Novidades no Vindouro, na comemoração dos cinco anos da casa. No cardápio e no comando da cozinha – e uma coisa, claro, é interligada à outra.
Não chega a ser uma mudança tão significativa, mas tem lá seu peso. A chef Adriana De Nadai agora é responsável por toda a cozinha do restaurante. Até semanas atrás ela dividia as funções com Giuliano Hahn, ele no almoço e ela no jantar. Agora é tudo com ela, que foi a responsável pela inclusão de novos pratos no já respeitado menu do restaurante do Juvevê.
Entre as novas entradas, uma das recomendações da casa é o Ceviche de peixe branco (R$ 18), que atende a uma tendência de momento do mercado nacional e tem tudo a ver como esses dias ainda quentes de fim de verão. Mas o que escolhemos (curioso e ansioso que sou, estive lá para experimentar) foi outro prato bem verão também, a Seleção de minifolhas com camarão e lichia recheada com cream cheese (R$ 28). As folhas novinhas são muito tenras e a primeira impressão que tive ao morder o camarão foi a de que ele havia sido defumado. Tem um agradável gostinho de fumaça, daí a razão de minha constatação. Mas não. Foi grelhado e depois flambado no conhaque, o que passa o tal sabor. E a lichia recheada é sempre muito saborosa. Bem doce, ela contrasta com o toque salgado do recheio, completando bem o prato (e aí me lembrei com saudades daquela lichia recheada de foie gras, com gelatina de tokaji da chef Roberta Sudbrak, mas já seria outra história).
Dentre os novos pratos principais que levam massa estão o Ragu de vitela com cogumelos frescos e tagliatelle (R$ 35) e o Ravioloni de muçarela de búfala com tomate, manjericão e pecorino (R$ 39). Entre as opções de frutos do mar, Risoto de camarão com manga (R$ 55), Bacalhau com crosta, batatas ao murro e échalotes caramelizadas (R$ 79), e Côngrio com crosta de pistache e trio de batatas (R$ 49).
E, antes que alguém me pergunte, não houve alterações nos cardápios de carnes.
Nossa escolha foi bem distinta (e mesmo assim o sommelier conseguiu encontrar um belo vinho português capaz de harmonizar com os dois pratos), uma vitela e um bacalhau. Gosto muito de vitelo, mas, ao contrário do que ocorre na Europa, onde é difundido e encontrado em todos os restaurantes, por aqui são poucos os que ousam incluí-lo em seus cardápios. Por conta do puro preconceito das pessoas, que costumam ter “pena do bebezinho”, assim como dos coelhos (e alguns até dos cordeiros), vistos mais como animais de estimação.
Então, quando um restaurante de propõe a servir vitelo deve ser sempre comemorado pelos comensais, pois se trata de uma carne muito delicada, de sabor leve e que não requer muitas elucubrações na execução. Basta ter boa mão e bom senso. Como o da chef Adriana, que serve o dela em pedaços, cozidos lentamente, com o toque de suavidade dos cogumelos frescos e da massa al dente. Muito bom.
O bacalhau também estava bem gostoso. A aludida crosta é de pão (integral, foi o que pareceu) e o lombo é bem alto, bem consistente e saboroso. Azeitonas selecionadas e batatas ao murro no ponto, com azeite de oliva. E uma flor de dente-de-leão que é azedinha não é só decoração.
Além de novas entradas e prato principal, o cardápio de sobremesas também ganhou novas sugestões. E nós fomos direto no Zabaione (R$ 15), aquele creme italiano de ovos e vinho Marsala que é uma das paixões em casa. Não era bem isso, embora a descrição do prato fosse de um “levíssimo creme aromatizado com vinho do Porto sobre biscoito de chocolate e pistache”. Certo, vinho do Porto no lugar do Marsala, mas bem pouca gema, quase nada, o que descaracteriza o conceito original da sobremesa (zabaione, em italiano, pode se traduzir por gemada). Estava muito bom, o creme bem suave, o biscoito e os pistaches crocantes, mas não era zabaione. Pelo menos na acepção de sua palavra. Se não fosse querer dar uma de metido eu sugeriria, humildemente, que a sobremesa ganhasse outro nome. Até mesmo para não frustrar possíveis expectativas de outros clientes que também apreciam aquela gemadinha italiana. Porque ela é bem saborosa e vale a pena experimentar.
A outra sobremesa foi uma Taça supreme de abacaxi e coco (R$ 13), bem ao nosso gosto, sem exagero no açúcar e com o bom equilíbrio de sabores entre os dois ingredientes principais do creme. O cardápio ainda oferece como lançamentos, a Limosnera (R$ 15) – frutas secas envoltas em massa filo com calda de baunilha e sorvete de laranja kin-kan, o Le jardin (R$ 19) – bolo regado com calda de laranja sobre terra de nutella, acompanhado de brigadeiro de caramelo e flor de sal – e as Peras thai (R$ 17) – sorbet de limão acompanhado de pera cozida com especiarias.
São bons pratos, que valem a visita. Não fossem também pelos remanescentes do cardápio, possivelmente um dos mais equilibrados de Curitiba. A chef é talentosa e criativa e o Vindouro pode ser considerado um porto seguro na gastronomia da cidade, pois lá nunca tem erro.
Vindouro Bistrô
Rua Guarda-Mor Lustosa (via rápida Centro-Cabral), 129 – Juvevê
Fone: (41) 3027-0700
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