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Curitibana especializada em crochê ganha dinheiro sem vender nenhum produto

A designer e crocheteira Danielle Dalledone em meio a uma aula a outras artesãs. (Foto: Emerson Fiuza/Divulgação) (Foto: )

Carol Nery, especial para a Gazeta do Povo

A economia criativa é um dos setores mais promissores da atualidade e sem querer a curitibana Danielle Dalledone aderiu ao movimento quando uniu o talento para o design gráfico, curso no qual é formada desde 2010, às habilidades com crochê, hobby que aprendeu com a avó na infância. Depois de formada, a profissional trabalhou por alguns anos com a produção de papelaria para eventos e festas até que deparou-se com a técnica de amigurumis, que são bonecos e bichinhos, em sua maioria, confeccionados em crochê e recheados de fibras, muito usados para presentear crianças e na decoração de quartos de bebês, e decidiu investir.

Danielle foi uma das primeiras professoras de amigurumi do Brasil e hoje é uma referência. Ela mantém perfis nas mídias sociais com milhares de seguidores e comanda o The Hand Made, um atelier em Curitiba que promove workshops, desde o básico do crochê às mais refinadas técnicas para a produção das peças, todas autorais e desenvolvidas especialmente para os cursos. “Quando vi que tinha possibilidade de me manter com o THM, parei com os convites. O faturamento dobrou”, conta. Funcionando há quase dois anos, o THM já recebeu mais de mil alunos, que estão autorizados a reproduzir e comercializar as peças, dentro de um acordo ético entre designer e artesãos.

O que Danielle faz tem nome: rede de compartilhamento com base em confiança

Danielle criou o que o consultor Luiz Rolim, do Sebrae-PR, chama de rede de compartilhamento de talento, tendo como base um modelo de confiança. “O desafio do profissional criativo é escala, ou seja, ter uma capacidade de produção que viabilize financeiramente a existência do negócio. Por isso está muito forte o sistema de trabalhar em rede, principalmente no segmento do artesanato”, diz. Uma lógica moderna de repartir o sucesso, classifica o especialista. “Ao conseguir estabelecer uma produção, por mais que faça de uma maneira por adesão, amplia-se o mercado e consegue-se inserir o produto. E algo muito interessante é que é sem vínculo empregatício, o que não deixa de ser uma forma de terceirização”, avalia.

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O THM oferece uma média de seis workshops por mês, geralmente às quartas-feiras e sábados, com turmas de dez pessoas. Cada aula tem carga horária presencial de 3h30, com intervalo para coffee break. Para aprender o padrão dos amigurumis e seus mínimos detalhes, além de ter direito a um material gráfico exclusivo com a receita impressa (e o compromisso de não compartilhar) e certificado, o investimento é de R$ 150. Neste caso, considerando um mês que tenha cursos e com turmas lotadas, o faturamento bruto do atelier pode chegar a R$ 9 mil. As últimas aulas de 2018 serão em outubro.

workshop no the hand made de danielle dalledone

Um dos workshops do The Hand Made em andamento. (Foto: Emerson Fiuza/Divulgação)

“Quando comecei, não imaginava que as pessoas voltariam, acreditava que as turmas iriam sempre se renovar. Mas elas voltavam porque queriam aprender mais. A meta é sempre ter um padrão de receita inédito por mês e com alguma técnica diferente, além de repetir aulas, porque sempre tem aluna nova”, conta. Para retribuir o retorno das pessoas, incentivar o empreendedorismo dos alunos e fazer girar ainda mais o modelo de negócio, Danielle teve a ideia de criar o Mercadurumi, uma feira para comercialização das peças produzidas pelos artesãos. Nas quatro edições temáticas, de Natal e Páscoa, foram vendidos cerca de 350 produtos, que movimentou um total de R$ 30 mil entre os expositores.

“Também indico as pessoas para encomendas, temos um grupo de alunos no whatsapp e foram lançadas recentemente parcerias com armarinhos e lojas especializadas para que tenham direito a descontos em produtos. Assim fica tudo mais sustentável, eles podem tirar uma renda extra, continuar investindo nos workshops e aperfeiçoar as técnicas, gerando um ciclo”, diz a designer.

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Danielle criou uma comunidade, que não somente acredita no seu projeto, mas compartilha os conceitos que está trabalhando. “Geralmente estes empreendedores trabalham com propósito e não uma visão somente monetária. Nesse caso, é uma rede que comprou a ideia, se dispõe a produzir com base na sua lógica de montagem e respeitando uma parceria, que é informal, dentro de um delimitador que é a credibilidade com a designer, ao não passar suas técnicas e receitas de produtos para frente”, comenta Rolim.

Talento rende visibilidade nacional e livro por financiamento coletivo

Além de ensinar a técnica japonesa no atelier, Danielle costuma ser convidada a participar de workshops em festivais e feiras de artesanato, como foi na última edição da Quilt & Craft Show, na capital paranaense no mês passado. Ela foi ainda uma das parceiras da fabricante Círculo S/A no desenvolvimento de uma linha exclusiva de fios para produção de amigurumis, lançada no ano passado. Danielle já ministrou cursos em outras cidades brasileiras, como São Paulo e Brasília, assim como nas internacionais Lisboa e Porto, em Portugal, onde esteve este ano.

O reconhecimento incentiva novas ideias e Danielle não para de criar. No início de agosto deste ano ela lançou no site da THM um financiamento coletivo, para viabilizar o primeiro livro brasileiro de receitas de amigurumis, com criações exclusivas e inéditas. Com apoio da sua rede de alunos, seguidores e admiradores, a designer conseguiu os R$ 36 mil necessários para a produção do material, de forma independente, em menos de um mês. As variadas cotas, entre R$ 27 e R$ 1,5 mil, permanecem disponíveis no site do THM (thmbydani.com.br/livrothm). A publicação tem lançamento previsto para fevereiro de 2019.

