Fazia tempo que não comia tão bem. E olha que não posso me queixar do que tenho degustado ultimamente, incluindo algumas obras primas de chefs premiados e consagrados. Mas sempre havia um algo a mais a ser feito, pequeno detalhe que fosse e que impedia o estágio de perfeição.
Só que desta vez tudo se encaixou: os sabores, o astral, o ambiente aconchegante, o conjunto todo me proporcionou um almoço como poucos que já usufrui. Foi no Brasiléa Café & Restaurante, simpática casa que funciona no Juvevê e que está comemorando três anos de atividade.
De propriedade do casal Melissa e Fábio Menezes (ela barista e ele chef de cozinha), o Brasiléa nasceu com a proposta de oferecer uma cozinha multicultural. E foi idealizado quando ambos viviam na Austrália, onde, como no Brasil, a sociedade é multicultural e há restaurantes de várias nações. A ideia do casal era oferecer essa diversidade em um único lugar, com preparação de bases totalmente artesanais, em pratos que pudessem ser harmonizados com cervejas de boa qualidade.
Deu certo. Começando pela carta de cervejas, que é mesmo muito boa e variada. São vários rótulos, desde alguns estrangeiros mais badalados até alguns microprodutores nacionais que ganham espaço no mercado. Há também vinhos, mas com uma carta bem reduzida, embora com opções também interessantes.
Mas o que marca mesmo é o cardápio, não só concebido com inspiração, mas principalmente muito bem executado. A cada prato servido é possível sentir o carinho do cozinheiro (Fábio cozinha com a mãe, Elizabete – que cuida das saladas -, e apenas com mais um auxiliar), nos detalhes de apresentação e na manipulação dos alimentos. Os legumes em palito são rigorosamente em palito e as batatas chip são de espessura mínima, quase transparentes de tão delicadas.
Começamos por uma sugestão nova, que está sendo incorporado ao cardápio a partir dessa semana que está por começar: Polvo mediterrâneo (R$ 42). Palavra que havia muito tempo que não comia um polvo assim. Foi o melhor desse ano, com certeza, contrastando com alguns um tanto borrachudos que tenho enfrentado. Macio, muito bem cozido e crocante o suficiente para ter estrutura, sem deixar de ser tenro ou torrar demais. Servido com azeite, sal Maldon e um toque de limão siciliano. E nada mais.
Veio em seguida uma salada que é cortesia da casa para todos os pratos. Das delicadas mãos de dona Elizabete, a Salada Brasiléa, uma convidativa combinação de cores das alfaces roxa e verde, da cenoura, dos tomates e do moyashi.
Como prato principal, duas escolhas. O Salmão Brasiléa vem grelhado, acompanhado de purê de batatas e legumes na manteiga. O garçom – muito atencioso e bem informado sobre os pratos – pergunta o ponto desejado do peixe. Sim, salmão (e atum) também tem ponto. Há quem prefira apenas selado, cru por dentro, mas também os que optam por aquele quase esturricado. O que veio à mesa atendeu exatamente ao pedido: bem grelhado, mas levemente mal passado no meio.
O outro prato escolhido foi criado especialmente para as comemorações do aniversário da casa e – tanto quanto o polvo – nem estava oficialmente no menu. Também vai entrar agora, para ser servido às sextas-feiras. Trata-se do Hoisin Duck (R$ 58), um magret de pato que fica marinando por uma noite no molho hoisin, que é um tempero pronto em forma de pasta, utilizado como base em pratos da culinária chinesa, feito de soja, gergelim, pimenta, batata doce e alho, basicamente. Depois de marinado o peito de pato é grelhado e o molho é reduzido. Chega à mesa acompanhado de finíssimos chips de batata doce, algumas tiras de pepino e alho-poró e folhas de alface. Irrepreensível.
De sobremesa, um bolo que também fez parte das comemorações dos três anos. É quase um brownie, chama-se Mud cake – bolo de lama, em inglês –, tem toda a base de chocolate e é assado lentamente no forno baixo, por duas horas e meia. Pode ser servido tanto com sorvete (ou sorbet, com o de pera combinou muito bem) (R$ 16,50) quanto com creme de chantilly fresco (R$ 12).
O cardápio inclui ainda cinco saladas, incluindo a clássica Caesar Salad de frango, alguns petiscos de entrada, pratos vegetarianos, quatro tipos de peixes, sete de carnes (boi, frango e porco) e alguns pratos especiais para crianças, de acordo com o paladar e as restrições infantis. E ainda tem o Especial do Dia, que são Frango à parmegiana (acompanham arroz e fritas) na segunda, Nasi Goreng (arroz frito indonésio, com camarões, frango, legumes, ovos, amendoim, kecap manis e shoyu) na terça, Saltimbocca alla romana & risoto piemontese (escalopes de mignon, presunto parma e sálvia e risoto de cogumelo paris e açafrão) na quarta, Curry indiano (indian butter chicken, acompanham arroz e Naan Bread) na quinta e a brasileiríssima Moqueca baiana de peixe, camarão e lula (acompanham arroz e farofa de dendê) nas sextas e sábados.
O restaurante fica numa imóvel de esquina e por isso tem dois endereços para a mesma casa. Até pouco tempo atrás funcionava à noite de quinta em diante, mas agora abre somente para o almoço de segunda a sábado – a estrutura é pequena, não dá para dois turnos, alega o casal. No sábado o entorno é meio complicado, por causa da feira-livre na esquina, que gera um pouco de transtorno no trânsito. Mas nada que os bons sabores não compensem.
Funciona como restaurante e também como café, aberto até as 17h para tal fim, com vários tipos e estilos de café, chá e sucos, acompanhados dos sanduíches e salgadinhos.
Vale a visita. Tanto quanto Fábio capricha na cozinha, Melissa é uma hostess muito simpática e receptiva. E a comida, como já relatei acima, é impecável.
Brasiléa Café & Restaurante
Rua Augusto Severo, 300 ou Rua Dr. Goulin, 200, Alto da Glória
Fone: (41) 3359-2000
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