Durante um bom tempo ficou escondido, no subsolo de um supermercado ali na região do Tarumã. Mas nem assim deixou de ser muito bem frequentado, porque, de boca em boca, a informação se espalhava e os curitibanos descobriam uma autêntica casa de cozinha peruana.
Claro que o carro-chefe sempre foi o ceviche – mais difundido por aqui -, mas o cardápio do Do Peruano – Gastronomia e Cultura é bem extenso, variando conforme o dia e de acordo com os ingredientes disponíveis no mercado. E também pela inspiração do chef e proprietário Fernando Matsushita. Nascido em Lima (capital peruana), morou no Japão e, com isso, assimilou na prática todas as vertentes da fusão entre as duas linhas gastronômicas, muito comuns no Peru e na difusão da comida daquele país pelo mundo.
Há alguns meses o Do Peruano está funcionando em endereço próprio, com maior visibilidade e possibilidade de o chef apresentar seus pratos sem depender do horário do supermercado. A nova casa foi toda ela preparada e finalizada pelo próprio chef, por sua esposa (a brasileira Ilza) e pelas pessoas próximas. E ficou linda, vermelha, bem viva e chamativa, como é a comida ali servida.
Já na entrada os clientes ficam sabendo das atrações do dia e em seguida são recebidos pela simpatia do casal proprietário. Como os preços são bem interessantes, com mais simpatia e bons sabores tudo fica perfeito. É só pedir e aproveitar.
Estive lá dia desses e, como não poderia deixar de ser, fiquei encantado com o que é servido. Não sem antes bebericar um Pisco Sauer, a bebida oficial do Peru (há uma pendenga de reclamação de origem com o Chile, mas enquanto a peruana é um destilado do suco da uva, a chilena é do bagaço, entre outras diferenças).
E começaram a vir os pratos. Primeiro, um Combinado costeño (combinado do mar), com dois pratos em um, o frio e o quente e que custa R$ 35 o pequeno e R$ 55 o grande. A parte fria era o ceviche, que neste caso foi o clássico, a base de todos os ceviches (são 50 e tantos tipos). Irretocável! O prato quente foi a Jalea, que consta de peixes e frutos do mar (variando conforme a época) empanados, com crosta à base de dois tipos de farinha, sendo uma delas a farinha de chunho (uma espécie de batata seca) amido de batata muito parecido com amido de milho ou polvilho. O molho que acompanha é muito comum na gastronomia peruana como escolta de frutos do mar, a Salsa criolla, vinagrete com cebola roxa, coentro e tomate concassé. Muito picante lá no Peru, mas bem menos aqui, de acordo com o paladar do brasileiro.
O segundo prato era de origem chinesa cantonesa, influência muito popularizada no Peru e arraigada após fusão com ingredientes e a cultura locais. Foi o Arroz chaufa (R$ 35), que utiliza técnicas e alguns temperos orientais, somados aos ingredientes peruanos. Pode ser feito de porco assado, meio adocicado, vermelho, com o que os chineses trabalham bem. Com o toque mais contemporâneo, para virar prato peruano entram frutos do mar, que é a base de culinária do país. Mas o tempero é que dá o toque especial. Difícil de perceber tantos ingredientes, pois são mais ou menos 18 (o número varia conforme cada cozinheiro), entre chineses e peruanos. Simples e rápido, precisa técnica muito apurada e muitos anos de prática para a perfeita execução. Leva arroz, ovo, cebolinha, frutos do mar, pimentões ou pimenta em quadradinhos e a personalidade do sabor está nas especiarias como óleo gergelim, canela chinesa, cravo chinês, pau de laranjeira, tausi (um molho de soja fermentado, de sabor bem acentuado), alho e gengibre. O arroz é frito rapidamente, junto com os frutos do mar, para ser servido al dente.
Nas sobremesas, algumas vertentes contemporâneas que entraram no paladar peruano. Uma delas foi Tres leches, um bolo esponjoso que mistura leite condensado, leite integral e leite evaporado. Também veio um Cheesecake, com uma calda feita à base de milho roxo peruano – importado pelo restaurante – e redução com frutas vermelhas. E ainda um Alfajor, que, ao contrário do que muitos pensam, não é origem argentino e, sim, está presente, desde sempre, em todos os países hispânicos da América. O doce tem origem árabe e os espanhóis trouxeram aos países colonizados. Os valores da sobremesa variam entre R$ 4,50 e R$ 12.
O restaurante não funciona às segundas. Abre de terça a domingo para almoço. Quinta, sexta e sábado para almoço e jantar.
Altamente recomendável. Pela comida em si e por tudo o que representa em história e cultura. E pela simpatia dos anfitriões, que, na boa, tornam os pratos ainda mais saborosos.
Do Peruano – Gastronomia e Cultura
Avenida Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, 675 – Cristo Rei
Fone: (41) 3045-6711
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