O ex-atleta e empresário Renato Ramalho é o atual presidente do Clube Curitibano, hoje, o mais antigo da capital. O desafio não é pouco: são cinco sedes, mais de 600 colaboradores e cerca de 31 mil associados. Nesse clube que mais parece uma cidade, além do presidente, superintende, gerentes e diretores dão conta de administrar eventos, festivais, atividades esportivas e muita expectativa das cerca de quatro mil pessoas que circulam diariamente pelas unidades. Além dos salões de festas, quadras, piscinas, academia, bosques, há biblioteca e videoteca para serem usufruídos pelos sócios. O primeiro presidente do Clube foi o Barão do Serro Azul, eleito em 25 de setembro de 1881. As atividades do Curitibano tiveram início, oficialmente, em 06 de janeiro de 1882 e as comemorações de sua fundação passaram a ser feitas em março, junto com o aniversário de Curitiba. 137 anos. Pela solidez que o Clube demonstra, outro século deve se somar ao aniversário deste ano.
Qual o desafio de administrar um clube que é uma cidade?
É um desafio bastante honroso. Sou formado em Administração e sempre estudei sobre a liderança. Acredito sempre nas pessoas. Assim, eu posso dizer que é muito fácil liderar o Clube Curitibano por conta dos colaboradores. São 620 colaboradores e buscamos trabalhar sempre na questão da meritocracia. Claro que sendo um clube centenário há pessoas com muitos anos de casa e outras que são novos. É uma mistura e tentamos que seja um time de alta performance e com muita competência. Tem pessoas que dizem que lidar com pessoas é difícil. Eu acho que é fácil, usando três pilares: desafio, todo mundo que é desafiado quer mostrar seu melhor se a oportunidade dada for correta e consegue mostrar seus pontos fortes para entrega do resultado. O segundo é reconhecimento, não apenas financeiro. Mas de um trabalho bem feito. Então, esse time precisa ser reconhecido. O terceiro, é a festa, a celebração. Como o baile em comemoração ao aniversário do Clube. Precisamos desafiar, reconhecer e celebrar.
Como é celebrar no dia a dia?
No dia a dia o que a gente tem feito é trazer os colaboradores que tiveram uma performance acima da média para a reunião de diretoria e reconhece-los frente a todos os dirigentes, um time de 14 pessoas. Assim, todos ficam sabendo daquela atuação, do bom resultado do trabalho desta pessoa. E porque o celebrar é importante? Porque reconhecemos o processo correto. Quando você tem o processo correto, você celebra.
Esse modo de administrar, sobre os três 3 pilares, você trouxe de seu aprendizado como atleta e empresário?
Também. Mas aprendi com meus pais que essa celebração vem depois de muitas derrotas, quando então se tem a oportunidade de vencer. Ai você celebra. Lá em casa o que aprendi é que quando se tem uma medalha, você renasce e tenta fazer um ajuste para ter um novo ciclo ainda melhor. É uma busca por excelência eterna. Há ciclos de períodos diferentes, ano, trimestre, semana. Acredito que é importante diminuir os ciclos. Aprendi na vida esportiva. Quando se diminuiu o ciclo para obter o sendo de progresso, se mantem motivado e faz pequenos ajustes de rota. Se o ciclo for muito longo, por exemplo de 10 anos, os ajustes e as celebrações vão ser muito escassos para se manter motivado. Então, diminuir o ciclo é importante .
As informações dizem que o clube tem seu um financeiro saudável. Essa é a situação?
Na minha gestão como diretor financeiro triplicamos o caixa do Clube. A última gestão dobro o caixa, então, nós temos 6 vezes mais recurso do que tínhamos 9 anos atrás.
Qual o milagre?
O milagre é ter equipe competente e uma boa governança corporativa. Não sou eu quem faz, são todos, com a superintendência e as gerências do Clube. Se você tiver equipes que são lideradas e que têm a obrigação de seguir um orçamento e um planejamento, sempre com a ideia de equilibrar a tradição e a vanguarda do clube, não cometerá deslizes orçamentários. Além disso, o Curitibano chegou no ponto em que o associado vai ficando, não existe evasão. Pelo contrário, estamos com quase 31 mil sócios e todo ano o número de associados aumenta, ou seja, o número de pagantes cresce. Então, a relação é muito saudável.
Então a administração é colaborativa. Uma administração feita pelo grupo e não por uma pessoa só?
Você falou uma palavra importante, chama de “colegiado”. Quanto maior o colegiado, mais forte são as decisões. Hoje temos um conselho deliberativo e um grupo de diretores que fazem com que a decisão seja sempre de um colegiado. Mas, todas com o objetivo da satisfação do associado. A consequência da satisfação, isso é muito importante, é financeira e administrativa. O clube cheio. De janeiro do ano passado para esse ano tivemos um incremento de 18% na presença de associados nas sedes. O associado vem no clube e o clube fica barato. Aí tudo funciona, é um ciclo virtuoso, mas que começa com a satisfação do associado e esse é o principal objetivo de todos na equipe.
