Não que fosse um tabu, acho até que já tinha feito uma vez. Mas fazer em casa esses pratos brasileiros sempre gera margem de restrições. Muita gordura, coisas assim.
Mas bem que fazia um bom tempo de namoro com a possibilidade de fazer rabada. Gosto muito, tem aquela do Bar do Pachá nas segundas-feiras que é incomparável na cidade. Mas ir ao fogão e fazer do seu jeito tem outro sabor. Até mesmo porque o preparo é diferente, o ritual é todo seu, é outro astral.
Fiz uma consulta à nora, Caroline, que está aqui com o netinho Artur. Encara uma rabada? – fui meio com jeito, explicando do que se tratava. Ah, se é carne de boi acho que tudo bem – veio a resposta a abrir sinal verde para a experiência. Carol não aprecia cordeiro, coelho e outros assim, “por pena do bichinho”.
Tenho algumas receitas aqui, mas achei uma nova, do Dalton Rangel, que era um dos Homens Gourmet (ainda tem?) e que tem na genética a linha de sua mãe, Mônica Rangel, do restaurante Gosto com gosto, cozinheira de mão cheia.
Achei interessante por ele pôr cúrcuma no tempero da carne, especiaria que aprecio muito. Mesmo estranhando o fato de a carne não ser dourada antes, decidi que seria a receita a ser seguida.
Para as compras acionei meu assessor especial para assuntos de carnes, Dielson Shilipacke, do açougue Pé de Boi, no Mercado Municipal de Curitiba. E que abriu há pouco tempo, no próprio Mercadão, o Espaço Angus Prime, uma butique de carnes de primeiríssima linha. Ali a rabada (de angus, coisa chique) vem inteira e ele corta na hora, na medida para a melhor execução pelo cozinheiro.
Feito isso, fogão. Sou adepto do cozimento lento em baixa temperatura, já publiquei muitas receitas assim. Mas não crio preconceitos contra nada. Panela de pressão incluída. E a receita do jovem chef indicava cozimento na pressão. Melhor para a ocasião, pois Carol e Artur tinham compromisso logo depois do almoço, que não poderia ser servido muito tarde.
Costumo seguir receitas de cabo a rabo (com rabada, então!!..!!), mas desta vez só ousei uma mudança: troquei o óleo do início do processo pela banha. É mais Brasil, é mais rabada. E, como era de se imaginar, deu um toque de sabor incrível.
A Rabada do Rangel, como denominei, foi servida com agrião e acompanhada de um pirão de farinha de mandioca que também consta da receita. A única observação que faço: da próxima vez vou arriscar dourar a carne antes. E ver o que dá. De resto, ficou impecável.
Na taça, um belo Cabernet Sauvignon chileno. Santé!
De sobremesa, encomenda do Artur, um pudim. De abacaxi, receita antiga aqui no nosso Livrão e que, se não me engano, estava numa face interna de rótulo de leite condensado dos anos 80. Ele só havia experimentado o de leite até então. Aprovou.
E assim se foi o domingo, com bom vinho, boa conversa e o carinho da família.
Vamos às receitas?
Rabada Rangel
Ingredientes
1 kg de rabada
2 cebolas picadinhas
2 litros de caldo de carne
2 tomates picadinhos
2 pimentões vermelhos cortados em cubinhos
2 colheres (café) de cúrcuma
1 folha de louro
2 colheres (sopa) de óleo
pimenta do reino a gosto
sal a gosto
folhas de agrião para finalizar
Pirão
1 litro do caldo de cozimento da rabada
200g de farinha de mandioca crua
Preparo
Tempere a rabada com alho, sal, cúrcuma, pimenta do reino, folha de louro e o caldo de carne.
Numa panela de pressão com óleo refogue a cebola, o pimentão, o tomate e deixe refogar, acrescente a rabada e o caldo de carne, deixe cozinhar por aproximadamente 50 minutos.
Finalize com o agrião por cima.
Sirva com pirão de carne, que é o resultado do cozimento do caldo da rabada com a farinha de mandioca.
Pudim de abacaxi
Ingredientes
1 lata de leite condensado
1 ½ lata de suco de abacaxi concentrado
3 ovos
Preparo
Bata todos os ingredientes no liquidificador e despeje em uma forma caramelizada.
Asse em banho-maria, no forno a 180ºC, por 1 hora.
Ou na panela especial para pudim por 40 minutos.
Ou ainda na panela de pressão, em banho-maria, por 20 minutos.
Deixe esfriar, desenforme e sirva.
Rendimento: 8 a 10 porções.
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