Após o faturamento despencar 80% em apenas três meses na pandemia, o Nex Coworking vê agora o efeito rebote em suas atividades com a volta do trabalho presencial, principalmente no modelo híbrido. Em operação desde 2011, a empresa de compartilhamento de postos de trabalho individuais e empresariais registrou aumento de 215% no faturamento até aqui em 2022 em comparação ao mesmo período de 2021.
O coworking, que atende companhias como Sodexo, Philip Morris e Siemens, está hoje com 96% de ocupação dos 300 atuais postos, com perspectiva de mais crescimento. Em setembro do ano passado, a empresa inaugurou a segunda sede em Curitiba, na antiga galeria de artes Casa de Pedra, no Batel, mesmo bairro da primeira unidade, na antiga Sociedade Beneficente Batel.
Mas antes da retomada a empresa passou por uma série de dificuldades geradas pela pandemia, que deixou as mesas do coworking vazias por meses. No meio do caos, a sede do Rio de Janeiro teve de ser fechada já que o proprietário havia vendido o prédio. Cenários que foram acumulando as indefinições. "Ir ao prédio e ver o ambiente que deveria estar cheio de gente vazio trazia muitas dúvidas por não saber quanto tempo aquilo iria durar e nem quais seriam os impactos no negócio", explica o diretor do Nex, André Pegorer, em entrevista à Paraná SA.
Por outro lado, Pegorer afirma que a pandemia foi um grande aprendizado. "A sensação era de que se a gente conseguisse passar pela tormenta, a pandemia traria transformações na organização de trabalho das empresas e das pessoas e nós seríamos importantes nesse processo", revela o empresário, citando o trabalho híbrido como a grande mola propulsora que vem vem impulsionando os coworkings na retomada. Leia abaixo a entrevista:
Qual foi o impacto da pandemia no Nex Coworking?
Nossa ocupação e, consequentemente, o faturamento caíram 80% em três meses. Coworking é baseado na presença física das pessoas. Portanto, ficamos limitados pelo risco de contaminação. Com certeza 2020 foi o ano mais difícil do Nex. Mesmo assim, decidimos incentivar as pessoas a trabalhar em home office. Seguimos todos os protocolos e nos períodos mais críticos o Nex só recebia funcionários de empresas que eram consideradas essenciais. E para colaborar nesse cenário, decidimos oferecer as cadeiras dos nossos postos para quem não tinha uma estrutura mínima em casa para poder trabalhar em home office.
O coworking chegou a ficar completamente vazio?
Para cumprir as medidas sanitárias, ficamos fechados um longo tempo. Em dois anos, foram aproximadamente de seis a sete meses fechados e mais seis a sete meses meses com operação parcial, com ocupação de apenas 40%. Agora, pouco mais de dois anos depois, a operação está voltando ao normal.
Qual é o cenário do momento com o fim das restrições sanitárias?
No momento estamos com 96% de taxa de ocupação dos escritórios privativos. São 70 empresas atendidas com escritório fixo no Nex, com cerca de 300 posições de trabalho. Nosso faturamento em 2022 cresceu 215% em relação ao mesmo período do ano passado.
Qual era o sentimento de ver o coworking vazio?
Era um sentimento de angústia e tristeza. Mas também tínhamos noção de que aquilo era necessário. Em nenhum momento fomos contra as medidas sanitárias, mesmo que elas atingissem diretamente o nosso negócio. Mas ir ao prédio e ver o ambiente que deveria estar cheio de gente vazio trazia muitas dúvidas por não saber quanto tempo aquilo iria durar e nem quais seriam os impactos no negócio. Não ter perspectiva era o mais difícil. E não tínhamos como procurar culpados. Afinal, era uma emergência sanitária. Por outro lado, foi um grande aprendizado passar por tudo isso com nossos clientes, fornecedores e funcionários. A sensação era de que se a gente conseguisse passar por essa grande tormenta, a pandemia traria transformações na organização de trabalho das empresas e das pessoas e, consequentemente, para o nosso negócio.
Nesse períodos de indecisões do quadro epidemiológico, vocês conseguiram montar uma estratégia para o retorno?
Criamos um protocolo sanitário próprio para que quando fosse liberada a volta dos clientes estivéssemos preparados para recebê-los. E aí ficamos observando a movimentação da pandemia na Europa, onde o cenário da Covid-19 era por volta de dez semanas à frente do nosso. Ou seja, os avanços que iam acontecendo lá geralmente se replicavam aqui após esse período.
À medida em que fomos atravessando esse período, foi se formando a percepção de que, se sobrevivesse, o Nex seria muito importante na retomada. Afinal, o sistema híbrido de trabalho não foi criado com a pandemia. Mas foi a pandemia que acelerou o processo para esse formato. E nesse processo o Nex vai ter relevância.
Como a pandemia acelerou essa movimentação das empresas para adotarem o sistema híbrido de trabalho?
