Foi um mergulho de 20 anos. Ali na minha frente, sobre a mesa, aquela mesma batata suíça das primeiras vezes e de sempre. Dos tempos que frequentar o Giuseppe era praticamente uma rotina, a oportunidade de saborear a batata suíça, uma novidade em Curitiba.
O Café Giuseppe era propriedade dos Ghignone e foi inaugurado em 1991 com a proposta de servir petiscos saborosos e reunir pessoas descoladas. Tornou-se imediatamente ponto de encontro e uma referência em boa comida, chope bem tirado e boa companhia. Ah, sim, tinha também uma estante (não era bem estante, mas não sei definir aqui) com jornais e revistas e não era os poucos que lá compareciam para atualizar sua leitura.
Não existe mais há algum tempo e no local funciona o John Bull Café, com sua proposta musical, na proposta de curtir o rock com ar de pub. Pelo menos era o que eu imaginava até dia desses, quando, num evento, reencontrei o Sérgio, que durante anos tinha sido garçom da casa. Inclusive depois da transformação. E ele me disse que as coisas continuavam praticamente como eram antes. As mesmas batatas, alguns dos mesmos garçons e o mesmo cozinheiro, o Didi, que foi o introdutor da batata suíça em Curitiba.
Sim, foi ele, Didi, o responsável pela mania que depois de espalhou pela cidade. Conta que nos primeiros dias do bar ter vindo um cozinheiro do Rio e ensinado o processo. Que ele adaptou e desenvolveu a partir de recheios que marcaram a história da casa, como o de mignon ao molho madeira e catupiry ou o de camarão com catupiry – talvez os dois mais famosos.
Didi tinha como auxiliar um rapaz muito bom de cozinha, Roberto Amorim, que logo aprendeu a fazer as batatas e também se especializou no preparo. Mais que isso, tornou-se a identidade da batata suíça em Curitiba. Roberto Amorim se transformou no Beto Batata, abriu sua própria casa, fez a fama e depois, por ironia desse destino que rege as sociedades, perdeu para o sócio do empreendimento o direito de usar seu próprio nome. Por essas circunstâncias, Beto rebatizou seu estabelecimento no Alto da XV de Aldeia do Beto e seguiu em frente. Lotado, como sempre.
E Didi continuou na mesma cozinha, fazendo as mesmas coisas durante esses anos todos. Depois da dica do garçom fui lá conferir, é claro. E já dei de cara com o Ceará, que cobrou minha ausência de décadas. E vá eu explicar que nem sabia que aquilo existia. Não naquele formato e daquele mesmo jeito de sempre.
Pedimos a batata favorita, de mignon ao molho madeira e catupiry – e o cardápio faz questão de lembrar “Batata suíça (do Giuseppe)”. Veio um pouco diferente, com um pouco do molho espalhado por cima, o que não tinha antes. De resto, tudo igual. Inclusive a tacinha de molho golf, complemento indispensável.
Para beber, dei uma olhada no que havia de disponível e pedi uma Dunkel, que desceu muito bem com o prato e com o frio da noite. E quando já estava quase saindo, cobrei do garçom que nos velhos tempos costumava pedir uma garrafa de vinho. Mas nós temos bons vinhos aqui – respondeu de pronto. E me apresentou uma carta respeitável, concebida pela Zahil, com bons rótulos a preços bem acessíveis.
Bem, preço acessível está em tudo por ali. Tanto que a batata suíça mais cara, a de bacalhau, das grandes, custa R$ 42,50 e pode muito bem ser dividida para dois.
Camarão à Silveirinha
Mas não é só de batata suíça que é feito o cardápio da casa. Há também bons pratos para o almoço, sanduíches diversos e comidinhas de todas as espécies, da Carne de onça à Calabresa acebolada, do Frango aperitivo na mostarda ao Camarão com coco e geleia de pimenta. E um aviso no canto do cardápio diz que no happy hour das terças-feiras tem ostras.
Isso sem contar o lado Café da casa. Sim, não é a toa que se chama John Bull Café, pois oferece também (e isso mais para o pessoal que vai à tarde) vários tipos de cafés – do espresso ao Irish Coffe – e doces e tortas para acompanhá-los.
Mas o que não tem no cardápio e que todos recomendam experimentar é o Camarão à Silveirinha. É refogado, depois vai um ovo estralado em cima e tem mais detalhes que só experimentando para dizer. Fiquei curioso, mas quando me contaram já havia pago a conta. Mas garanto que volto lá para conferir.
Por enquanto fico no agradável embalo de ter voltado no tempo e ter vivido a mesma sensação de prazer de 20 anos atrás. Com a batata suíça do John Bull, do Giuseppe, do Didi, enfim.
John Bull Café
Rua Comendador Araújo, 489 – Centro
Fone: (41) 3222-7408
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