Tenho participado de algumas interessantes degustações. Todas online, como exigem os novos tempos. Algumas de vinho, outras de espumantes, de cervejas e até mesmo uma de gin.
É bem interessante. O material é encaminhado ao endereço dos participantes, com o que vier a ser degustado e todas as informações possíveis a respeito do assunto. E aí, online, pessoas de todas as partes do país (e também de fora, especialmente alguns dos fabricantes ou produtores) provam e discorrem suas opiniões sobre o tema em questão.
Há pouco mais de um mês participei de uma degustação bem significativa. Eram 58 pessoas ao vivo, todas enquadradas ao mesmo tempo na internet, entre sommelier, enólogo, jornalista especializado, jornalista não tão especializado, cliente, produtor e mais o que se possa imaginar.
O assunto em questão era a apresentação de alguns vinhos da Amitié, da Serra Gaúcha, reconhecida e premiada por seus espumantes, e que estaria apresentando três rótulos de vinhos aos integrantes daquele enorme grupo.
A Amitié foi fundada em 2018 pela enóloga Juciane Casagrande Doro e pela sommelier Andreia Gentilini Milan. Foram apresentados, então, um Sauvignon Blanc bem fresco e descomprometido, um rosé de uva Merlot (que adorei) e um Pinot Noir com um nível muito acima do que a média do mercado continental tem oferecido.
Participei, gostei, registrei nas redes sociais e dali algum pouco tempo entra em contato comigo o empresário Carlos Feliz, autoridade em vinhos aqui em Curitiba, para saber o que eu tinha achado das três amostras. Disse a ele o que eu escrevi aqui em cima e mais alguns detalhes técnicos.
Ele se interessou pela vinícola e me pediu para fazer a ponte, o que fiz com muito prazer, pois, durante a degustação, cheguei a perguntar para as proprietárias sem haveria a possibilidade de encontrar seus vinhos por aqui. Não havia.
Dali uns dias Feliz me retorna para dizer que havia fechado com a vinícola e, a partir daquele momento, passaria a contar com alguns rótulos Amitié em sua tradicional Adega Boulevard, ponto de referência de venda de vinhos em Curitiba desde os tempos em que era um braço da Lidador (1993 a 1995). Antes dele, pelo que sei, existia a Adega Franco.
Naquele contato me fez uma revelação interessante. Estava apostando na qualidade dos vinhos nacionais e seus clientes também. Uma nova tendência estava se abrindo no mercado.
A vez dos brasileiros
Segundo Carlos Feliz me passou, os vinhos brasileiros, até o ano passado, representavam menos de 10% das vendas. Saltaram agora para quase 50% em valor e mais de 60% em volume de garrafas.
E enumerou uma associação de fatores para uma mudança dessas.
Dedicação, amor e muita técnica envolvidos. As famílias (e as vinícolas são basicamente familiares) vêm se aprimorando há décadas para melhorarem cada vez mais seus vinhos.
Outro fator importante é a identidade: nossos vinhos não tentam imitar os vizinhos sul-americanos. Têm personalidade própria, lembrando muito mais os vinhos de Velho Mundo do que o que se tem aqui no entorno do país.
Além disso, as mudanças climáticas têm favorecido a maturação das uvas, principalmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
E as novidades também pesam. Temos hoje oferta de vinhos de varietais tão diferentes quanto Marselan (um cruzamento de Cabernet Sauvignon e Grenache), Teroldego (uva italiana também rara por aqui, mas que já deu prêmio à Vinícola Franco Italiano, aqui de Colombo), Arinarda, Alicante Buschet e outros. O que, segundo Feliz, para os amantes do vinho, é uma grande oportunidade para fugir das mesmices que acabam se tornando enjoativas.
Outro ponto que pesa muito nesse crescimento é a variedade, pois o Brasil passou de quatro vinícolas de conceito para 17, com mais de 150 rótulos no mercado. E aí considera-se também o preço, pois, com a alta desenfreada do dólar, os importados perderam muito a competitividade. Já os brasileiros estão superacessíveis, com vinhos despretensiosos, leves e muito agradáveis.
Pedi para ele me citar alguns vinhos que me recomendaria pelo custo benefício. Citou Almadén Vintage Chenin/Muscat (R$ 14,50), Miolo Seleção Rosé (R$ 24,90) e Amitié Sauvignon Blanc (R$ 57) – aquele da degustação lá do começo do texto.
Mas não ficou nisso. Salientou que temos ótimos tintos mais sérios, encorpados e longevos, como Quinta do Seival Castas Portuguesas – da Miolo - (R$ 79), Pizzato Alicante Buschet (R$ 99) e Miolo Merlot Terroir (R$ 127,50).
Rapidamente, portanto, o preconceito contra os vinhos nacionais vai sendo superado. Hoje a Adega Boulevard conta com 27 vinícolas e cerca de 200 rótulos. E com um detalhe importante: Feliz e seus sommeliers provam todos os vinhos antes de incluí-los no catálogo.
O resultado só poderia ser gratificante como vem sendo. Um ótimo retorno de vendas e a aproximação cada vez maior de seus clientes com o que de melhor é feito aqui no país.
A Adega Boulevard funciona de segunda a sexta-feira das 10h às 19h. Aos sábados, abre das 10h às 15h.
Adega Boulevard
Rua Voluntários da Pátria, 539 – Centro
Fone: (41) 3224-8244
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