Como é manter essa comunidade saudável no sentido social? Há a diversidade das pessoas que circulam pelo clube. Ele é um microcosmos de uma sociedade que tem muitos problemas.
Se você pegar como exemplo algumas cidades, o Curitibano não é nem micro, é macrocosmos. É microcosmos se nos referirmos a Curitiba, mas é muito maior do que várias cidades da Região Metropolitana, como Campo Magro, Bocaiúva, Serro Azul e outras. Somos maiores em número de associados do que elas possuem de habitantes. Mas, sim, é um microcosmos de uma grande Curitiba de 1 milhão e 900 mil habitantes. O que acontece é que não dá para ter satisfação de todo mundo, mas é preciso ter claro que ele é de todos. Então, precisamos fazer eventos e ações que alberguem todos os tipos de família. As grandes, tradicionais, pequenas, de um membro só, famílias homoafetivas. Tem evento para jovem, para criança, para adulto e também para os mais velhos.
Como é que é liderar esse Clube em tempos de grandes mudanças de comportamento social?
Temos que ficar muito antenados nas tendências. O Clube hoje tem sua página no Instagram, no Facebook, tem seu site oficial. Quer conversar com todas as gerações e, assim, disponibilizar as questões de vanguarda. Temos, por exemplo, débito recorrente em cartão de crédito, até pouco tempo atrás só tínhamos a modalidade de boleto bancário. Esse atendimento às novas exigências vem justamente pelas sugestões dos associados. Eles sugerem as melhorias. O Curitibano também tem buscado transbordar seus muros e ajudar a comunidade por meio de atividades sociais. Nos sentimos na obrigação, por não pagarmos imposto, de desenvolver mais à comunidade do entorno. Em 2017 recebemos um prêmio da melhor ação social de clube, dos 100 maiores clubes do Brasil. Esse prêmio fez com que os gestores da lei trabalhassem para que os clubes que recebem verbas públicas também deem feedback social. Ou seja, não apenas estimulem os seus a fazerem, mas sejam obrigados a fazer, proporcionando melhorias na comunidade. Por exemplo, conseguimos fazer um ajuste no baile de maior luxo, o de debutantes. O nosso baile é o maior do Brasil, são, em média, 80 meninas e fizemos com que elas elegessem oito lares para promover ações sociais neles. Acredito que é uma obrigação do clube estimular esse tipo de ação.
Como o clube está pensando seus próximos 100 anos?
Nossas ações, tanto de ajustes de obras, como de sugestões de ajustes estatutários, são pensadas sempre para 20 anos. Como que vai ser. Por isso, fizemos a incorporação do clube mais longevo do Paraná, que hoje é o Curitibano, mas antes era o Concordia. Nós incorporamos o Concordia justamente para poder despolarizar as sedes. Antes você podia ser o imperador da cidade. Agora, tem que ser o príncipe do bairro. Por conta desse posicionamento, temos cinco sedes bem localizadas. Para despolarizar e aumentar a frequência diária do associado. Para que o associado, do outro lado da cidade, possa ter acesso a uma sede bem estruturada.
O Clube trabalha com sustentabilidade?
Sim. Nós temos algumas ações. Em nossas colônias de férias, um exércitos de 700 crianças, trabalhamos com temas de curiosidade e de sustentabilidade. Temos a questão do recolhimento da água da chuva, que aproveitamos para algumas atividades. Temos um bosque maravilhoso, que preservamos em plena cidade. Há dois anos fizemos um projeto de eficiência energética, fomentado pela Copel, no qual trocamos todas as lâmpadas, por outras inteligentes e econômicas. Promovemos uma economia de 38%. São quase R$ 400 mil/ano. Temos uma campanha vigente de substituição dos copos de plástico. “Adote uma garrafinha”. Achamos que o associado iria reclamar, mas até agora só elogios. Temos também um projeto de reciclagem, de separação do lixo. Ações que temos feito de forma coletiva.
Como o Clube se insere em Curitiba?
Pensamos de algumas formas. Trabalhamos nas linhas cultural, esportivo e social. O cultural transborda, porque a gente recebe sócios e não sócios para participarem do nosso Salão Curitibano. Tivemos mais de 1.200 obras de arte expostas ano passado. Temos os shows, que deixam o associado convidar pessoas de fora. O Clube é influente culturalmente, socialmente e, principalmente, no esporte. Nossa natação é um sucesso. O golfe passa pelo Curitibano. Temos outros esportes influentes, como o futsal e o tênis. São 44 modalidades que influenciam o Estado e o Brasil. Curitibano hoje é o maior celeiro de nadadores infanto-juvenil do país.
Qual é a mensagem para o aniversário da cidade e do clube?
Fazer parte da solução é uma obrigação de qualquer cidadão. Assim como fazer parte das soluções do clube é obrigação de qualquer associado.
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