Danilo Albert Ambrosio, 30 anos, mais conhecido pelo nome artístico Rincon Sapiência ou
Manicongo, é um rapper brasileiro que transpira elegância.

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Artista da música independente iniciou sua carreira em 2000, com muita representatividade
visual e composições originais, versos inteligentes e relatos de suas experiências vividas na
periferia de São Paulo. O single “Elegância”, em 2009, proporcionou sucesso e impacto visual
sobre Rincon Sapiência.

Pagar pouco pelas roupas, incluindo muitas aquisições em brechós, Sapiência acredita que
elegância não tem a ver com dinheiro. Através de uma vaidade saudável, ele tem balançado as
cores de suas vestimentas, combinando preto, amarelo, verde e vermelho.

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Agora em 2016, no dia da abolição da escravatura, o rapper estreou seu single e videoclipe, “A Coisa tá Preta”, o clipe revela a essência da música ao exaltar a negritude e ao tratar uma
expressão historicamente utilizada em tom discriminatório de maneira inédita e positiva.
Em clima de festa, um time de dançarinos e figurantes cuidadosamente selecionados representa
a diversidade da beleza negra no clipe. Os figurinos elegantes, com roupas, acessórios e
maquiagem tribais, compõem um conjunto que remete, ao mesmo tempo, desde sua
ancestralidade até chegar ao afrofuturismo. Somados a musicalidade e a dança, os elementos
visuais expressam uma diversidade de cores e texturas que evidenciam o espírito do hit. Uma
produção que promete tomar as pistas com orgulho da atitude negra.

Publicado em 22 de junho de 2016, uma curta e potente produção, relata em aproximadamente
um minuto o que ele define como moda, e que a partir de seu comportamento muitos outros
artistas criam tendências. “Consciente ou inconsciente as pessoas sentem a necessidade de
apresentar e representar”. Rincon Sapiência ainda cita que o primeiro impacto que ele gera ao
ser visto em público é sempre o seu visual, essa representação de africanidade, para ele é a sua
moda que ele define como “um reflexo exterior do meu interior”.

Rincon Sâpiencia me concedeu uma breve entrevista nesta semana, para nos trazer mais
entendimento sobre a atitude de moda, o seu visual e seu trabalho no cenário do Hip
Hop nacional.

Hoje, no rap mundial, inúmeros artistas se destacam pelo seu modo de vestir,
muitos rappers são excêntricos e únicos no quesito moda, o que você leva
em consideração na hora de escolher suas peças de roupas?

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Eu penso muito que aquilo que visto deve ser representativo do
momento que estou vivendo artisticamente. Atualmente, tenho trazido um lance de
blues e rock no meu som, estilos que se refletem nas roupas que eu uso, como
variedades de jeans e também peças no estilo retrô. Mas também gosto da modernidade
dos sintetizadores, o que esteticamente já me remete às cores e à psicodelia, além de
cero modo isso refletir um signo musical que há muito tempo é presente no meu
trabalho, a africanidade. Então eu acabo trazendo para o meu figurino elementos
representativos da moda africana, como colares, batas, cores quentes, estampas étnicas,
nudes, tons de bege e de marrom. Enfim, o meu momento na música é um dos
principais fatores que definem o que eu vou vestir.

As referências africanas, étnicas, cores são notórias em seus looks. Referências
que foram fortes nos anos 80 e vimos também diversos artistas aderindo. Acredito
que para você estas referências têm um significado muito mais cultural, expressão
e sentimento, do que uma moda usual. A partir de quando começou a
evidenciar essas características em seu visual? No vídeo, você comenta que muitas vezes perguntam se é africano…

Eu aderi a esse estilo que remete à África já faz muito tempo,
levando em conta que o continente africano tem várias faces, o que significa uma
diversidade no modo de se vestir de cada uma. Se você encontrar um imigrante
nigeriano, mesmo sem aquelas roupas caricatas africanas você já o reconhece como
africano, pela forma de combinar as peças, as cores, as roupas não muito largas. Uma
característica forte do rap nos anos 90 e 2000 são as roupas largas. Então, eu com as
minhas calças um pouco mais justas, cores quentes, camisas estilo polo, entre outras
peças menos comuns, já trazia um questionamento sobre a minha origem na própria
cena do rap quando ainda não se usava muito isso. Mas, de fato, com o passar do tempo,
eu passei a evidenciar mais isso tanto nas letras, quanto no visual. Então eu diria que
tem um significado cultural, mas também sempre foi um estilo usual do meu cotidiano.

“Elegância não tem a ver com dinheiro”, é o que você nos relata no single de
2009 Elegância. O que ser elegante para você?

