Não há algo mais básico do que a água. Mas o negócio que gira em torno das águas minerais de origem não tem nada de simplista. A campolarguense Ouro Fino que o diga. Há 120 anos nesse ramo, a empresa poderia estar numa cômoda posição, com um parque industrial com nove linhas de envase e uma estância turística, que ocupam um espaço de mais de 6 milhões de m². Mas quer mais. Disputando espaço na região Sul, a Ouro Fino viu o faturamento crescer, no primeiro semestre de 2019, 26% em Santa Catarina e 20% no Rio Grande do Sul. E não deixa de olhar para a exportação.
Em dez anos, o diretor-executivo da empresa, Marcelo Marques projeta a internacionalização da água mineral paranaense, aos moldes das marcas de origem europeias. Para isso, investimentos e ampliação da fábrica estão no horizonte da companhia, ainda que sejam números guardados a sete chaves. “O que podemos adiantar é que, se o mercado como um todo registrar um crescimento médio de 5% ao ano, nosso tamanho até quadruplicará na próxima década”, comentou o executivo.
Ao Paraná S/A, Marques fez um balanço das operações da Ouro Fino em 2019 e explica como é possível ampliar vendas, inovar e brigar por espaço dentro da comercialização de um recurso natural que hoje está sendo tratado como uma commodity.
Como ampliar vendas de um produto tão básico?
Estando sempre um passo a frente da concorrência, conquistando espaços deixados por eles, e chegando ao consumidor, quando, como e onde ele espera. A água hoje é uma commodity, mas nem todas as águas são iguais. Nem eu e nem os nossos consumidores enxergam a Ouro Fino como uma simples água, já que por ser de origem tem atributos que a diferenciam das minerais, de múltiplas fontes.
Foi essa tática que garantiu o crescimento em Santa Catarina?
Nesse estado enxergamos uma grande oportunidade, baseado na carência do consumidor por produtos com valor agregado. Lá há uma guerra entre atacadistas e focamos justamente no lado oposto. No mês de agosto também houve um alteração nas leis que aumentaram a carga de impostos sobre a água naquela região. Mesmo com todos esses fatores, registramos um crescimento de dois dígitos nas nossas vendas, justamente pela forma como chegamos ao nosso consumidor.
Como ser líder no Sul?
No Rio Grande temos uma parceria com a Cia Zaffari, que detém a Naturale, que tem um volume de vendas extremamente alto e importante na região. Nossa estratégia lá é buscar penetração no pequeno varejo e para isso temos planos de instalação de uma base no estado. Outros estudos vão à linha de entregas de cargas compartilhadas e otimização de custos logísticos, que é o grande vilão e impedidor para que águas de origem como a Ouro Fino consigam maior inserção longe de suas sedes. Nas águas de origem, vemos uma atuação no raio de no máximo 200 quilômetros justamente por esse fator. Nós, no entanto, conseguimos uma ampliação de até 500 quilômetros na nossa área de competividade.
Esse aumento na área de atuação também esbarra em mais concorrência?
Hoje no Brasil temos cerca de três marcas de água, de alto valor agregado, que tem representatividade no mercado. Quando falamos em logística e penetração, podemos também citar as águas minerais internacionais, que conseguem serem vendidas até 10 mil quilômetros distante de suas origens, mas tem atributos que o consumidor está disposto a pagar para ter. Eu acredito que a Ouro Fino se encaixa nesse cenário e minha visão, para os próximos 10 anos é extrapolar nossas fronteiras como uma água rara, até quadruplicando o nosso tamanho atual e capacidade de envase.
A estância turística também está nesse plano de investimento?
Sim, com certeza. Quando falamos de sustentabilidade ambiental e também de marca, falamos do nosso parque. Compramos a área em torno, criando uma grande reserva ambiental que nos garante a qualidade e sustentabilidade do produto. As grandes marcas europeias criam em volta de si balneários e reservas, oferecendo aos seus consumidores uma experiências com a marca. E essa é uma oportunidade que temos de valorizar o nome Ouro Fino junto aos nossos consumidores.
Dá para inovar quando se trata de água?
Perpetuar a quantidade e a qualidade da água é um grande fator competitivo e isso depende da preservação do recurso. Esse é um segmento que sempre cabe inovação. Quando se fala em tecnologia, outro segmento que vemos um grande investimento dos fabricantes de máquinas de envase é para reduzir os custos de transformação, diminuindo a quantidade de recursos usados para envasar um litro de água. Por fim também há um terceiro pilar ligado a hábitos de consumo e um dos momentos que estamos vivendo, inclusive no Brasil, são as mudanças de legislação e desenvolvimento, que permitam a reutilização de embalagens PET e uso de resina plástica feita de material reciclado pós-consumo. Acredito que até 2025 essas práticas já estarão implementadas no país e a Ouro Fino também estará inteiramente adaptada para essa meta.