Foi em Londres a primeira vez.
Estávamos em um grupo, cobrindo uma partida da seleção brasileira de futebol, logo após a virada do século (ainda seria no antigo estádio de Wembley) e fomos jantar em um restaurante ali no Covent Garden. Vieram aqueles copões de cerveja vermelha, em temperatura ambiente, deliciosa, enquanto fazíamos os pedidos.
Um companheiro nosso teve de se ausentar por alguns instantes (teria um contato com sua emissora de rádio, no Brasil, para passar um boletim informativo da seleção) justamente quando os pratos estavam por chegar. Assim que fomos servidos (e ainda antes dele retornar) começamos a olhar com curiosidade para aqueles pedaços de carne de formato bem definido de um feijão grande e de belo efeito visual. O que seria aquilo?
Quando o rapaz voltou, o protesto: "eu não pedi isso". O garçom argumentou que sim e, como da mesa eu era o único a poder me fazer entender em inglês, sobrou para mim a negociação. Apontou-me no cardápio e estava escrito "Grilled lamb kidneys..." com algum molho que agora não me lembro.
Você pediu, sim – expliquei, enquanto ele argumentava ter imaginado tratar-se de outra coisa que seu parco inglês não soube definir.
Mas não deve ser tão ruim assim – argumentei, enquanto pedia licença para provar.
Estava delicioso e na hora propus trocar pela minha Shepherd's Pie (algumas até levam rim de cordeiro, mas não aquela), que era um prato já conhecido e certamente agradaria ao paladar do companheiro.
Voltei ao Brasil procurando receitas com rins de cordeiro. E, principalmente, por rins de cordeiro, pois a internet nos oferecia várias opções de pratos, especialmente dos ingleses. Não tive nenhuma dificuldade em encontrar os rins, porque em Curitiba tem a Casa do Carneiro, especializada em carne de ovinos. E se o carneiro abatido tinha paleta, carré, pernil, costeleta, certamente também teria rins.
Fiz algumas vezes, quase sempre grelhados, mas com algumas variações em molhos. Mas, com o tempo, fui descobrindo outras maneiras de lidar, embora fosse praticamente admirador isolado em casa.
O primeiro que fiz foi Rins de carneiro grelhados à manteiga maître d'hôtel, talvez o mais simples de todos. Alguns espetinhos sobre a grelha da churrasqueira e, em instantes, tínhamos o prato do dia, regado com a mistura de manteiga, limão e salsinha.
Miúdos e miúdos
Semanas atrás me deu vontade se matar saudades daquele sabor tão particular. Procurei novamente o Marcos Adur, na Casa do Carneiro, e ele me garantiu que tinha. Precisava encomendar antes, pois não adiantava ter na vitrine se a maioria não consumia ou comprava.
Aí ele me contou que também tinha outros miúdos de cordeiro, como fígado e coração. Comprei os corações, que, aliás, ficaram deliciosos na churrasqueira, abertos ao meio e com uma fatia de bacon por dentro.
Conversa vai e Adur me disse que servia espetinhos com miúdos sob encomenda e reserva prévia no restaurante Carneiro Prime, que fica ali ao lado de seu açougue especializado. Não tive dúvidas, reservei, convidei alguns confrades (da Confraria do Armazém) e, tomando todos os cuidados que o protocolo da Covid-19 recomenda, compusemos uma mesa voltada basicamente para os espetinhos.
Estavam deliciosos. São feitos de duas maneiras, com ou sem a redanha (que é aquela membrana de gordura em formato de véu ou rede, que recobre os órgãos interno dos animais e que é muito usada na França, onde, chamada de Crèpine, envolve os patês e as terrinas). Ambas deliciosas, diferentes, mas difícil escolher qual a melhor.
Cada espetinho, bem servido, custa R$ 9 e pode ser acompanhado de saladas, maionese, arroz e outros itens pedidos à parte que o menu do restaurante oferece.
Aliás, o cardápio da casa é muito interessante e atraente. Os espetinhos são atrações à parte, mas a casa tem petiscos variados e diferentes cortes de cordeiro, como lombinho, carré, pernil grelhado, paleta grelhada, costelinha ripa, kafta, linguicinha merguêz e linguicinha de cordeiro – com preços variando de R$ 36,50 a R$ 52.
Serve também pratos individuais, como a Sequência especial Carneiro Prime, com entrada de quibe cru, pasta de grão-de-bico, pasta de berinjela e coalhada. Daí chegam as carnes de cordeiro: linguiça, kafta, paleta, carré, lombo, costela e pernil. E os acompanhamentos: arroz à moda da casa, salada mista, maionese e molho de hortelã. Tudo isso custa R$ 88,90.
Mas, ainda nos pratos individuais, tem Pernil de cordeiro (R$ 59,90), Carré de cordeiro (R$ 58,90), Picanha Angus (R$ 74,90) e Chourizo/ T-Bone ou Shoulder Angus (R$ 72,90) – todos com acompanhamentos já inclusos.
Tem também pratos combinados, para duas pessoas, com preços entre R$ 98 e R$ 103,90.
Há uma pequena e correta carta de vinhos, com bons rótulos, incluindo aqueles elogiados da Vinícola Araucária, que tem, entre os proprietários, Renato Adur, irmão de Marcos.
O restaurante funciona apenas para almoço, de terça a domingo. Abre à noite mediante reserva antecipada para um número mínimo de cinco pessoas em mesa bem espaçada.
Carneiro Prime
Rua Senador Saraiva, 220 – São Francisco
Fone: (41) 3225-2787
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