A pandemia acelerou muito a coisa. Não cometo o erro de dizer que há males que vem para o bem, porque muitas pessoas morreram e a pandemia ainda preocupa. Mas nesse período de dificuldade a gente teve de parar e repensar o modelo. E o que está emergindo agora gera oportunidades. Não só oportunidades de trabalho, mas também de qualidade de vida. Nisso o híbrido é muito importante porque as pessoas ainda precisam se encontrar pessoalmente, porque a inovação emerge da interação.
A diferença é que ficou evidente que o trabalho não precisa ser de 8 horas por dia no mesmo lugar cinco ou seis vezes por semana. As pessoas podem se encontrar uma ou duas vezes por semana ou uma , duas, três vezes por mês... Enfim, conforme a necessidade das empresas em que elas trabalham.
Houve algum momento durante ou após o pico da pandemia em que vocês conseguiram enxergar uma luz de que o negócio iria se reerguer?
Não teve assim um momento eureca. Isso foi se construindo. Mas posso dizer que não foi fruto do acaso. Usamos esse tempo para estudar e rever o momento do negócio. Alguns serviços deixamos para trás e outros remodelamos e estão dando certo.
O que está dando certo nessa retomada?
Muitas empresas entenderam que não vão mais ter endereço físico. Mas que, mesmo assim, precisam do espaço físico para receber correspondências, receber clientes ou mesmo fazer reuniões, encontros eventuais entre os colaboradores. Esse é o conceito de escritório fiscal que está crescendo e nós tempos uma boa frente nessa área.
O outro ponto é o próprio trabalho híbrido, que é um conceito que está em constante desenvolvimento nas empresas. Por isso reformulamos os negócios nos nossos espaços avulsos. Lançamos um serviço que facilita a organização para as empresas disponibilizarem diárias a seus colaboradores, para que as pessoas possam se encontrar no trabalho.
Está crescendo o conceito Open Office, em que a empresa tem um escritório, mas as vagas não são fixas. Antes as empresas alugavam os espaços para uma determinada equipe. Agora, o espaço é da empresa, mas para variadas equipes. Tanto que a tendência está sendo de locarmos espaços menores mas para grupos maiores, justamente pela rotatividade dos funcionários da própria empresa no ambiente do coworking. E isso é exatamente o conceito do trabalho híbrido.
O Nex chegou a demitir funcionários na pandemia?
Optamos por não demitir. Pragmaticamente, teríamos que ter demitido. Mas eu acredito que as empresas têm um papel social. A existência de uma empresa pressupões responsabilidade na sociedade. Digo isso sem juízo de valor a quem teve que demitir na pandemia. Cada caso é um caso. Mas eu preferi me endividar para não demitir. Hoje temos 20 funcionários, o mesmo número de antes da pandemia. A única questão que tivemos foi o fechamento do nosso coworking no Rio de Janeiro. Mas por outro motivo: o proprietário decidiu vender o prédio em que estávamos e todos os ocupantes do condomínio tiveram que sair.
Como foi o fechamento da sede no Rio? O Nex pretende voltar para lá?
Foi marcante. Fui para o Rio de Janeiro em fevereiro de 2021 justamente para uma reunião estratégica com a equipe de lá sobre o planejamento para a retomada. Acabei a reunião, os donos informaram da venda do imóvel. O Rio foi um capítulo muito importante da história do Nex. Tanto que semanalmente a gente recebe mensagens perguntando se vamos voltar. Tínhamos grandes clientes lá, como o Spotify. Ainda é cedo para dizermos se vamos voltar ou não. No momento, o foco da operação é Curitib, onde inauguramos a nova sede.
Qual a capacidade da nova sede do Nex no Batel?
Em setembro do ano passado abrimos a segunda unidade em Curitiba, com capacidade para 80 coworkers. E essa mesma sede já está em fase de ampliação. A nova sede é na conhecida Casa de Pedra, que por anos abrigou uma galeria de arte.
Como é rever colegas de trabalho se reencontrando após tanto tempo no coworking?
É muito bonito ver as pessoas se reencontrando após um período de tantas dificuldades para todos. Eu até me emociono. Nex é o meio da palavra conexão. O propósito do Nex é o encontro. E ver as pessoas se reencontrando aqui ou até mesmo se conhecendo pessoalmente, no caso de colegas de trabalho que só se viram remotamente, é muito especial. Como disse antes, a gente acredita no conceito de que tudo emerge da interação. E nesse momento precisamos de ambientes acolhedores, para que o dia de trabalho das pessoas sejam felizes. Por isso vamos manter exposições na nossa nova sede no Batel, que antigamente era uma galeria de artes.
Pragmatismo não deve salvar Lula dos problemas que terá com Trump na Casa Branca
Bolsonaro atribui 8/1 à esquerda e põe STF no fim da fila dos poderes; acompanhe o Sem Rodeios
“Desastre de proporções bíblicas”: democratas fazem autoanálise e projetam futuro após derrota
O jovem que levou Trump de volta ao topo
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast