Fiquei enfezado. Onde quer que eu vá e tem no cartaz que serve quentão, na verdade não serve quentão. E olhe que, por conta até desse ofício de escrevinhador gastronômico, tenho ido a muitos locais, entre restaurantes e bares e feiras e eventos. E só o que vejo é “vinho quente” sendo servido como se fosse quentão.
Quentão mesmo, o original, é feito com pinga. Desde que me conheço por gente é assim e as primeiras lembranças me remetem ainda à infância em Ponta Grossa – e depois à adolescência, em Curitiba – tempos em que o quentão era servido como bebida obrigatória para esquentar as tantas e famosas festas juninas que existiam.
E a sensação que tenho no paladar é a do pinhão na brasa com os primeiros goles de quentão que fui autorizado a beber, pois, afinal de contas, ainda era menor de idade e meus pais sempre foram muito rigorosos com esses limites que hoje andam bem mais frouxos.
Quentão de pinga, cachaça, coisa simples, apenas a bem-feita mistura fervida de açúcar, pinga, limão, gengibre, cravo e canela (de vez em quando uma casca de laranja). Bebida na canequinha esmaltada e sempre servindo pouco, para não dar tempo de esfriar – aí fica ruim, morna e adocicada.
Com o passar do tempo o quentão foi sumindo, tanto quanto as festas juninas. E foi entrando em seu lugar o “vinho quente”, que é servido com gemada, suspiro e sabe-se-lá-mais-o-quê. E que fica doce, doce demais, nem se aproximando do quentão original.
Sendo assim, como minha incursão pelos bares em nada resultou, a não ser a vontade cada vez maior de tomar um verdadeiro quentão, resolvi fazer o meu. Em casa mesmo, com a receita original de décadas.
Ficou um espetáculo, deu aquele arrepio na espinha que a volta ao passado proporciona. Único senão, porém, foi não ter cachaça branca em casa e apenas da amarela. Com isso, a bebida ficou mais escura, sem o mesmo brilho que teria com a pinga incolor. Mas nada que alterasse o sabor. E, para os interessados, é rápido e muito fácil de fazer.
Quer arriscar? Lá vai a receita.
Quentão tradicional
Ingredientes
1½ xícara de açúcar
1½ xícara de água
50g de gengibre cortado em fatias finas
3 limões cortados em rodelas
4 xícaras de pinga
3 cravos-da-índia
2 pedaços pequenos de canela em rama
1 tira de casca de laranja
Preparo
Aqueça o açúcar em fogo alto, mexendo de vez em quando, até caramelizar.
Junte todos os ingredientes, menos a pinga, e ferva, mexendo até dissolver o açúcar.
Junte a pinga, com cuidado, de preferência fora do fogo, misture e deixe ferver em fogo baixo por 3 a 4 minutos.
Rendimento: 8 canequinhas.
(Em tempo: assim que publiquei minha queixa nas redes sociais, o jornalista Maximilian Santos me avisou que no Fritz servem esse quentão tradicional. Claro que vou aparecer por lá.)
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