Como assim, restaurante de prato único? Quando me disseram, estranhei e duvidei. Estava em Paris, para a cobertura do Tournoi de France, o torneio que antecedeu a Copa do Mundo naquele país e que servia para afinar as estruturas e os estádios para os jogos oficiais do ano seguinte. É o que hoje é denominado Copa das Confederações.
Pois bem, falávamos sobre comida, sobre os prazeres da gula e coisas assim. E aí meu interlocutor se referiu ao tal restaurante. Só tem um prato, contrafilé – foi o que me disse. Curioso e guloso, fui atrás de mais informações, claro. E descobri o restaurante justamente ali perto de onde estávamos. Chamava-se Le Relais de l’Entrecôte, ficava no Boulevard de Montparnasse, bem próximo do Jardim de Luxemburgo, onde ia dar minhas caminhadas de vez em quando.
Fui lá conferir e era aquilo mesmo. Veio primeiro uma salada de folhas com nozes, muito bem temperada. E depois o contrafilé, que é o entrecôte para os franceses – e ali, no caso mais específico, o “noix d’entrecôte”, que é o miolo da peça, supermacio, que o argentino, por exemplo, chama de “ojo de bife”. De acompanhamento, batatas fritas. Para se repetir à vontade, tanto o filé quanto as batatas. O entrecôte (por favor, não fale entrecô, é entrecôte, como se escreve, ou você chama os vinhos de Cô de Rhones?) vem grelhado ao gosto do cliente, com várias opções de ponto, do quase cru ao torrado e é acompanhado de um molho secreto que tem mais de 20 ingredientes e demora outras tantas horas para ser feito.
Lembro-me de ter sentido sabor de mostarda, de molho inglês, de (muita) manteiga, creme de leite e um outro que não conseguia distinguir. Até que o jornal Le Monde, dez anos depois, publicou o que, segundo eles, era o conteúdo da tal “receita secreta”. E incluiu fígado de galinha entre os ingredientes. Pode ser, imaginei, tentando me lembrar do sabor.
Só sei que achei muito bom, com boas opções de vinho e outras tantas de sobremesas, daquelas bem francesas, dentre as quais os profiteroles se destacavam pela preferência dos clientes. E então, conversando com o pessoal da casa, me disseram que a proprietária, Marie-Paule, era filha de Paul Gineste de Saurs, que, em 1959, comprara um restaurante chamado Le Relais de Venise, para poder encontrar mais espaço para vender os vinhos da família. Foi ali que decidiu pelo prato único, que foi sucesso imediato. Descobri também que ainda existia o restaurante original, agora com um rabicho no nome: Le Relais de Venise – L’Entrecôte, que era de outra filha de Saurs. E que tinha exatamente o mesmo cardápio (com variações nas sobremesas, conforme a inspiração de cada confeiteiro).
Também em Curitiba
Entrei no assunto por causa da inauguração do L’Entrecôte de Paris em Curitiba. Foi agora, em junho, uma franquia dessa versão brasileira do restaurante francês e que é a primeira estabelecida no Sul do país. Inaugurada em 2009, a franquia L’Entrecôte de Paris – pertencente à SMZTO Holding de Franquias, grupo com mais de 20 anos em experiência em franchising – conta com 16 restaurantes em todo o País, já com a nova unidade em Curitiba e o L’Entrecôte de Paris instalado em Miami (EUA).
Nos primeiros tempos concorreram diretamente com o Bistrô L’Entrecôte d’Olivier, do chef e padeiro francês Olivier Anquier, famoso pelos programas da TV. Há cinco anos ele tem duas unidades em São Paulo, usa a mesma fórmula, mas não atingiu tal grau de expansão.
A marca L’Entrecôte de Paris conquistou o cobiçado selo do Guia Michelin 2015 – edição de estreia no Brasil da publicação, que desde 1900 elege os melhores restaurantes ao redor do mundo. O guia brasileiro, primeiro também da América do Sul, indica em torno de 200 restaurantes no Rio de Janeiro e em São Paulo, entre elas a unidade do bairro Itaim Bibi, em São Paulo, do L´Entrecôte de Paris, na categoria “BIB Gourmand”, que avalia os locais que oferecem as melhores condições de custo/benefício ao cliente.
A proprietária do restaurante curitibano é a empresária Mariana Fugiwara, que instalou a franquia em um local de, aproximadamente, 300 metros quadrados, com decoração inspirada nos bistrôs franceses. O restaurante tem dois pavimentos, com capacidade para 64 lugares. Os clientes ainda contam com o serviço de manobristas no local e a casa funciona diariamente, sem folga, para almoço e jantar.
Como o prato principal só varia mesmo de ponto, há uma boa oferta de sobremesas. São 13, na maioria típicas francesas, como o Profiterolis com sorvete de creme e calda de Nutella, Marquise au chocolat belge, Millefeuilles Eiffel de doce de leite, Cheesecake com calda de frutas vermelhas, Creme caramelo e Jean et Marie são algumas delas.
Os preços: prato executivo, servido no almoço de segunda a sexta, com cerca de 150g de carne (R$ 39,90); o classique (com 180g, R$ 51) e o prime (com cerca de 240g, R$ 63). Em todos, a salada de folhas e nozes antes e as fritas de acompanhamento.
– Ah, sim, quando liguei pra lá para confirmar os preços, levei um susto. Depois de tudo o que escrevi ali em cima sobre a pronúncia correta, a atendente saiu com um “lentrecô” e não “lentrecôte”. Imaginei que pudesse estar errado e liguei para amigos franceses (era muito tarde para falar com minha filha, que mora na França e é casada com francês) para ter certeza. É entrecôte mesmo, não se come a última sílaba. Seria entrecô se o “t” fosse mudo, como bistrot, que se pronuncia bistrô.
Mas, seja com que pronúncia for, está aí o novo restaurante, lotando todos os dias.
L’Entrecôte de Paris
Alameda Doutor Carlos de Carvalho, 1101 – Batel
Fone: (41) 3045-6055
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