Quando nascemos, principalmente nós, mulheres, somos colocadas dentro de uma caixa. Essa caixa dura tem apenas um molde padrão, e aquela que não se encaixa no molde tem que se adaptar (sob o risco de represálias) . E é nessa adaptação que somos ensinadas erroneamente a nos transformar, a fim de nos ajustar a esse molde independente de seu preço.
A ditadura do cabelo liso é uma construção social, uma das inúmeras caixas em que somos colocadas durante a vida. Influenciadas por estereótipos impostos, crescemos tendo a Barbie (até bem pouco tempo a boneca não possuía tantas variações de etnias e estilos) loira e lisa como referencial de beleza. E quem não cabe na caixa molde dela sofre com questionamentos, palpites, “conselhos”, olhares tortos e até discriminação.
Ensinadas que nossos cachos são feras a serem domadas, que precisam de controle por sua rebeldia (fala sério, você já repensou o termo “cabelos rebeldes’”? O cabelo se rebela do que?! Rebeldia: ato de rebelarse, não conformidade, reação). Muitas de nós se tornam dependentes de alisamentos/progressivas/chapinha por pressões externas da sociedade, companheiro e até mesmo da família.
O cabelo faz parte da construção da sua identidade, por isso esse processo de aceitação dos cachos não é apenas estético, ele faz parte da aceitação das suas raízes, dessa mistura de etnias que faz parte do histórico cultural de nós e de nosso país.
Assumir os cachos é muito mais que uma mudança no visual, é aceitar a si mesma e suas características. Cada cabelo cacheado é um universo próprio, ímpar, assim como nós.
Tire suas caixas, ame seus cachos.
Nota: esse texto não tem como finalidade criticar mulheres adeptas de alisamentos. Meu intuito é de incentivar o amor próprio, a exaltação das nossas características naturais. Independente do penteado, que possamos nos aceitar, e não mudar por pressão externa. E que nossas decisões sobre nossas madeixas, sejam resultado unicamente do nosso gosto pessoal. Eu, aliás, abandonei a progressiva. Fui usuária convicta por alguns anos, amava. Fazia sempre se pudesse. Seis meses sem fazer e sem previsão de volta.