(crédito: Visual Hunt)| Foto:

Desde que a moda é moda, alguém influencia e outro alguém é influenciado. Na Idade Média, os modelos desfilados pela nobreza passaram a ser copiados pela burguesia, uma classe social emergente que começava a ter acesso a bens de consumo antes inacessíveis e inspirar-se nas referências culturais dos nobres.

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Nos anos 20, o cinema tornou-se um grande influenciador de comportamento e, consequentemente, de moda. Por isso, os Estados Unidos, um grande centro produtor de filmes, tornou-se referência de moda através de suas principais atrizes. A androgenia adotada nos anos anteriores começou a perder espaço para os visuais femininos de mulheres como Greta Garbo e Marlene Dietrich, e “toques sedosos, brilhos e silhueta marcada foram a ordem da década”*. Depois das atrizes, foi a vez dos estilistas influenciarem o modo de vestir quando, nos anos 50, nomes como Christian Dior e Hubert de Givenchy ditavam estilos através de suas criações.

Além de classes sociais, uma personalidade ou um criador de moda, fatos históricos também converteram-se em referência para a moda. Nos anos 60, a conquista espacial inspirou o uso de materiais inusitados na construção de roupas e acessórios com estética futurista. Ao mesmo tempo, esse espírito de mudança e liberdade colocou a juventude como foco e inspiração nas décadas seguintes, trazendo para a moda itens como a calça jeans e peças customizadas com detalhes artesanais e interferências, utilizadas pelos movimentos hippie e punk, por exemplo, para comunicar suas ideias.

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Independentemente de quem e como a influência virou roupa, a história da moda mostra que o contexto social e o comportamento são traduzidos no que uma geração veste; e que as referências para a construção de um estilo podem estar em variadas fontes. Em 2017, quem te influencia? E, mais importante, por que te influencia? O que seu influencer comunica, e por que você inspira-se nele?

Não são poucas as conversas sobre estilo, seja informalmente ou quando presto consultoria, em que blogueiras e digital influencers aparecem no topo da lista de inspirações. Que essas “web celebridades” representam, de alguma forma, nossa época, é inegável; porém, de modo geral, suas redes sociais são vitrines 99% patrocinadas e, por ganharem com isso, elas tornaram-se “manequins” que trocam completamente de estilo, forma e referências todos os dias sem a preocupação de trazer consigo mensagens sólidas. O resultado são muitos seguidores vestindo o que não lhes cabe (e aqui não falo apenas sobre formas, mas também estilo de vida), sem questionar o motivo pelo qual escolheu essa roupa e, principalmente, essa influência.

A indústria da moda pede socorro. E os principais agentes dessa transformação são os consumidores. “Para o bem de todos e felicidade geral da nação”, mudar os hábitos de consumo é necessário; e isso só acontece quando ativamos nosso senso crítico e passamos a questionar o que, como e por que compramos. O que quero dizer com isso tudo é que tentar acompanhar looks que mudam todo o dia da cabeça aos pés impulsiona o consumo desenfreado, alimenta um sistema nada ético e não contribui para um estilo coerente com o que somos e vivemos.

Olhe para si e para quem te influencia. Analise se isso tudo faz sentido no seu dia a dia. Um painel de visuais patrocinados não é, e nunca será, uma boa referência de estilo. Busque influências, do passado ou do presente, que tragam uma imagem consistente e que digam, através de suas roupas, discursos e estilo de vida, algo com o que se identifica. Acompanhe verdadeiros ícones, mulheres que marcaram suas décadas, como Jackie O. e Twiggy Lawson, e personalidades que são fiéis ao seu estilo e repetem (muita) roupa, como Taylor Swift, que traz referências retrô em visuais coloridos e com seu toque pessoal, ou Consuelo Blocker, uma ótima representante da moda de agora, sempre atualizada e sem afetações.  Descubra, na arte e na arquitetura que aprecia, o tipo de estampa que lhe atrai, as formas que lhe dizem algo.

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Talvez o excesso de informação tenha confundido moda e consumo, transformando, erroneamente, post patrocinado em referência de estilo. O resultado é um monte de sacolas que não conversam nem entre si nem com quem veste. Em semana de Fashion Revoluiton, repense: quem, e por que, te influencia?

+ | Recentemente o programa Esquadrão da Moda mostrou uma participante consumidora de blogs de moda, e como a falta de filtro e cuidado ao absorver o que vemos pode resultar em visuais equivocados. O programa está disponível na íntegra no YouTube do Esquadrão da Moda.

*Dica de leitura: o livro História da Moda: uma narrativa, de João Braga.