Vive cheio. Fim de semana, então, lotado. E tudo começou meio por acaso, para que Eliseu Fernandes pudesse servir algum acompanhamento para as taças de vinho que se propôs a vender.
Na lida com vinhos desde sempre, tinha sua Adega Curitiba – com algumas importações exclusivas – funcionando a pleno. Com clientes cativos, que começaram a utilizar as poucas mesas ali existentes, entre as prateleiras de vinhos, para degustar seus rótulos favoritos.
Na adaptação da pequena cozinha ali atrás, Eliseu começou a se virar para oferecer petiscos, que não ficassem no óbvio das bruschettas, frios ou embutidos. Queria mais, queria top, como sua vida corrida nesse meio gastronômico exigia.
Desde que começou no famoso Boulevard, de Celso Freire, como auxiliar de bar. Isso foi em 1991 e lá dentro cresceu, como garçom à noite e cozinha durante o dia, até pegar a responsabilidade do setor de compras.
Sentindo que o caminho era esse, fez curso de confeiteiro do Senac e aprimorou os outros atributos na cozinha. Convidado, foi a Florianópolis ajudar o advogado Zeca d’Acâmpora a abrir, na própria casa dele, seu restaurante para servir na temporada. Foi um grande sucesso e transformou o advogado bem-sucedido em cozinheiro full time.
Na volta a Curitiba, trabalhou na implantação do projeto da venda de vinhos no Bar do Victor, que, até então, servia apenas cerveja para acompanhar os pescados. E daí foi o mentor da incorporação do barracão no terreno da Gauden Beer, em Santa Felicidade, para a abertura do conceito Petiscaria do Victor, empreendimento do qual tinha uma pequena participação.
Cada vez mais ativo, Eliseu começou, em parceria com a advogada Silvana Fetter, o projeto do restaurante Vindouro, idealizado durante um ano, desde a escolha do chef Alain Uzan para montar o primeiro cardápio e manter consultoria, até a escolha dos rótulos da adega, que também estaria disponível para venda avulsa dos rótulos.
Dos vinhos aos petiscos
A partir de 2011 começou a trabalhar diretamente com vinhos, abrindo um showroom para atender restaurantes, como representante e distribuidor de boas vinícolas estrangeiras.
A partir da crise de 2014 as coisas começaram a mudar, com o imposto alto no vinho e a demanda baixando. Como consequência, as vendas caíram. Nesse meio tempo, abriu uma pequena pizzaria ao lado da loja, começou a mudar o perfil de consumo e o ponto começou a ter mais movimento – começou a chamar a venda do vinho em taça, ao lado da pizzaria.
Daí necessidade de oferecer comida. E voltamos ao assunto lá do início dessa conversa. Queria servir comida boa, personalizada. Na chegada da Primavera de 2018 entrou em contato com um amigo de Florianópolis que tem cultivo e pediu para mandar 30 dúzias de ostras, 30 kg de mariscos, colocou um fogão na calçada e começou uma brincadeira descontraída para impulsionar a venda de espumantes em taça e chamar a atenção para o vinho.
Deu muito certo. Clientes começaram a chegar e a sentir falta de outras coisas para passar mais tempo por ali. Passaram a pedir camarão, bacalhau e outros itens. Foi aí que Eliseu percebeu que tinha dado outro direcionamento ao negócio, transformando sua loja de vinhos em uma taberna - aquele local de comidas e bebidas mais descontraído, sem aquela cara de restaurante que era de onde ele já vinha e estava saturado. Sem glamour, mais descontraído e descolado. Naquele pensamento do “vou ali comer alguma coisinha, bebericar uma taça de espumante e vinho” e tudo bem. E surgiu, então, a Taberna do Eliseu - Vinhos & Tapas.
Se a intenção era impulsionar a venda de vinhos, o resultado acabou dando certo além da expectativa e hoje ele se desdobra para dar conta do movimento. Não quis contratar cozinheiro, quis tocar a operação sozinho, para garantir certos cuidados, principalmente em se tratando de lidar com ostras. E até porque são coisas que ele gosta muito e não podia fazer em casa, pois “sempre que queria fazer a patroa brigava”. E hoje a esposa Rosana está com ele no pique da taberna. Os dois, mais dois garçons, o filho Gustavo e o sobrinho Matheus. Além de uma pessoa encarregada da limpeza e só.
Os sabores da cozinha
Na minúscula cozinha, o cozinheiro Eliseu Fernandes se desdobra para atender a todos. As ostras, claro, são os chamarizes, e são servidas ao natural, ao bafo (ambas R$ 29 a dúzia) e, claro, a famosa Ostra gratinada ao molho beurre blanc (R$ 45 a dúzia), que aprendeu a fazer com o chef Alain Uzan e que até hoje faz sucesso no menu do Vindouro.
Do mar ainda tem Mariscos no vapor e refogado de pimentões (R$ 35 a porção), Bolinho de bacalhau (R$ 29, seis unidades), Casquinha de siri ao natural, refogada (R$ 20 a unidade reforçada), Polvo à feira, laminado e refogado em azeite de oliva, com batatas ao murro (R$ 95 a porção), o espanholíssimo Gambas al ajillo, os camarões alhos assados e azeite de oliva (R$ 69) e os Camarões pistola 5G (no vapor, oliva e alho assado, a R$ 139 a porção). O Bacalhau no vapor tem as lascas de bacalhau ao murro, no azeite de oliva (R$ 69).
Mas o cardápio não ficou só no mar. Além de uma porção de Batata frita palito (R$ 20), tem dois apetitosos cortes de cordeiro uruguaio. A Paleta de cordeiro com batatas ao murro (R$ 159) chega se desmanchando e o Carré de cordeiro – também com as batatas – (R$ 69) é macio e rosado no interior.
E não é que tem até sobremesa? Pasteis de Nata e de Tentúgal, doces conventuais portugueses (R$ 25).
Aqui se improvisa
De vez em quando Eliseu Fernandes se inspira e decide sair do cardápio convencional. Teve um dia que decidiu fazer uma Bisteca Fiorentina, para harmonizar com um irresistível Brunello de Montalcino de seu portfólio. Na noite mais fria não se espante se surgir um Caldo verde, a inconfundível sopa portuguesa, para acompanhar os vinhos daquele país.
Vinhos, aliás, de produtoras selecionadas. Da Nova Zelândia, rótulos como Sanctuary Sauvignon Blanc, Pencarrow Pinot Noir, da Importadora Premium Wines; Yllera Brancos e tintos, da Importadora Del Maipo. Da Argentina, os vinhos do enólogo Marcelo Pelleriti, Importadora Del Maipo.
Os espumantes servidos são Brut Pizzani, de Santa Catarina, e Cava Ramiro Brut, Nature e Rosé, da Importadora Del Maipo.
É que o ambiente informal e descontraído permite tudo isso. E aquele trechinho da calçada da Princesa Izabel fica apinhado de gente, que soube encontrar esse cantinho da cidade onde os vinhos e os pratos se equilibram para proporcionar puro prazer.
A Taberna do Eliseu funciona de terça a sexta, das 17:30 às 23h. Sábado, das 12h às 23h, sem intervalo. E domingo, das 12h às 16h.
Taberna do Eliseu - Vinhos & Tapas
Alameda Princesa Izabel, 2837 - Bigorrilho
Fone: (41) 99875-8250
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