Descemos animados. Curtir as belezas naturais de nosso litoral e ainda comer o que há de melhor por lá era uma inspiração e tanto para o feriadão. Ou pelo menos parte dele, pois havia compromissos que nos chamavam de volta a Curitiba. Mas o 3º Festival de Sabores do Litoral era um apelo forte a sugerir um passeio em Antonina, uma das cidades envolvidas no projeto (as outras são Morretes, Paranaguá, Pontal do Paraná, Matinhos e Guaratuba) e pela qual tenho muito carinho desde os velhos tempos em que descia para comer na Rosinha – e bota quase 40 anos nisso.
Mas descobrimos que a coisa não era bem assim, de acordo com a programação oficial, pois já levamos um fora no primeiro restaurante que tentamos entrar para jantar. “Só tem petiscos” – informou o atendente, embora a programação oficial do evento previsse jantar com o prato selecionado para a noite de sexta-feira. A justificativa era que uma Roda de samba aconteceria dali a pouco, o que inviabilizaria servir o cardápio e coisa e tal. Então que não ponham no programa, ora!
Tentamos mais um, também não era do jeito combinado, até que fomos parar na Cantina Casa Verde. Já tínhamos boas referências do local desde que por lá andou o chef Paulino da Costa naquele fim de semana de reestruturação da cidade pós enchente, o primeiro Antonina Weekend, que deslocou alguns dos principais cozinheiros de Curitiba para cozinhar nos restaurantes de Antonina.
Mas aí, outra frustração. O garçom nos explicou que o prato selecionado para o Festival, a Sequência ítalo-caiçara, era servido apenas no almoço e que não estava disponível no momento. Com os dedos cruzados, perguntei se o chef não daria um jeito de improvisar alguma coisa. Sensibilizado, o garçom foi à cozinha e voltou com a resposta: “não temos todos os itens preparados, mas o chef vai tentar se aproximar o mais possível do prato”.
Pronto, estávamos resolvidos. Cercados por gente pedindo e comendo pizza (a casa também é pizzaria e pelo jeito das melhores, pois as pizzas pareciam bem atraentes), nos preparamos para o que desse e viesse. E o que veio foi um show!
Começou com uma Caponata italiana de couvert, com algumas fatias de pão. Em seguida, um conjunto de quatro pratos servidos ao mesmo tempo. Porções mínimas, é claro, pela proposta de menu-degustação, mas eram Fios de pupunha com laranja, Caldinho de cenoura, Carne de tigre (uma inspiração na Carne de onça, mas com siri em vez de carne vermelha e também servida sobre pão preto) e Flor de peixe (uma massinha recheada com carne de siri – acredito que originalmente seja servida com outro recheio, mas era o que tinha para nós).
O prato seguinte era um Barreado. Ou dois, melhor dizendo. Um deles veio pronto, montado no prato e, vou dizer uma coisa, foi o melhor barreado que já comi, pelo menos até o ponto onde minha memória registra. Tem um detalhe fundamental: não é servido sob o jugo do cominho, erva que pega firme e toma conta do prato quando não bem executado. O outro, que veio junto, tinha uma cumbuca com o caldo e as carnes, outra com a farinha de mandioca e as bananas para serem fatiadas. Para o cliente misturar ao seu bel prazer. Também ficou bom, mesmo eu não tendo conseguido dar a mesma consistência proposta pelo chef no prato que serviu pronto.
Tinha mais. Veio um arroz com siri. Com um intrigante sabor próximo ao coco ao fundo. E dessa vez o próprio chef, André Furlanetto, apareceu para explicar. É o fruto da brejaúva, uma espécie de palmeira muito comum em nosso litoral. Nas pesquisas que fez sobre a comida caiçara, observou que os locais aproveitavam o “coquinho” para utilizar em alguns pratos. O resultado de sua inclusão no arroz de siri ficou na medida, com o discreto sabor de coco
Aí já não sabíamos mais quando tudo iria terminar. Porque já foi chegando o próximo prato, um Peixe grelhado com pupunha. O peixe (me esqueci de perguntar qual era) vem tostado envolto por uma crosta que tem um toque de pimenta e acompanhado do que alguns chefs mais refinados chamam de espaguete de pupunha. Na medida do sabor.
Foi então que veio uma surpreende peça de alcatra. Mas como assim? Parecia nada ter a ver com o que havia sido servido, mas deu bem o paladar final. Bem simples, grelhado no ponto, e com uma farofinha de parmesão com jeito de chave de ouro para fechar a ementa.
De sobremesa, Banana flambada com sorvete de creme e chocolate.
Muito bom, vale a pena encarar nesse festival (veja só, até já me esqueci dos problemas de falta de sincronia de alguns restaurantes). No prato oficial do evento só há um Nhoque recheado e palmito assado que não veio para nós (e aí a razão da alcatra). O valor normal é de R$ 45 por pessoa, mas o preço do festival cai para R$ 36 e na saideira o cliente ainda ganha uma bala de cachaça (será que pode dirigir depois?), que não ganhei e agora que vi aqui no cardápio fiquei muito curioso com o sabor que poderia ter.
Confira os horários para não se atrapalhar. Segunda, quinta e sexta a partir das 19h02. Sábados, domingos e feriados, das 11h47 às 23h02 (esses horários quebrados são por conta da casa).
Cantina Casa Verde
Travessa Marinho de Souza, 34 – Centro (Antonina)
Fone: (41) 3432-3612
Festival de Sabores
Promovido pela Concessionária Ecovia, em parceria com a Adetur (Agência de Desenvolvimento Sustentável do Litoral) e Abrasel Litopar (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Litoral Paranaense, o festival gastronômico Sabores do Litoral começou no último dia 30 de maio e se estende até 30 de junho, contando com a participação de 31 restaurantes (50% a mais que na primeira edição) com comidas típicas da região representada pelas cidades de Antonina, Morretes, Paranaguá, Matinhos, Guaratuba, Pontal do Paraná, além da Ilha do Mel. E com uma vantagem: a preços especiais.
Para saber detalhes do evento, assim como os pratos e os preços de cada restaurante, consulte aqui, na matéria especial publicada dias atrás pelo Bom Gourmet. Bom proveito e bom apetite.
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