Um amigo querido iria jantar lá em casa. Companheiro de viagens, parceiro mesmo.
Fiquei pensando no cardápio que poderia ser mais apropriado para recebê-lo, sem fugir muito dos peixes (e frutos do mar), que é o segmento que mais oferece possibilidade de variações. Em todos os sentidos, como entrada ou prato principal.
O prato principal seria um Linguado à Véronique, clássico francês que combina muito bem o suave peixe com uvas brancas e que é uma das referências, por exmeplo, do restaurante Ile de France, em Curitiba. Publiquei essa receita há sete anos, ainda nos tempos do site do Estadinho (que, infelizmente, não abre com as fotos) e ela continua bem atual, delicada e saborosa.
Para entrada pensei primeiro em fazer uma combinação de camarões e abacate. Mas já havia feito várias, alterando uma coisinha aqui, outra ali, todas elas muito saborosas. Que variações haveria? Poderia utilizar um aro, com uma camada de abacate e outra de camarão – nunca tinha feito assim. Aí veio a ideia de defumar o camarão, prontamente rechaçada: “Vai ficar a casa inteira cheirando à fumaça” – foi o que ouvi.
Ok, última forma então. Mas pelo menos já havia um formato definido. Seria no aro. Restava saber como fazer o camarão. Como preparava um caldo de peixe para a base do prato principal, veio a ideia de utilizar parte desse caldo para cozinhar o camarão no vapor dele (caldo). E com um toque a mais: capim-limão. Tem de monte na floreira e dá uma sensação de frescor bem interessante quando utilizado na panela.
Imaginei que poderia também ser assim no vapor e deu certo, muito certo. Cortei dois capins (é assim que se diz, né?) em pedaços pequenos, pus no caldo de peixe e cozinhei o camarão no vapor por alguns minutos – uns cinco, no máximo. Retirei do calor e imediatamente dei um choque térmico, com água fria, para estancar o cozimento. Ficou bem crocante e macio. No ponto exato. Assim que esfriou bem, cortei cada camarão em lascas e reservei.
Pedi no mercado um abacate que fosse maduro, mas ainda firme. O pessoal se bateu para achar, teve gente pulando de banca em banca, mas finalmente um deles estava na medida. Não poderia ser apenas firme se ainda estivesse verde e sem sabor. Nem maduro se fosse mole e se desmanchasse quando montado no aro. Mas consegui aquele, ideal.
Para o camarão, apenas sal e uma discreta pimenta-do-reino moída na hora. Para o abacate, um quase guacamole, com cebola picadinha, pimenta dedo-de-moça (sem sementes), um toque mínimo de limão e sal e umas folhinhas de coentro bem picadas (bem pouquinho, para não tomarem conta do sabor). Quando ia acrescentar o tomate picado, lembrei-me que meu amigo dizia apreciar muito tomates e que nem sempre o produto era valorizado como deveria. Pois que fosse valorizado ali, naquele momento. Em vez de misturar no guacamole, fiz concassé (o tomate em cubinhos, sem peles nem sementes), para formar mais uma camada na montagem.
O resultado final ficou bem interessante, bonito, colorido. Por baixo, o verde do abacate em cubinhos. No meio, as tiras de camarão. E por cima o vermelho vivo dos tomates maduros. Enfeitei com algumas flores de coentro, que vieram junto, no maço. Além de atraente e chamativo, ficou bem gosto.
Que nome tem o prato? Não sei. Pensei e pensei, sem chegar a nenhuma alternativa.
Lembrei-me das dificuldades que os chefs de cozinha têm para definir seus pratos e da tendência atual de alguns, apenas enumerando os ingredientes principais nos menus. E aí, no nosso caso, ficaria como Guacamole, camarões ao vapor de capim limão e tomates concassé. Alguém teria ideia melhor?
Seja como for, valeu pelo sabor. E se você se interessou, pode arriscar que é fácil de fazer.
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