Mukeka. Nem Muqueca nem Moqueca. Mukeka é o nome do novo restaurante do chef Ivan Lopes, a ser aberto a qualquer momento entre esse fim de semana e a semana que vem.
Claro que o nome vai gerar controvérsias e algumas críticas por conta da grafia. Mas Ivan Lopes e seus sócios explicam a escolha. Primeiro do nome em si, não pelo específico prato baiano ou capixaba, mas sim pela forma de cocção, aquele cozimento na panela de barro que vem lá de trás, dos tempos dos índios, das raízes bem brasileiras. E tem também o lado africano, na fonte das letras escolhidas para marcar a logomarca do novo restaurante. Que, como já deu para perceber, será especializado em cozinha brasileira.
E a grafia com “k”? Uma estratégia de marketing para valorizar ainda mais a palavra. Ainda que reste o contraste de uma letra até bem pouco “estrangeira” no nome de um restaurante que tem tudo de nacional.
Mas o que importa mesmo é que o Mukeka é agora realidade e estará funcionando normalmente daqui alguns dias. É um empreendimento de muitos meses, desde que Ivan Lopes, premiadíssimo, deixou o comando de sete anos da cozinha do restaurante Terra Madre para partir para sua própria casa. Com mais três sócios: Fabrício Dantas, Meire Serra e Luiz Fernando Pessoa (este, sobrinho do jornalista Carlos Alberto Pessoa), antigos frequentadores assíduos do então restaurante de seu novo parceiro e todos eles estreantes no ramo da gastronomia.
A guinada para a cozinha brasileira surpreende, pois o chef, pernambucano, já havia inserido vários ingredientes no cardápio regular do Terra Madre. A começar pelo filhote, o peixe amazônico que hoje é uma das referências daquele menu (que, evidentemente, está presente também agora). Sem contar nos festivais de outros peixes do Norte e de carnes de caça, tipo queixada, paca, javali, capivara e cateto, entre outros.
A proposta do Mukeka é ter um pouco de tudo isso. Localizado em um belo imóvel do Juvevê, tem capacidade para 90 pessoas, que podem escolher o interior do restaurante ou dois decks externos, locais ideais para os dias de verão que se aproximam. Para um happy hour de horário de verão, já que a proposta de abertura da casa é a partir das 19h.
Para aproveitar alguns drinques especiais de um bar muito bem equipado, com diversos tipos de cachaça e de coquetéis a serem feitos com elas pelo barman Gustavo Tavares, especialista no assunto. Para quem preferir, uma carta de cervejas artesanais, somente brasileiras e muitas delas daqui das proximidades, Curitiba e região. Duas cervejas comerciais apenas (Original e Serramalte), em garrafas de 600 ml.
A carta de vinhos é enxuta e foi concebida pelo sommelier Fabio Carnielli, da ABS, com uma predominância de rótulos do Novo Mundo, embora alguns dos tradicionais europeus não tenham sido esquecidos.
Comidas e comidinhas
Na cozinha, Ivan Lopes, seu braço direito, Talles Juliano, e uma turma muito bem afinada. Dia desses o chef e seus novos parceiros reuniram algumas pessoas ligadas à gastronomia para uma pequena mostra do que vem por aí. Entre petiscos, entradas e pratos principais, alguns bons drinques, outros bons vinhos e os sabores da nova casa estavam finalmente expostos.
Entre os petiscos, Dadinhos de tapioca com geleia de pimenta com tucupi, delicadíssimos, com o suave sabor da tapioca a se amalgamar com a geleia nada picante, mas com um toque en passant do tucupi. Aqui, um parênteses: tanto o tucupi quanto o jambu (fresco) e alguns outros ingredientes do Norte brasileiro vêm direto de Belém, sem intermediários.
Continuemos com os petiscos. Ainda vieram Bolinho de feijoada, Coxinha de frango caipira, Pastel de palmito com taioba (a taioba vem aqui de perto, de Morretes, de onde também vem o mineiríssimo ora-pro-nóbis) e Pastel de camarão.
Já com os convidados à mesa, veio primeiro o couvert da casa, com o Pão do dia, manteiga temperada, queijo cremoso e biscoito polvilho. E como tem sido marca no estilo de Ivan Lopes, tudo começa com um caldinho. No caso, Caldinho-sopa de feijão branco com carne seca, muito gostoso.
Como entrada veio um Ceviche amazônico com batata doce. Tiras fininhas de pintado servidas cruas, mas, curiosamente, com pouco limão e muito mais azeite, o que deu um sabor diferenciado ao processo. Os cubinhos micro-cortados de batata doce completaram com harmonia o sabor.
Continuamos no peixe e em seguida veio um Pirarucu grelhado com legumes e leite de castanha do Brasil. Peixe no ponto, crocante por fora, macio e carnudo por dentro, com complemento do leite de castanha do Brasil (a castanha do Pará), que se obtém batendo a castanha no liquidificador com água e peneirando até atingir a textura ideal.
O segundo entre os pratos principais foi um Ravióli de costela ao molho do assado e agrião. A costela é cozida por horas e depois desfiada e temperada para fazer o recheio da massa, um raviolão de respeito. Com a redução do molho do cozimento o chef chega ao ponto ideal para acompanhar a massa, que vai à mesa coberta por folhas de agrião, dando o contraste no sabor.
Veio a seguir o grande momento da noite. Uma Paleta de leitoa com mini-arroz e legumes ao molho do assado que estava de rezar. Supermacia de se desmanchar ao puxar com o garfo, courinho crocante, a camada de gordura dentro do ideal. E o mini-arroz (que o chef Alex Atala valorizou a partir do ano passado e que já se encontra à venda em alguns mercados de Curitiba) fez a parceria ideal para o prato.
Aí chegaram as sobremesas, da lavra de Juliana Takahashi, a chef patissière da equipe:
Bolo de rolo com mousse de queijo, calda de goiaba e farofa amanteigada e Tapioca de doce de leite com cumaru e castanhas do Brasil.
O momento do cafezinho foi de um murmúrio geral à mesa. As xicrinhas vêm com o coador acoplado e o café é passado na hora, à frente do cliente. Um charme a mais que um restaurante tão charmoso não economizou.
Feijoada e moqueca
O cardápio do Mukeka é bem enxuto. Além dos petiscos, alguns tipos de peixe, outros de carne de frango caipira, carneiro, leitão, uma carne bovina de qualidade. E é claro que há uma Moqueca, justamente para atender aos que chegarem pela primeira vez desejosos de comer essa iguaria baiana. Sim, a moqueca é a baiana, com dendê e leite de coco. Não a capixaba, que leva urucum.
E para o sábado, Feijoada, símbolo maior da cozinha brasileira. E aí a variação se encaixa – e quem me acompanha aqui nesse blog sabe do que estou falando, pois costumo questionar alguns restaurantes de tendências italianas ou francesas que apelam para a feijoada em tempos de baixa -, pois é comida brasileira em casa de comida brasileira. Será na cumbuca, não aquela destrinchada entre várias carnes em várias panelas e vários sabores.
É só aguardar a contagem regressiva.
Restaurante Mukeka – Cozinha Brasileira
Rua Machado de Assis, 417 – Juvevê
Fone: (41) 3156-3028
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