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Apesar de uma série de medidas adotadas por governos federal e estadual para injetar dinheiro no setor produtivo, empresários paranaenses têm apontado como “frustrante” a tentativa de conseguir crédito nos bancos habilitados. De acordo com eles, as instituições fecharam o cofre, além de os juros terem se tornado pouco atrativos -- um problema nacional, como mostra a Gazeta do Povo. Mais um efeito colateral da pandemia de Covid-19.
“A gente já esperava que os bancos fossem restringir o crédito, mas não esperávamos que fosse tão imediato”, disse Danny Berté, CEO da Perfimec, em videoconferência organizada pela consultoria curitibana Valuup. A metalúrgica de São José dos Pinhais, na região metropolitana, é uma das empresas que tem sofrido com o crédito escasso. Assim como GGH confecção, de Cianorte. “Para não demitir ou fechar, precisamos do dinheiro. Mas esse dinheiro não está chegando. Pelo menos até agora”, disse à reportagem Emílio Gianotto, um dos sócios da empresa.
É uma realidade que parece não escolher segmento. “O caixa hoje é somente o interno da empresa. As linhas de crédito não estão chegando na ponta, em que pese o governo ter anunciado várias medidas, vários caminhos, várias linhas”, destacou Ricardo Cecy, CEO da WHB Fundição, de Curitiba, no evento da Valuup. "Tentamos acessar com uma outra empresa, menor, mas temos questão de garantia real, de projeto. Nada mudou ou facilitou”, disse .
Sócio da empresa de madeira e celulose Cocelpa, de Araucária, Luiz Antonio Giacomassi aponta que o dinheiro é ainda mais escasso nas linhas do tipo FDIC (Fundo de Investimentos em Direito Creditório). Nos últimos anos, essa linha se tornou popular, já que é mantida com dinheiro de investidores. Como a renda fixa deixou de ser atrativa para quem busca maximizar os ganhos, muita gente migrou seu dinheiro para estas linhas de crédito, que eram buscadas principalmente por empresas em recuperação judicial – os juros mais altos e com menos restrições garantiam um resultado ganha-ganha para investidor e tomador de financiamento.
“Com esse temor [do impacto da pandemia no caixa das empresas], o investidor, que é muito sensível, e acabou criando uma onda de saques muito grande. Não teve outra opção aos FDICs a não ser começar a recolher o dinheiro. Os spreads [pagamentos dos tomadores de empréstimo] ficaram muito caros”, disse o executivo.
A precaução dos bancos ficou evidente no mesmo encontro. Economista da Paraná Banco e diretor do braço de investimentos do grupo, Giuliano Dedini destacou que a instituição está prezando por empresas com capacidade de caixa, “o que é natural”, de acordo com sua classificação. Às empresas, sugeriu a negociação com fornecedores e clientes, para salvar o caixa da empresa, entre outras sugestões.