E lá se vão quatro anos. Saborosos e bem vividos. Lembro-me de não poder conter o entusiasmo ao ter a oportunidade de provar pela primeira vez a comida do Aizu (leia aqui), então recém-inaugurado. Era tudo o que Curitiba merecia, já então contaminada pelos inúmeros e insossos rodízios a pegar o cliente pelo preço e pela quantidade, jamais pela qualidade.
O Aizu chegara para preencher uma lacuna aberta com a vulgarização da cozinha japonesa. Especialmente para aqueles aficionados à criatividade dos sushimen, frente a frente no balcão, à espera sempre de uma surpresa melhor que a outra. E o restaurante ganhou o espaço com naturalidade e galhardia, contentando especialmente aqueles que costumavam se deslocar a São Paulo para comer o melhor da cozinha oriental e que passaram a encontrar por aqui um nicho seguro e confiável.
Foi, na ocasião, 2015, um ato de muita coragem dos proprietários da casa, no auge da crise financeira de um governo atrapalhado. Mas a proposta era tão sólida, com uma base tão forte, que atropelou a crise, mesmo apresentando preços teoricamente proibitivos (claro que na comparação com os rodízios populares), mas diretamente proporcionais à qualidade dos itens apresentados em cada escolha.
Era um momento que exigia muito mais inventividade, pois já não era mais possível consumir barbatanas de tubarão, filhotes de enguia, vieiras e mariscos japoneses, que até pouco tempo atrás mexiam com o paladar e a sensibilidade dos apreciadores. Aquele tsunami ocorrido no Japão em 2011, que causou o desastre nuclear da usina de Fukushima, contaminou as águas da região (e estão até hoje comprometidas) e não foi mais possível a importação de tais produtos, conforme determinação da Anvisa.
E inspiração foi justamente o que não faltou à equipe do Aizu desde os primeiros dias. Refletindo no movimento da casa, quase sempre com a lotação em alta, fosse em que momento fosse.
Reforço de ponta
Só que o Aizu de agora tem novidades. E das boas. Com a saída de Régis Shiguematsu – que veio para implantar o restaurante - para dirigir outro empreendimento na cidade, seu lugar hoje é ocupado por uma das referências da cozinha japonesa aqui no Brasil. O chef Marcelo Fukuya já foi co-proprietário de restaurante em São Paulo (Kobayashi), mas brilhou mesmo no balcão do Kinoshita, primeiro compondo a equipe do chef Tsuyoshi Murakami e depois alçando seus próprios voos de competência e concepção, assumindo o lugar dele no balcão.
E de lá, do Kinoshita, foi que veio para cá, para compor com Marcos Furtado (sushiman que está na casa desde a inauguração) a brigada de trás do balcão.
Fukuya já apresenta sua identidade nos componentes do cardápio, mas brilha especialmente nos menus-degustação, que são feitos na hora, na frente do cliente, conforme a sazonalidade dos produtos e a disponibilidade dos pescados. São duas escolhas, a Degustação Aizu tem duas entradas, sashimi, sushi Aizu, um prato quente e uma sobremesa e custa R$ 269. Já a Degustação Aizu Premium é composta de cinco entradas, sushi Aizu, sushi de atum com foie gras, dois pratos quentes e uma sobremesa e sai por R$ 369.
Na minha vez, o festival de sabores começou com um Shot de ostra. Na taça, gema de ovo de codorna, ostra, molho ponzu, ova de salmão, cebolinha e flor de sal. E aí, um gole só e, pronto, estava iniciada a sessão.
Em seguida, Marcelo Fukuya me apresentou Ika uni (lula e ouriço) - finas fatias de lula, cobertas com ouriço, temperadas com shoyu, limão, wasabi e flor de sal, finalizada com alga nori. Um divino sabor da simplicidade. Repetiria algumas vezes.
Terceira etapa: Sunomono, polvo, lichia e flor de mel, tudo tendendo para o resultado adocicado que cativa o paladar.
E se o negócio é surpreender, sardinha. Isso mesmo, a tão desprezada sardinha – que só os portugueses parecem saber valorizar – torna-se grande protagonista, chegando ao balcão marinada, com óleo de gergelim, nabo picante e gengibre e companhia de wakame e ovas de salmão.
