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A retomada das atividades econômicas e um especial aquecimento das vendas online devem mexer com os negócios da Klabin, maior fabricante de embalagens e papéis do Brasil. E de maneira positiva. É em um cenário de boa demanda que a gigante paranaense deu início, nesta semana, às operações do primeiro maquinário da Puma II, fábrica construída em Ortigueira, nos Campos Gerais, e que aumenta a capacidade de produção de papéis kraftline - base para o papel ondulado tão usado no e-commerce.
O momento se reflete nos números. Francisco Razzolini, diretor de Tecnologia Industrial, Inovação, Sustentabilidade e Projetos da Klabin indica que toda a produção de 2021 já está vendida. E além: 70% do que será fabricado em 2022 também estão contratados.
Nesta entrevista, o executivo aponta as perspectivas para a empresa com a nova linha de produção, um megaprojeto que custou, até o momento, R$ 7 bilhões (novos R$ 5 bilhões deverão ser investidos na segunda fase da indústria, com novos maquinários) e empregou cerca de 21 mil pessoas. Acompanhe:
Gazeta do Povo: Com o início das operações desse maquinário, como a Klabin se posicionará entre os fabricantes de papéis no Brasil e no mundo?
Francisco Razzolini: A Klabin é um player relevante neste mercado. Nós temos exportação de papel kraftliner para diversos lugares do mundo e somos o principal fornecedor aqui do Brasil. Nós integramos muito do papel kraftliner em nossas próprias conversões de caixa de papel ondulado. É para isso que ele é utilizado. Esse mercado, nesse momento sofre um boom de demanda, causado pela retomada [das atividades econômicos após o impacto inicial da pandemia] e retomadas pontuais em mercado em que a gente atua, principalmente o de alimentos -- esse papel, chamado de fibra virgem, é muito utilizado para isso. E [a demanda aumentou] principalmente com o crescimento do e-commerce. A gente está inclusive com falta deste produto. Essa máquina entra em um momento importante da economia para suprir [essa demanda].
Qual é a produção esperada no curto prazo?
Essa máquina não começa com 100% da capacidade de produção. Ela tem uma curva de aprendizado. Estimamos que neste ano devemos fazer 100 mil toneladas. Para o próximo ano, devemos atingir níveis acima de 300 mil toneladas/ano. A capacidade total, de 450 mil toneladas, deve ser atingida após 2023.
A empresa anunciou já ter vendido 100% da produção esperada para 2021. E para o ano que vem? Como estão as negociações?
Para o ano que vem, temos 70% do volume produzido contratados. Não vemos dificuldade de colocar os outros 30%. Foi uma opção nossa não vender 100% inicialmente. Desse volume, 65% vão para exportação e 35% para o mercado interno.
Por que a conclusão desta primeira etapa, prevista inicialmente para julho, atrasou?
Esse projeto foi executado em um momento muito difícil por conta da pandemia. Ele vinha até à frente do que a gente esperava até março do ano passado. No começo da pandemia, chegamos a paralisar o projeto por quatro semanas, até que tivéssemos todos os protocolos. Foi feita uma retomada gradual de pessoas para trabalhar. Esse projeto chegou a pico de quase 10 mil pessoas [trabalhando ao mesmo tempo]. Para ter um ambiente de trabalho com toda a segurança para esse nível de números tem que implantar uma série de medidas. O que levou a gente a ter um pouco de atraso foram as consequências da pandemia. Nessa fase final do projeto, que é muito técnica, precisamos trazer muitos técnicos estrangeiros. E nós tivemos dificuldades para trazer alguns deles por conta dos protocolos de entrada no Brasil. Tivemos também que fazer muitas operações de forma remota, com as pessoas acessando os nossos sistemas e nos ajudando lá da Finlândia, da Suécia, de toda Europa.
Com esse novo maquinário, a Klabin passa a produzir o eukaliner, uma variação própria do kraftliner. O que a empresa ganha com ele?
São vários pontos importantes. O primeiro é a sustentabilidade. Esse papel é feito com fibra de eucalipto, que é uma fibra curta, em que o ciclo de rotação da floresta leva metade [do tempo] de um [ciclo] de fibra longa, como pinus. Nós conseguimos produzir muito mais em uma área florestal menor. Temos um benefício de custo com isso. Também no processo de transformação da madeira em celulose ele tem rendimento superior aos outros tipos de fibra. