ancona, porto de onde saem muitos navios comerciais e mercantis. Atravessamos o Mar Adriático e chegamos em Split, na Croácia. De lá fomos de ônibus para Bósnia. Havíamos lido no nosso guia “Let`s Go Europe”, que a Bósnia não era um país recomendado pela ONU, devido as recentes guerras. Era para se ter muito cuidado com minas terrestres. Vimos muitas casas bombardeadas, carros destruídos. Em contraponto, havia muitas Mercedes e casas com “puxadinhos” recém construídos. O pessoal do time local, nos falou que muitos bósnios iam para Alemanha trabalhar e como símbolo de status, na voltam compravam carros e faziam reformas nas casas.
No Natal de 2000, ano do Jubileu da Igreja Católica, meus pais e irmã, foram nos visitar. Passamos com eles o Natal em Roma, com direito a assistir a Missa do Galo (sob chuva). Depois, de Bologna, pegamos vôo para Istambul. Nosso réveillon foi no Bósforo com direito a um, sim apenas um, fogo de artifício (sem plural mesmo), já que eles não comemoram novo ano no dia 31/12. Depois eles ficaram alguns dias conosco em Jesi e conhecendo a região.
Aproveitamos um feriado no final de outubro e fomos com os brasileiros do time, de van até Munich, passando por Innsbruck. Foi uma viagem muito divertida e de muitas risadas!
Em uma super promoção da Rynair, num fim de semana prolongado, fomos para Londres. Foi nossa primeira experiência em uma companhia extremamente low cost. O ticket de trem do aeroporto para o centro da cidade (vendidos pelas comissárias dentro do avião), saiu mais caro que a passagem aérea.
Fomos à Grécia também no final de maio. Temporada de verão começando e as praias não estavam extremamente cheias, o que foi ótimo. A Grécia é um país maravilhoso, lindo com um mar absolutamente deslumbrante. Voltaria para lá, milhões de outras vezes.
Logo depois dessa viagem para Grécia, emendamos uma viagem de carro por mais de um mês pela Europa Central, junto com um primo do André. Fomos à França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suíça, Áustria, norte da Itália. Depois Jesi e retorno definitivo ao Brasil.
Assim encerramos uma fase de nossa vida e começamos outra. Essas viagens e outras, terão posts específicos posteriormente. Fiquem de olho.
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Por Mariane Werneck Botelho
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