Ao meu ver, elegância é a classe e a presença que você impõe a partir da combinação de roupas, tem a ver também com a postura, e de fato, não tem ligação direta com o dinheiro. Comecei a comprar roupas em brechó pela necessidade de renovar minhas peças de frio, passei a comprar blazers, suéteres, calças de sarja, pulôveres, e quando percebi estava bem apresentado esteticamente e pagando muito pouco por visuais elegantes. Eu investia parte da grana que ganhava fazendo oficinas de MC e de poesia no Jardim Fontalis, extremo norte de São Paulo, no que encontrava nos muitos brechós que existem naquela região e que funcionam nos próprios cômodos das casas e em bazares de igreja. Foi assim, por lá, que eu comecei a renovar o meu guarda roupas pagando muito pouco por peças que não se encontram nas vitrines. Foi ali que
rolou o estalo que me mostrou que elegância não tem a ver com grana. Eu misturava aquelas peças de tiozinho com o meu estilo urbano, mistura que deu origem a esse meu estilo próprio e me rendeu renome como o rimador elegante. No vídeo que eu falo da minha visão sobre a moda, por exemplo, eu visto um blazer vermelho importado, um dos meus achados baratíssimos de brechó, combinado com peças mais urbanas, compondo um visual autêntico e elegante, que são marcas da minha figura artística.

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No hiphop mundial, inúmeros artistas, desempenharam outras atividades sob a
influência da música. Alguns criaram marcas próprias, desenharam linhas de
marcas de tênis, roupas, fizeram participações em desfiles e produções de moda,
sempre causando grande impacto e representatividade para cultura. Que tipo de
ligação você acredita existir entre Hip Hop e Empreendedorismo?

O hip hop está nas ruas, conversando com as pessoas, vivenciando
e analisando o comportamento delas. Então, o sujeito envolvido com essa cultura tem
um relacionamento direto com o povo e com a arte, ou seja, ele é peça importante
quando se trata de design, moda e estilo. O hip hop surgiu do “faça você mesmo” numa
época em que ainda não haviam galerias para expor o graffiti, nem lugares destinados às
manifestações de outros elementos dessa cultura, como o breakdance e o próprio rap
como música. Assim, a rua era o espaço de expressão e de difusão da nossa arte,
aproveitando suportes como os muros e os trens para o graffiti, o espaço das ruas para
dançar e para montar as caixas de som, onde ligávamos o microfone e dávamos o nosso
papo. Por isso, vejo o hip hop desde os seus primórdios como uma cultura e um
movimento naturalmente empreendedores. Com a evolução das coisas, hoje temos esse
tipo de empreendedorismo num outro patamar, o que por sinal me interessa muito.
Tenho uma grife chamada Kitmani, mas ainda não a lancei oficialmente, pois pretendo
fazer isso da forma mais profissional e organizada possível. Por enquanto, só eu visto
algumas peças dessa minha grife, com estampas que eu mesmo desenhei. Mas,
pensando em coleções e numa produção em série para o público, em me dedicar mais a
esse empreendimento, eu acredito que só vou conseguir depois que lançar o meu disco,
que é a minha prioridade no momento.

Você é visto por seus fãs e admiradores por saber trabalhar muito bem suas
rimas, falar com ênfase para descrever assuntos atuais e muitas vezes polêmicos.
Quais as dicas que você gostaria de deixar para os iniciantes na cultura Hip Hop
para que com suas dicas os novos adeptos possam se diferenciar
profissionalmente?

É necessário saber que existem muitos Mc’s tentando ocupar o seu
espaço no rap, mas o lance não é ser o melhor e nem o pior, o lance é ser único. Para
isso, é preciso ter o seu estilo, a sua levada, a sua leitura, a sua história, o seu bairro,
elementos que traduzam a sua imagem como Mc. Quanto mais verdade e autenticidade
for colocada na sua arte, maiores são as chances de chamar a atenção de quem a ouve.
Acredito que duas boas dicas são não ousar de forma forçada e, ao mesmo tempo, não
ter medo de ousar. O resto o universo move.

Agradeço ao Rincon Sapiência, o rapper mais elegante da cena do Hip Hop, preocupado com sua arte de representar e apresentar. Um artista que foi desde o meu primeiro contato muito atencioso, solicito e envolvido para fortalecer a cultura e nos dar uma aula de bom gosto e refinamento. À Mariane Bergel, sua assessora, que se colocou inteiramente a disposição, foi claramente envolvida pelo artigo, e sabe a importância da matéria para compartilhar, essa representatividade que tem Rincon Sapiência.
É com vocês e pessoas como vocês que a cena se fortalece, a cultura enobrece e é contada de forma coerente, criando cada vez mais meios para que muito mais pessoas entendam, gostem e compartilhem a ideia da cultura Hip Hop.

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