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Cascudinhos. Veio um amigo pescador e me ofereceu alguns. Limpinhos, prontinhos para o consumo. E daí bateu vontade.

Lembrei-me de algumas pescarias com meu pai, no Rio das Cinzas, em Tomazina, e da maneira deliciosa como minha avó Melica preparava aqueles cascudos que trazíamos da corredeira. Sim, da corredeira, pois cascudo não é peixe de se pecar com vara, só vinha na tarrafa. E Tomazina tem um privilégio de ter o trecho, digamos, urbano, do rio, delimitado por duas belas corredeiras. E de tal forma se identificou com os cascudos que tinha uma pastelaria – será que ainda tem? – que vendia pastel de cascudo, uma delícia.

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Dona Melica fazia o cascudo ensopado, como de resto outros peixes de couro, como o insuperável mandi, do qual nunca mais ouvi falar, e que pegávamos, este sim, no anzol. Tinha lá um ritual ao retirá-lo da água, pois tem três ferrões, um dorsal e dois laterais. E o maior orgulho para o pequeno pescador era aprender a quebrar os ferrões para poder tirar o mandi do anzol. Era um estágio vencido, uma colação de grau.

Bem, voltemos aos cascudinhos. Peguei alguns poucos (cozinhar para um é sempre mais complicado) e decidi fazer ensopado, como minha vó fazia. Cortei alguns tomates em rodelas, idem pimentão e cebola, temperei os peixinhos com sal e fiz camadas na panela, alternando peixe, tomate, cebola e pimentão. Dali ao fogo (sem água nem nada, pois os legumes soltam água) por uns dez minutos e o peixe está pronto. Retirei-os da panela, apurei um pouco mais os legumes e daí juntei farinha de milho para fazer um pirão. Ficou uma delícia, voltaram alguns sabores da infância, além da lembrança carinhosa de minha avó e das pescarias com meu pai.

Aí, por conta do bom resultado, decidi compartilhar a boa experiência com aqueles tantos que acompanham esse blog. E fui atrás de algumas informações via WhatsApp (em pleno feriado de Carnaval) com o meu fornecedor. E daí, já na primeira pergunta, veio um grande susto: o cascudinho não era de rio, era de mar. E não era um cascudinho. Era baiacu. Sim, baiacu, aquele peixe feio, que incha feito uma bola e é venenoso.

Sim, venenoso – com alta toxidade, pelo que andei lendo por aí. Aí ele me explicou não ser bem assim. Por aqui, em nossos mares, há dois tipos de baiacu, o arara e o pedra. Este é mais tóxico, mas mesmo assim pode ser consumido desde que devidamente limpo por alguém especializado. O baiacu-arara tem sua vesícula (bolsa de fel) menos tóxica quando estoura, mas, ainda assim, o bom pescador sabe como limpá-lo, preservando somente a carne branquinha e macia. Eles mesmos dizem que quando estoura o máximo que acontece é amargar a carne. Sei lá.

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Mas, de qualquer forma, preparei, cozinhei e comi o tal cascudinho que era baiacu. E sobrevivi. Baiacu-arara, mas com gosto de cascudinho.

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