Arroz de polvo malandrinho, em receita minimalista, para uma pessoa.| Foto: Anacreon de Téos
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Há tempos vinha pensando nisso. É muito difícil fazer comida para dois... para um, então, é praticamente impossível.

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Não pela execução da receita em si, mas também por isso, pois há medidas que não se encaixam para quantidades tão pequenas. A Rita Lobo (a quem eu muito admiro, pela maneira como cozinha, ensina e pelas posições tomadas) acaba de lançar um livro justamente para tentar facilitar a vida dos solitários, com informações e receitas para bons pratos e ideias para sair da rotina. O livro se chama “Só para um”, é da editora Senac São Paulo, tem 168 páginas e custa em torno de R$ 45 pelo que pesquisei – não, não teve lançamento aqui em Curitiba, infelizmente.

(A receita que vou apresentar não é de lá, mas há outras muito boas para uma só porção.)

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Só para um, o livro de receitas da Rita Lobo para solitários.

A questão principal dos solitários apreciadores de boa comida não é simplesmente fazer, desenvolver, cozinhar as receitas sugeridas. O problema é conseguir utensílios minimalistas e ingredientes idem.

Fazendo parênteses, lembro da rotina da cobertura da Copa da França, em 1988 – onde fiquei praticamente dois meses seguidos baseado em Paris. Estávamos em dois e como a verba não era tão livre assim, eu me propus a cozinhar de vem em sempre (claro que com algumas boas escapadas em restaurantes), pelo prazer de poder utilizar os ingredientes deles por lá. E aí, que facilidade: precisava de um filezinho de, digamos, linguado (sole), ia ao supermercado e lá estava ele, acondicionado na bandejinha, com 200g ou até menos, conforme o gosto do freguês. E isso valia para tudo, chancelando o grande número de pessoas solitárias, que não precisam levar para casa um naco de meio quilo de carne para usar 150g e ser obrigado a congelar o restante.

Porque era assim no Brasil, então. Salmão só se fosse o filé inteiro, fossem quantas pessoas fossem à mesa. Mignon, só a peça inteira, cereais só por quilo, nada de querer apenas 250g ou algo assim.

Melhorou com o tempo, já é possível comprar quantidades menores. Mas aí vem outro problema: utensílios. Encantei-me com umas panelinhas esmaltadas que eram vendidas numa loja bem antiga ali na Rua Presidente Faria, exatamente atrás do prédio histórico da Universidade Federal do Paraná. Comprei duas no ano passado. Por conta do ótimo resultado, voltei lá alguns meses atrás e não achei mais a loja. No local, agora vendem artigos para informática. Perdi. Para onde teria ido essa loja? Alguém sabe ou sabe onde ainda é possível encontrar dessas panelinhas? Sumiram e eu fiquei na mão.

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Porções individuais

Tentáculos de polvo crus. Três bastam para a receita individual.| Foto: Foto: Arquivo

Mas, seja como for, estou conseguindo encontrar boas saídas. Uma forminha mini, aquelas panelinhas, uma forma de furo no meio com metade das dimensões das tradicionais e outra menor ainda. E um aplicativo de regra de três no celular para adaptar as receitas para a porção individual. Na maioria dos casos funciona, o difícil é quando as contas sugerem o fracionamento de uma gema de ovo. Ai, ai, ai!

Quanto aos ingredientes, felizmente, de uns tempos para cá, já há uma abertura compensadora. Quem imaginaria poder chegar na peixaria e pedir dois ou três tentáculos de polvo. Sim, é possível. Pelo menos na Pescados Keli Mozer, ali no Mercado Municipal de Curitiba. Neste fim de semana, por exemplo, deu vontade de comer um arroz de polvo bem ao estilo português. Prato único, eu, eu e eu.

Encontrei o Paulo Mozer ali no caixa – mas tenho certeza que o resultado teria sido o mesmo com o Pablício, o irmão e outro sócio – e pedi, meio baixinho, para o povo em volta não ficar me olhando estranho: dois ou três tentáculos de polvo, conforme o tamanho. Algo em torno de 220g. Vieram três, a R$ 19,80 (o quilo do polvo é R$ 60, mas sendo apenas dos tentáculos vai a R$ 90), preço bom para um prato de sabor e classe.

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Bem, a receita não tinha muitos segredos, embora muita gente ache que cozinhar polvo seja um grande desafio. Para mim, tanto na pressão como na panela normal, sempre funciona. Não iria usar a pressão, claro, para apenas três tentáculos. Fiz na panelinha, com ¼ de cebola cortada em pedaços médios, ¼ de folha de louro e um pinguinho de água. Pingo mesmo, apenas para não grudar no fundo no início do cozimento, pois o polvo solta muita água.

Daí foi só seguir a sequência até dar certo.

Ah, sim, usei arroz Carolino, um arroz português que solta menos amido e é propício para este e outros pratos de lá (como o arroz de tamboril). Costuma ter na rede Festval de supermercados e quando não tem eu reclamo com eles. Mas não é pecado usar o nosso arroz mais tradicional.

A receita que tenho é para cinco pessoas, mas, em homenagem aos demais solitários desejosos de um bom prato de polvo, vai a receita fracionada. Fiz uma conta por alto e cheguei a um resultado final inferior a R$ 25 pelo prato pronto.

Ainda a tempo: a expressão “malandrinho” na cozinha portuguesa significa molhado, com caldo.

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Vamos à receita, então?

Arroz de polvo malandrinho

Ingredientes

250g de tentáculos de polvo

¼ de cebola picada

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¼ de dente de alho picado

¼ de folha de louro

1 ½ colher (sopa) de azeite

75g de arroz

¼ de maço de coentro

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½ tomate, sem pele nem sementes

¼ de copo de vinho branco

Sal e pimenta-do-reino (moída na hora, de preferência)

Preparo

Numa panela cozinhe os tentáculos de polvo, com 2 colheres (sopa) de água e em fogo baixo entre 45 a 50 minutos.

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Depois de cozido, corte em pedacinhos.

Em outra panela, faça o refogado com o azeite, a cebola, os alhos e as folhas de louro.

Deixe refogar um pouco e junte o tomate cortado em cubinhos. Deixe refogar tudo.

Junte o arroz e deixe fritar um pouco.

Junte o vinho, a água que se formou com o cozimento do polvo e aproximadamente 100 ml de água.

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Tempere com sal e pimenta.

Deixe cozinhar 15 minutos.

Adicione o polvo.

Deixe ferver e junte o coentro picado.

Tampe, desligue o fogo e deixe descansar por dois minutos, antes de servir.

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Rendimento: 1 porção.

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