Vivemos numa sociedade ditatorial de padrões pré-estabelecidos que objetivam única e exclusivamente a consonância com os dogmas e paradigmas ditados e informados pelo poder dominante como a receita correta para ‘ser feliz’. Para ser feliz eu tenho que pertencer a alguma tribo, seja da lourinha, do tablet da moda, do esporte mais radical etc., ou o que está sendo ditado como moda na novela de maior audiência – o sapato, o perfume, a roupa. Enfim, meu modo de ser deve estar relacionado a algo ou alguém famoso para que eu seja aceito como ‘antenado/moderno’. E assim caminhamos… sem questionar se é isto mesmo que queremos para nossas vidas, se isto é o melhor para mim, se tenho mesmo que ser um símio amestrado para me ‘realizar’.
Usam nosso cérebro e nosso poder pensante como se fossem um esgoto, onde os desejos podres de um poder alienante fazem sua morada, sem nem ao menos nos pagarem aluguel. Muito pelo contrário, ainda acreditamos que somos eternos devedores e pagamos um preço alto com nossas depressões, angústias, ansiedades, agressividade, baixa autoestima, distúrbios alimentares (bulimia, anorexia) etc.
Esvaziam o ser, oferecem maravilhas, ditam comportamentos e nós, pobres mortais desatentos, acabamos por outorgar a eles o leme de nossa vida, esvaziando-a de valores éticos e morais, e estimulando com isso a inveja e sentimentos autodepreciativos. Resta um ‘vazio’…e o que acaba por preenchê-lo é a tão sofrida angústia existencial.
A mídia doutrina para que a coletividade abstrata ganhe presença e se insurja contra tudo que seja o viver de forma simples, sincera e íntegra. Destroem a integridade do ser. Distorcem a autoestima transformando-a em egoísmo, fazendo uma mutação da espécie humana e tratando como normais estranhas anomalias de um desenvolvimento torto.
Vivemos numa sociedade tal qual uma manada, nos entregando ao desejo do ‘grande outro’ – acreditando que somos os desejantes, mas de nós mesmos nada sabemos, e assim prosseguimos carregando na alma as angústias de nunca conseguir ser o que o outro é ou espera. Angústia existencial. Se nesta busca desenfreada esquecemos que somos os únicos donos de nossas vidas e metas, é porque esquecemos de olhar para dentro de nós mesmos e catar ali os mapas do nosso caminho.
Não podemos culpar os novos tempos, a globalidade, pelos nossos problemas. Na verdade o ser humano nunca resolveu seus problemas, sempre os postergou, transferiu-os no tempo e na geografia, acreditando que os tinha resolvido baseando-se nas aparências. Mudamos somente os acontecimentos, sempre para pior, no entanto esquecemos de mudar os estados do ser. Não sabemos que mudar a realidade somente será possível através da mudança de cada um de per si. Os problemas planetários, as guerras, a pobreza, a criminalidade, os conflitos são sempre os mesmos, mudam somente de lugar e tempo. O homem é o mesmo, é o causador. Na busca frenética do ‘ser e ter’ conforme os ditames da “coleção de verão”, só mudamos a fachada, trocando a coleção de verão pela coleção de inverno… O exterior sempre na moda. O interior… cada vez mais sulcado pelas marcas implacáveis das angústias, das frustrações, das dores. Cada homem é seu próprio feitor, é o causador, é o desencadeador de cada e todo acontecimento.
Não existe líder estatal, espiritual ou de qualquer natureza que não tenha antes de tudo que ser líder de si mesmo, ou seja, alguém que venceu sua batalha interna, que reconhece em si toda e qualquer negatividade, medos, preconceitos e, por conhecê-los, não permite que eles façam parte de sua jornada e de sua atuação no mundo dos acontecimentos. Somente vencendo a si mesmo, o homem sairá da condição de cidadão de segunda classe e passará à condição de poder fazer algo em prol da Humanidade.
Para que isto ocorra há que o homem desencadear uma revolução, revolução individual, em busca da integridade; há que perceber que não faz parte dessa manada, portanto será ele – o ser – o chefe de si mesmo; há que buscar o verdadeiro Deus na própria essência, encontrar essa mágica centelha divina que é inerente a cada ser vivente e que não está nem aquém e nem além, nem acima e nem abaixo – está no interior de cada um de nós; há que arrancar as máscaras impostas pela tirania, deixando de lado a interpretação absolutamente errônea de um ser manhoso e mesquinho, transformado em adulto frágil e dependente de qualquer um ou coisa, que elegeu o mundo como seu chefe. Há que reverter esta posição, ser um guerreiro de si mesmo, vencer as próprias fraquezas e buscar a altivez de ser dono do seu destino.
Somos seres de segunda classe quando acreditamos que os eventos externos é que nos governam, quando depositamos no mundo a culpa de nossos fracassos e permanecemos presos às zonas de conforto que criamos para nós mesmos.
Existe uma história que exemplifica bem.
Certo dia um sábio, de passagem por um campo, encontrou uma família com muitas dificuldades financeiras. Seu sustento era retirado de um único animal que os mantinha, uma vaca – a fonte de renda da família. Vendiam o leite e os derivados na vila. Perguntaram ao sábio o que eles poderiam fazer para melhorar de vida, e ele respondeu – MATEM A VACA – e foi embora. A família ficou revoltada e descrente… como poderiam matar o seu sustento? Tempos se passaram e a vaca morreu por qualquer razão. Frente a este fato todos tiveram que sair em busca de trabalho e vislumbrar novas oportunidades. Com isto, todos mudaram de vida. Eis que o sábio retorna e vê uma condição financeira melhor da família e questiona o que ocorreu. A vaca morreu.
Se matarmos a vaca que mora dentro de nós, descobriremos a galinha dos ovos de ouro que somos nós mesmos – este é o segredo.
Por Pedra Bucci