Noite dessas, em torno de uma mesa de amigos, veio à tona o assunto: menu-degustação. Ainda é muito polêmico entre os consumidores e até mesmo um jornalista bem conceituado se postava radicalmente contra. Ficar comendo aquelas migalhinhas não mata a fome – argumentava. E, como ele, são muitos que ainda pensam assim.
É a tal teoria do prato cheio, das porções generosas em um só prato para dar impressão de melhor valorizar o custo/benefício. Um restaurante italiano que se estabeleceu por aqui veio com a proposta de tentar fazer com que o curitibano se acostumasse com a entrada, o primeiro prato (massa), o segundo prato (carne) e o prato principal. O objetivo era acirrar a concorrência com outra casa próxima, sempre lotada, e que oferece porções mais do que generosas, servindo bem duas pessoas.
Pois nem mesmo toda a história internacional do tal restaurante italiano resistiu aos gulosos curitibanos. Por mais que ali se explicasse que a soma de todos os pratos (em conteúdo e em valor) praticamente batia com os números do outro restaurante com um prato só. Faltava o volume, aquela abundância, muito creme, muito molho. Porque, basicamente o que ocorria era que o cliente chegava ali e, impressionado pelo preço baixo, pedia um prato só. Vinha só um pouquinho, claro, pois deveria ser complementado por outros pratos para chegar ao conjunto final. Mas vá explicar isso. Resultado: o restaurante aumentou suas porções, quebrando completamente sua linha de ação. Coisas de Curitiba.
Mas, seja como for e apesar da resistência, aos poucos o curitibano vai aprendendo a compreender também essa forma de servir. De minha parte, prefiro mil vezes assim, para ter o prazer de degustar vários pratos diferentes, sentir texturas e sabores distintos a cada nova etapa do percurso do menu-degustação.
É que as pessoas precisam entender que não é uma refeição para ser decidida em meia hora e tudo bem, partir embora de volta pra casa. Trata-se de uma das melhores maneiras de se deixar levar pelo prazer de degustar, prato a prato, porção a porção. E assim, com o passar do tempo, poder sentir a evolução dos sabores proposta pelo cozinheiro.
No Mukeka
Entrei no assunto por conta de uma novidade do Restaurante Mukeka, inaugurado há pouco tempo pelo chef Ivan Lopes (leia aqui) e que agora propõe também – além do cardápio a la carte – um menu-degustação por conta da criatividade e da inspiração do chef, disponível sempre das terças às quintas-feiras. Menu confiance, como propõem os franceses, com base na confiança dos clientes no entusiasmo criador do cozinheiro.
Claro que não é assim, do nada, que os pratos vão saindo para a bancada. Antes há uma conversa entre as partes, verificação a possível restrição a algum alimento ou ingrediente. Feito isso, começa o interessante e intrigante desfile de pratos.
Ivan Lopes aprecia muito a fórmula, pois permite ao chef apresentar o que tem de melhor e da melhor maneira, naquele momento. Tanto que o menu varia a cada dia, conforme os ingredientes frescos disponíveis.
E como a proposta do Mukeka é valorizar a cozinha brasileira, o que chega à mesa antes de tudo é um kit de pimentas em molho, com maior ou menor picância, a serem consumidas de acordo com o pique de cada um. O molho de pimenta dedo-de-moça é o mais picante, mas, em compensação, também o mais saboroso. É só acertar a medida e ir em frente.
O que me veio primeiro (abrindo os trabalhos, como o pessoal anda dizendo por aí) foram uns Espetinhos de queijo coalho com melaço e pimenta biquinho, uma boa pedida para começar. Como essa pimenta não é picante, completa muito bem a combinação do salgado do queijo com o doce do melaço de cana.
Em seguida, um dos campeões de pedidos nesse curto tempo de existência do restaurante: Bolinhos de feijoada. São servidos com o vinagrete da casa, valorizando o sabor. Dois petiscos, como entrada, para atiçarem o apetite.
O primeiro dos pratos foi o Peixe em envelope de taioba, com legumes grelhados na manteiga. A taioba é uma enorme folha comum em nossos jardins e que ultimamente vem sendo redescoberta pelos cozinheiros. Tem um sabor levemente amargo, mas bem interessante. E, nesse caso, foi muito bem com o peixe (tilápia) e com os legumes (pupunha, ervilha-torta, minimilho, cebola e alho) grelhados.
O que veio a seguir me cativou: Bisteca de leitão com geleia de maná-cubiu, lâminas de quiabo e farinha d’água. Porque todos os itens do prato estavam muito apetitosos. A começar pela bisteca, tostada por fora, muito macia por dentro e, melhor ainda, com o couro pururuca de dar gosto. A geleia de maná-cubiu completava na medida do adocicado que a carne de porco exige. Para os que ainda não sabem de que se trata, é um fruto amazônico, levemente ácido, queridinho dos chefs. Tem em Antonina, conforme publicou recentemente aqui o Bom Gourmet. Os quiabos estavam al dente e a farinha d’água dando o toque neutro, a completar o quadro de sabor do prato. Campeão.
Mas não ficou nisso. Chegou, a seguir, uma Paleta de cordeiro com mini arroz. A paleta se desmanchando de boa, por conta do cozimento em baixa temperatura por horas e horas. E o mini arroz (descoberto pelo chef Alex Atala e que está se popularizando entre as demais cozinhas do país) chegou na textura certa, entremeado por alguns legumes, que deram cor e sabor como resultado final.
O último prato foi um Medalhão de carne seca, gema de ovo caipira, creme de pupunha e alho negro e geleia de pimenta. A carne é cozida por várias horas, trocando a água pelo menos cinco vezes, e depois de macia é cortada com um aro para ficar com o formato de um cilindro. A gema é colocada por cima e, aberta, escorre sobre a carne e demais ingredientes do prato, gerando o paladar final bem com jeito de Brasil.
Como também não poderia ser mais brasileira a sobremesa, combinando três frutas distintas e de personalidade. Veio uma Esfera de chocolate com açaí, banana e cupuaçu. O açaí vai diluído no chocolate para formar a crosta externa. Por dentro, a combinação de banana e cupuaçu. Muito interessante, sem ser exageradamente doce. Belo desfecho.
O preço do Menu Confiança varia conforme o número de pratos a serem servidos, que vem daquela conversa inicial do chef com o cliente. Vai de R$ 80 a R$ 90, completo, da entrada à sobremesa. Podendo chegar a R$ 110 se o interessado se manifestar com muita, mas muita fome.
Para harmonizar, uma boa carta de cervejas (tem de vinhos também) e, antes de tudo, dá para escolher alguns dos tantos drinques (caipirinhas e variações) feitos com as diferentes cachaças da boa coleção que o bar do Mukeka apresenta.
Garanto que até mesmo o mais renitente dos curitibanos vai admitir que a sequência de pratos, bem aos pouquinhos, é tudo de bom.
Restaurante Mukeka – Cozinha Brasileira
Rua Machado de Assis, 417 – Juvevê
Fone: (41) 3156-3028
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