Não é assim tão simples abrir um restaurante árabe. Não basta ir fazendo uns quibes e umas esfihas e achar que está tudo em ordem, com a tradição implantada aos clientes. Tradição, sim, é um item fundamental para apresentar a rica culinária dos países árabes, cada qual com sua característica, embora possam se apresentar semelhantes no todo.
A falta de maior comprometimento com as origens faz com que alguns desses restaurantes – especialmente aqueles de rodízio – tenham sempre disponíveis os mesmos cardápios hoje, na semana que vem e daqui uns meses. Chega uma hora que enjoa, certo? E é justamente aí que se diferenciam os autênticos em linhagem daqueles apenas comerciais.
Autênticos como dona Asma Ghandour, de 66 anos, responsável pela cozinha do restaurante Baba Ghandour, inaugurado há pouco mais de um ano (setembro/18) e que, desde então, é uma das referências da comida caseira libanesa na cidade. Caseira, sim, porque os pratos do dia a dia da família estão no cardápio da casa, feitos com muito carinho por Asma e sua filha Maha. Ambas, mãe e irmã, se juntaram ao sonho de Abdo Karim Ghandour em ter um restaurante que servisse a comida de seus ancestrais.
Comida de origem comprovada, ao ponto de grande parte dos temperos e insumos vir diretamente do Líbano, para permitir que os pratos sejam feitos aqui exatamente como seriam lá. E a diferença de sabor é agradavelmente perceptível, valorizando cada item proposto no cardápio. O pão caseiro libanês (R$ 1,50) é macio, pronto para combinar com qualquer uma das três pastas, Hommus (de grão-de-bico, temperada com tahine e especiarias, R$ 18), Babaganuch (berinjela assada, tahine e especiarias, R$ 18) ou Coalhada (pasta feita com iogurte natural caseiro, R$ 16) – ou com as três, tanto faz.
Das saladas, Fatuch (folhas verdes, tomate, cebola, pepino, sumak e pão temperado torrado – R$ 18) e Tabule (salada de salsinha, tomate, pepino, trigo e tempero especial – R$ 18) são as mais conhecidas. Mas também, entre os frios, é possível pedir o Quibe cru (R$ 28), de receita exclusiva, feito com carnes selecionadas e manipulado somente na hora do pedido. Até por isso avisam que pode levar até 30 minutos para servir. Mas a espera vale a pena.
Há outros três quibes oferecidos: Quibe de carne frito (recheado com carne, nozes e especiarias – R$ 8) e duas interessantes e raras opções com a massa de batatas, assado (com recheio de carne e especiarias - R$ 10) e frito (recheado com carne temperada e coalhada caseira – R$ 8).
Mas foi nas esfihas que encontrei a experiência mais agradável. Variando o preço entre R$ 6 e R$ 7 cada, tem as tradicionais, abertas ou fechadas, de carne, verdura, queijo, as familiares abertas, na chapa... mas tem uma de Zaatar que mexeu com meu paladar. O zaatar (varia sempre, mas normalmente tem de base tomilho, sumak e gergelim, mas este tem mais alguns ingredientes, como manjerona e alguns tipos diferentes de orégano) me remete à infância, na cada de uma tia querida, Rute, que sempre tinha tal tempero e nós não víamos como chegar a hora do lanche para podermos misturar zaatar e azeite e poder passar o pão. Sublime! E essa combinação de sabores pude sentir exatamente nessa Esfiha de zaatar (R$ 6).
Entre os pratos quentes, a Kafta assada (com batatas e tomates e acompanhando arroz com aletria – R$ 22) e os charutos (de repolho e de couve – R$ 16) se destacam, mas ainda volto lá para provar o Arroz marroquino, que me chamou a atenção – arroz com carne temperada, temperos especiais, coberto com frango e amêndoas (R$ 22).
Como já deve ter sido possível notar, os preços são bem em conta. Isso para o serviço à la carte, pois o Almoço executivo tem um prato especial (que é uma espécie e pot-pourri dos principais itens clássicos do cardápio), também atrai pelo valor: de R$ 19,90 até R$ 34,90, conforme a escolha dos itens – são nove opções de executivo.
Arak catarinense
E se quiser beber algo, há cervejas e chopes e algo muito especial, que remete diretamente ao Líbano: Arak. É a bebida tradicional de lá, feita a partir de destilado de fruta (uva, ameixa, tâmara...), mas com infusão de anis, lembrando um pouco o Pernod (ou Ricard) francês. E, tanto quanto aquele, só que da cor branca, se transforma de transparente a leitoso no contato com gelo ou água. É delicioso e este aqui, em particular, por uma razão a mais: vem “importado” diretamente de... Garuva. Isso aí, exatamente, daqui de pertinho, em Santa Catarina, quase em Guaratuba. O nome é Bartenike e a marca é centenária, desde 1914. Incrível!
O Baba Ghandour funciona para almoço de terça a sexta, das 11h30 às 14h30, e aos sábados e domingos, das 12h às 16h. Durante o jantar, de terça a sábado, das 19h às 23h.
No primeiro sábado de cada mês (sábado que vem, portanto) a casa recebe dançarinas de dança do ventre. Mas também podem ser contratadas para eventos especiais, que o restaurante também faz.
Baba Ghandour
Alameda Dr. Carlos de Carvalho, 1345 – Batel
Fone (41) 3082-0505
=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=
Entre em contato com o blog:
Blog anterior: http://anacreonteos.blogspot.com/
Twitter: http://twitter.com/AnacreonDeTeos
E-mail: a-teos@uol.com.br