Um ano depois e o Aizu Restaurante está lá, firme, lotado todos os dias, a cumprir sua proposta de servir o melhor da gastronomia japonesa. Os sabores são diferenciados, o preço também, pois, a rigor, não há como dissociar uma coisa de outra. Especialmente nessa área, na qual os produtos importados fazem a base de tudo.
Lembro-me da primeira vez que lá estive, há pouco menos de um ano. Foi impactante. E, agradecido – em nome do bom paladar -, registrei a postagem aqui no blog: Aizu, Curitiba merecia um japonês assim. Uma luz de salvação entre tantos e tantos rodízios a despejar peixes nem tão saborosos assim, nem tão bem cortados assim, nem tão bem combinados assim.
Paga-se o preço, repito. Mas quem não arrisca, de vez em quando, uma excentricidade financeira em nome do prazer do bem comer? São muitos, pelo jeito, pois estive lá dias atrás e o restaurante estava lotado, com todas as mesas ocupadas e os lugares no balcão disputados em fila pelas pessoas que chegavam. Uns torcendo para os outros terminarem logo, como se fosse possível comer rápido em uma casa assim.
Fiquei no balcão, é claro, meu lugar favorito em restaurantes orientais. Frente a frente com os sushimen Billy Tatsushi e Marcos Furtado, olhos nos olhos, acompanhando tudo o que seria preparado para me servir e aos outros, próximos. E dali em diante, escoltado por um belíssimo saquê, me entreguei ao encanto de cada textura, de cada nuance que me chegava.
E tudo começou com uma Bottarga servida sobre um pedaço de folha de bananeira, maçaricada, um toque de azeite e salpicada levemente por flor de sal do Rio Grande do Norte. Incrível, a crosta queimada deu um toque a mais na ova e a simplicidade (menos é mais) construiu um resultado final perfeito.
Em seguida, numa taça alta de Martini, um Tartare de atum gordo com katsuobushi (flocos de peixe seco), wasabi e ovas de massago (capelin). Daqueles de se comer bem devagar, saboreando aos poucos e aproveitando a fusão dos elementos.
O que veio depois parecia uma obra de arte, uma delicada escultura: Polvo com nirá e molho de vinagre e wasabi.
E aí alguém me assoprou: “se gostar, pode pedir ouriço que tem”. Ouriço do mar é para poucos. Os que não apreciam acham repugnante aquela consistência meio pastosa, sei lá o quê mais. Mas é uma iguaria como poucas e não iria dispensar. Lembrei-me até de uma postagem que fiz há dois anos sobre uma criação do chef Flávio Frenkel. Era uma receita de Ceviche de ouriço, inesquecível. Apenas uma referência do que é bom. Aqui vieram as Ovas de ouriço sobre metade de um limão siciliano, apenas com limão e flor de sal. E precisava mais?
E então veio a grande sensação da noite. Não só pelo sabor em si, mas pelo frisson que despertou em todo o restaurante, quando aquelas chamas se dirigiram à minha direção. Sobre uma concha de vieira estavam flamejando ao saquê, Shimeji, vieira, manteiga, shoyu. Impressionou de tal forma, que os vizinhos de balcão pediram em seguida. E dali mais um, outro e quase todos quiseram. E valia mesmo a pena.
Mas, como a satisfação não pode se acomodar, ainda viria mais. Muito mais. E a oferta seguinte chegou em dose dupla, em formato de sushis. Um niguiri de Barriga de salmão chamuscada com raspas de limão siciliano e flor de sal, mais um sushi de Centolla, apenas com flor de sal. E até aí – também em muito que ainda viria pela frente -, nada de shoyu, pois tudo já vinha com seus sabores definidos e qualquer interferência poderia quebrar a magia.
E, como primeiro se come com os olhos, outra bela surpresa. Um niguiri de Lula chilena maçaricada, com trufas e ovas de massago. O detalhe que chamou a atenção foram os cortes na pele da lula, riscada finamente em espaços curtos, que deram a impressão de escamas, graças à ação do maçarico. Junto veio um Djo de salmão com interior de gema de codorna, tudo maçaricado e com azeite trufado, ovas de massago e flor de sal.
Billy e Marquinhos, atentos, mantinham o pique. Enviaram a seguir uma bela dobradinha de niguiris. O primeiro (já conhecido e um dos meus favoritos), a irrepreensível combinação de Atum e foie gras – de se comer de pouquinho, devagarinho, para aproveitar todos os momentos. Junto, Enguia com um naco de abacate que, no visual, dava até impressão de manteiga. Bela combinação. E tudo com um discreto molho teriyaki.
Um belo naco de peixe veio a seguir. Aquecido, uma Merluza negra escoltada por um molho de missoshiro cremoso e atraente. Acompanhando, brócolis e aspargo al dente.
Para encerrar, um lindo e crocante Tempurá de camarão, com molho tempurá e sal negro.
De sobremesa, um trio de uma só vez: Cheesecake de tofu com redução calda vermelha, Brigadeiro de colher de chocolate Callebaut e uma Panna cotta com redução de calda de goiabada, todas com um mirtilo pra enfeitar.
Nem vi o tempo passar, estava em outra dimensão. Feliz da vida por poder contar com um restaurante assim em Curitiba. Eu e todos aqueles ali presentes na casa cheia, que agora não precisam mais ir à São Paulo ou Nova York para comer assim.
Aizu Restaurante
Rua Senador Xavier da Silva, 19 – São Francisco
Fones: (41) 3043-0420 e 3043-0421
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