O crocante da Ostra milanesa com molho tonkatsu anunciava a passagem para os pratos quentes e o primeiro que veio já foi um deslumbre: Chawanmushi, um dos melhores que já comi. É aquela espécie de pudim salgado de ovos, aqui com dashi no flan, shoyu, saquê, katsuobushi, daí vieira, camarão, shiitake, manteiga trufada, flor de sal e edamame. Sabores e texturas se completando delicadamente.
Para fechar em alta, na noite fria, Sukiyaki – aquele cozido bem condimentado, que leva carnes, verduras, legumes, cogumelos e outros tantos itens. Nesse, do Aizu, ancho Black Angus, shiitake, shimeji, cenoura, acelga, alho-poró, cebolinha, ovo e macarrão udon, com o molho à base de caldo dashi, shoyu e saquê.
Só sei que vale muito a pena estacionar ali naquele balcão e ficar só à espera da inspiração dos sushimen. E a vinda para cá do Fukuya certamente gera expectativa ainda maior, por tudo o que ele representa na linhagem da comida japonesa aqui no Brasil.
E ele, é claro, vai ainda além dessa expectativa.
À la carte
Para os que preferem a praticidade de escolha do cardápio à la carte, estão disponíveis 11 entradas, dentre elas Sashimi com jalapeño e molho ponzu (R$ 51), Salmão selado com trufas e ovo de codorna (R$ 79), Carpaccio de vieira (R$ 99) e Carpaccio de wagyu (R$ 59 ou R$ 118, conforme o tamanho do prato).
Entradas quentes são outras 13, dos Edamame (R$ 26) e Guioza de porco (R$ 24), mais tradicionais, como os cogumelos (shiitake e shimeji) na manteiga, a alguns mais exclusivos, como Kakiaguê de milho (R$ 26) – milho em conserva empanado em massa delicada, com toque de flor de sal -, o Tempurá de shissô com toban djan (R$ 37) – folhas de shissô empanadas, servidas com atum temperadado com pimenta toban djan – e o delicioso Chawanmushi (R$ 28) – o flan de ovos com cogumelo shiitake, camarão, vieira, edamame e toque de trufas.
Os sashimis são servidos com cinco fatias e os preços variam de R$ 47 a R$ 250, dos peixes da estação, peixe branco, atum, salmão e aí crescendo em sabor e expectativa até iguarias como vieira, polvo, centollas e o inigualável Blue fin – “hon maguro” -, o mais nobre dos nobres dos atuns, aí oferecido em três cortes, o akami (a parte mais próxima à espinha dorsal), o chûtoro (a parte intermediária) e o nobre otoro, a barriga, entremeada de gordura que se derreta na boca ao se degustar.
Os sushis mais tradicionais, em duplas, variam de R$ 25 a R$ 52, enquanto as duplas do Aizu style trazem mais personalidade e sabor próprios, ficando entre R$ 35 e R$ 100.
Ainda há makis, temakis e os pratos quentes, como a Cavaquinha grelhada - na manteiga temperada com alcaparras (R$ 69 | 89) -, os Tempurás (de legumes e de camarão) e o Beef Shogayaki – fatias de mignon grelhadas ao molho à base de gengibre, acompanhadas de legumes salteados na manteiga e oniguiri (R$ 68.
Das sobremesas, algumas têm sotaque japonês e outras são das mais tradicionais, conforme o gosto de cada um.
A carta de saquês é impressionante, com opções em taça, lata ou garrafas e até degustação de três diferentes, o que parece ser bem interessante. Também há outras bebidas deles, como o Shochu (destilado de cevada) e o Umeshu (de ameixa).
As harmonizações podem ser com champagnes, mas também há espumantes e cavas. E uma carta de vinhos de respeito, com ótima seleção de rótulos tanto do velho quanto do novo mundo. Perfeito, como tudo se apresenta no Aizu, que consegue se manter em alta nesses quatro anos, apenas a aprimorar o que oferece.
Restaurante Aizu
Rua Senador Xavier da Silva, 19 – São Francisco
Fones: (41) 3043-0420 e 3043-0421
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