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Projeções

Dólar alto deve pressionar custos do agronegócio paranaense em 2022

Choque commodities
Colheita de soja (Foto: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo)

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O custo do dólar frente ao real terá um sabor agridoce para o agronegócio paranaense em 2022. Se nos últimos dois anos os exportadores se beneficiaram com o alto preço da moeda norte-americana, agora o custo de insumos que precisam ser importados, principalmente fertilizantes e defensivos, começa a pesar dentro das porteiras. Embora a projeção de especialistas ainda seja de mercado externo aquecido, a lucratividade no campo deve cair.

Neste mês, uma projeção da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) apontou que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro deve crescer 9,37% em 2021, mas ficar abaixo dos 5% em 2022. Calculada em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a expectativa mostra que o setor passará por gargalos no próximo ano.

"Neste ano de 2021, o produtor rural já conviveu com o aumento de mais de 100% nos custos com fertilizantes e defensivos para culturas como soja e milho e a tendência para o próximo ano é de que este quadro se mantenha", disse em comunicado a CNA. Os dados apontam que um dos defensivos mais utilizados na agricultura, o glifosato, subiu 372% entre outubro de 2020 e outubro de 2021. Outro insumo vital, a ureia, bateu 147% de alta no mesmo período.

A realidade nacional se refletirá na local. "A relação de troca, que é quantos sacos de soja eu preciso para comprar uma tonelada de fertilizante, estava boa [até este ano]. Mas, daqui para a frente, vai piorar um pouco. Vamos precisar de mais sacas de soja para comprar a mesma tonelada de fertilizante porque muitos insumos mais que dobraram de preço", diz Robson Mafioletti, superintendente do sistema Ocepar, que congrega as cooperativas do Paraná.

O profissional aponta que uma boa safra pode mitigar o efeito, dando mais poder de compra para o agricultor. Ele indica, no entanto, que a estiagem prolongada em regiões produtoras de soja, como Oeste e Sudoeste do estado, tem preocupado os produtores. Com uma possível quebra de safra, o menor ganho no campo pode se reverter em perdas reais.

“O clima seco e quente persiste, e traz preocupações aos produtores paranaenses. Das lavouras [de soja] a campo, 83% estão em boas condições, 15% estão em condições medianas e cerca de 2% estão em condições consideradas ruins”, apontou o Departamento de Economia Rural (Deral), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, em seu boletim mais recente.

O departamento observou, no documento do dia 9 de dezembro, problemas também na produção do milho. “O principal motivo é a situação climática que apresentou em várias regiões do estado calor intenso durante o dia, temperaturas mais frias à noite, umidade baixa e chuvas irregulares. Isso fez com que as plantas fossem impactadas, piorando a situação. O relatório apontou que temos 90% da área total de 430 mil hectares em condições boas, enquanto na semana anterior este porcentual era de 95%”, diz a avaliação.

Soja e milho, que entrarão em fase de colheita nos próximos meses, preocupam porque são base de toda a cadeia do agronegócio do Paraná. Eles vão para a ração que alimenta aves e suínos, por exemplo, produtos dos quais a economia do estado é altamente dependente.

Produção deve seguir com foco no mercado externo 

A produção do campo deve ter novamente como principal destino o mercado externo. Um roteiro parecido com o desse ano. Para Mafioletti, isso ocorrerá pelo menor poder de compra do brasileiro, já que o consumo das famílias vem sendo pressionado pela inflação. "O consumo no mercado interno foi pior do que em 2020. No ano passado nós tínhamos o apoio do governo com o auxílio-emergencial. Aquilo ajudou bastante. Como os preços dos produtos continuaram subindo, além do fato de as altas do combustível tirarem uma parte da renda do brasileiro, o mercado doméstico ficou bem mais fraco em 2021", diz.

Com essa conjunção de fatores, o Brasil bateu recorde de exportações neste ano, observando números de janeiro a novembro: os envios somaram valor de US$ 110,7 bilhões, acima do recorde anterior, de 2018, quando as exportações somaram US$ 101,2 bilhões.

Porém, o cenário de mercado internacional ainda traz algumas incertezas. “A repetição dos bons números de exportação dependerá da demanda. O Brasil ocupou o lugar de produtores chineses, por exemplo, que pararam por uma série de razões. Precisamos ver como os países concorrentes vão se sair. Também tem a questão de normalização da logística, com mais contêineres para o transporte dos produtos. Se a pandemia voltar a preocupar, a tendência é termos uma piora nos processos logísticos. Como estamos em uma situação excepcional, cada fator pesa e cada fator é indecifrável”, diz o especialista em comércio exterior Walter Souza Jr.

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