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A designer de produto e crocheteira Nat Petry, especialista em maxi crochê – que são aquelas peças feitas de fio de malha com pontos gigantes, que estão em alta na decoração –, também contou com o apoio de sua rede de alunas para o financiamento coletivo para seu projeto de uma plataforma de cursos online. Há três anos ela mantém em Curitiba um atelier que leva seu nome, onde dá cerca de dez aulas presenciais por mês, que custam entre R$ 150 e R$ 190, e é bastante conhecida por seus tutoriais na web.

Os interessados em participar do financiamento adquirem uma cota de R$ 29, que dá direito a uma apostila, com um padrão criado por Nat em formado de PDF, que pode ser uma peça decorativa, como uma almofada, ou uma bolsa, por exemplo. A inscrição dá direito a uma live na web, onde Nat explica detalhes da produção e esclarece dúvidas, e a participação em um grupo virtual de alunos.

Somente no primeiro mês, Nat comercializou 260 aulas, que somaram R$ 7,5 mil. “Mais que dobramos a meta inicial, de 100 inscrições. Existe uma confiança no meu trabalho e em aprender comigo. Com essa troca, é uma forma de manter o atelier para pesquisas e criação de outros projetos. E com cursos online consigo atingir muito mais gente, o que a aula presencial não permite”, diz Nat, que tem alunos no exterior, como Guiana Francesa, França e Holanda, além de todos os estados do Brasil.

Rede abre caminho para novos negócios

Entre um curso e outro no THM, a aluna Mariana Cabral Nietsche Rutz identificou um nicho que hoje é sua fonte de renda. Mas não é como designer, nem como artesã. Em sociedade com o marido, o engenheiro mecânico Guilherme Araújo Rutz, ela toca o e-commerce Cia das Agulhas. A loja virtual entrou no ar em maio de 2017 com o propósito de vender produtos da japonesa Tulip, queridinha das crocheteiras. “Durante as aulas, só se falava da qualidade dessas agulhas e comecei a me questionar porque não havia no mercado daqui se tantas pessoas procuram”, conta.

O casal buscou orientação para revender os produtos legalmente no Brasil e iniciou a comercialização, hoje eles detém exclusividade. Hoje a loja vende também Clover, Prym e Addi. No primeiro ano, a empresa somou mais de 900 vendas e um faturamento bruto de R$ 25 mil. O tíquete médio é de R$ 120. Com a entrada das novas marcas, a meta é triplicar as vendas.

Projeto social incentiva abertura de empresa e rendimento extra

Há cerca de dois anos um projeto dinamarquês chamado Octo, de produção e doação de polvinhos de crochê para auxiliar recém-nascidos em UTI neonatal, foi trazido para o Brasil, por meio da própria Danielle Dalledone assim como de outras artesãs de várias partes do país, e foi o que deu uma mãozinha para o administrador Urian Honesko iniciar o projeto de empreender. Crocheteiro desde criança, ele coordena um projeto social na empresa onde trabalha, que confecciona gorros, cachecóis e mantas para serem doados a entidades carentes. Lá, ele introduziu há um ano o projeto do polvinhos para prematuros.

urian honesko crocheteiro que faz amigurumis e coordena um projeto social de polvinhos para criancas

O administrador e crocheteiro Urian Honesko.
(Foto: Patricia Checozzi/Divulgação)

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Foi quando iniciou a paixão pelos amigurumis e começaram a chegar encomendas para venda de outros bichinhos e bonecos em crochê. “Sempre tive vontade de empreender, mas era inseguro. A confecção de amigurumis veio a calhar, pois sendo uma fonte secundária pude apostar com mais segurança”, conta. Há cerca de seis meses, Honesko lançou a marca Amigurian e comercializa seus produtos pelas mídias sociais. “O negócio tem crescido com rapidez. Tenho uma média de dez encomendas por mês e a agenda de 2018 está praticamente lotada.” Por enquanto o tempo de produção é limitado e Honesko fatura R$ 1 mil por mês e está investindo na oferta de workshops.

Saída para o desemprego com a força das mídias sociais

Rebeca Poloni encontrou no tricotin ou i-cord a fonte de renda diante do desemprego. A técnica, feita tanto em crochê como em tricô, é o popular “rabo de gato”. No interior do cordão tecido é inserido um arame e com ele é possível moldar nomes e desenhos. Em 2016, desempregada e inspirada pela irmã, grávida, aprendeu a técnica com auxílio da internet.

Rebeca poloni faz croche do tipo rabo de gato

Rebeca Poloni mostra uma peça de crochê do tipo tricotin (ou “rabo de gato”). (Foto arquivo pessoal)

Além de fonte para aprender a atividade, a web foi um baita incentivo como canal de propaganda. Ela criou o perfil Letras em Tricô nas mídias sociais e uma loja em um site de artesanato. O pulo do gato aconteceu quando Rebeca teve a ideia de presentear influenciadoras digitais com seu produto. “Selecionei três blogueiras, que receberam e postaram o produto marcando o perfil da marca. Outras influenciadoras começaram a pedir parceria. Ao todo, foram 15.”

O negócio ganhou visibilidade e Rebeca comercializou mais de 200 peças em um ano e meio. Hoje produz uma média de 15 nomes e figuras por semana e fatura até R$ 1,5 por mês, em média, com lucro de quase 100%. “Apesar de usar produtos de qualidade, o custo do material é baixo.” A artesã estima um crescimento de 15% nos lucros da marca com a criação de um e-commerce próprio.

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