A ideia foi bem bacana. E saborosa. Veio da irrequieta jornalista Thabata Martin, da Verso.tht Comunicação: fazer em casa um autêntico Fettuccine Alfredo, o mais famoso dos pratos do restaurante italiano Alfredo alla Scrofa.
Para tanto, teríamos à disposição (eu e mais quatro ou cinco que não tenho a menor ideia de quem sejam) uma embalagem da autêntica massa de ovos feita pela casa italiana e que nos virássemos com a receita, que deveria ser apresentada em data especial. Mas houve um furo e o material foi liberado para ir ao ar agora. Então, liberemos.
Se o desafio é gastronômico, que não seja por isso, mãos à obra. Já tínhamos o cardápio para o jantar daquela noite. A única questão seria a maneira de fazer. A receita original do restaurante leva só manteiga no molho. Mas trata-se de uma manteiga fresquíssima, com quantidade mínima de água, que se torna cremosa quando derretida. Por aqui, no Brasil, é muito difícil encontrar igual e o recurso que se usa é dividir, meio a meio, as quantidades de manteiga e creme de leite fresco. Este, quanto mais líquido, melhor.
E foi assim que fiz, com um toque final de salsinha (que lá também não tem, mas alguns italianos também usam) para dar uns salpicos de cor. O resultado não poderia ter ficado melhor, pois a massa é muito boa (bem, é Alfredo), mais porosa que as normalmente consumidas por aqui, o que significa maior absorção do molho, tornando-se um sabor único e não dois elementos separados a comporem um sabor final.
Daí foi só abrir um Brunello di Montalcino e aproveitar ao máximo.
Quer conferir a receita? Vamos lá.
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Fettuccine Alfredo
Ingredientes
200 g de fettuccine
100 g de manteiga fresca
100 ml de creme de leite fresco
100 g de queijo parmesão ralado na hora
Noz-moscada, sal e pimenta-do-reino (moída na hora, de preferência)
1 colher (sopa) de salsinha picada
Preparo
Enquanto a água ferve para cozinhar a massa, corte a manteiga em pedaços e derreta em banho-maria. Junte o creme de leite, mexendo de vez em quando, sempre em banho-maria, até que estejam completamente amalgamados.
Tempere com uma pitada de sal e outra de noz-moscada.
Salgue a água fervente e cozinhe a massa conforme o tempo determinado na embalagem. Quando estiver “al dente” escorra e despeje na panela do molho. Misture bem, junte o parmesão, misture de novo para deixar derreter e tempere com a pimenta-do-reino.
Junte a salsinha e sirva.
Rendimento: 2 porções.
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O Alfredo em Curitiba
Claro que um assunto assim não vem à tona de graça, sem mais nem menos. A razão de tal iniciativa é a breve inauguração da franquia do Alfredo Alla Scrofa em Curitiba.
Para quem não sabe, fettuccine é o mesmo que tagliatelle, conforme a região da Itália. E esse, de Roma, é mesmo o mais famoso de todos. Segundo a história, foi inventado pelo cozinheiro Alfredo Di Lelio ou “Alfredo I” para alimentar sua esposa, que dera à luz o primeiro filho e estava anoréxica. Isso foi em 1908, alguns poucos anos depois da abertura do restaurante Alfredo, na via della Scrofa 104. O resultado foi imediato, abriu o apetite e Ines voltou a comer normalmente.
Teoricamente o prato não teria nada, assim, de muito especial. Teria sido uma adaptação de um já existente, o “fettuccine al triplo burro” – com três vezes manteiga. Deu tão certo em casa que foi incorporado ao cardápio do restaurante, ganhando enorme repercussão já de pronto, principalmente entre as personalidades políticas e do mundo artístico, que, por décadas, disputaram acirradamente as reservas dos lugares da casa. Os nomes deles estão pelas paredes, registrados em fotos de Sophia Loren, John Wayne, Alfred Hitchcock, Burt Lancaster, Elizabeth Taylor, Ringo Starr, John Kennedy, George Bush (pai) e alguns brasileiros ilustres, como Juscelino Kubitschek, Pelé e Falcão (este freqüentador assíduo quando era o “Rei de Roma” jogando pelo time da cidade).
Mas o que mais marcou e interferiu na história do Alfredo foi a vista dos atores norte-americanos Mary Pickford e Douglas Fairbanks, em viagem de lua de mel. Gostaram tanto da massa que ofereceram a Alfredo um talher de ouro maciço. O presente foi incorporado posteriormente ao ritual de serviço, sendo usado para revolver o fettuccine numa travessa de prata e finalizá-lo diante do cliente. Ainda hoje o talher ainda costuma ser oferecido à pessoa que se quer homenagear à mesa.
Quando se aposentou, em 1938, Alfredo Di Lelio vendeu o restaurante Alfredo alla Scroffa, que continuou em funcionamento, sob os cuidados de Mario Mozzetti. Mas foi convencido pela família a voltar e reabriu a casa em 1950. E, através dos filhos, expandiu sua rede com o nome de Il Vero Alfredo, com várias franquias espalhadas pelo mundo (no Brasil tem uma em Salvador). Hoje a casa da Piazza Augusto Imperatore é administrada pelos netos Alfredo e Ines Di Lelio(coincidentemente os mesmos nomes de seus avós) e mantém o orgulho de poder se vangloriar de ter sido a original, com a manutenção de todos os retratos de celebridades pendurados na parede.
O Alfredo alla Scrofa, tanto quanto o outro com a matriz no centro histórico de Roma (e sem qualquer ligação de parentesco com o original), é esse que está chegando agora a Curitiba. Será inaugurado em meados do mês de novembro em uma transversal da Avenida Silva Jardim, no bairro Água Verde. Terá como chef responsável pela cozinha um paranaense de Cascavel, Marcelo Oliveira, que fez carreira no exterior, principalmente na Inglaterra e na Itália, onde trabalhou exatamente no histórico Alfredo alla Scrofa.
Será que o Fettuccine Alfredo dele será melhor do que esse que fiz em casa?
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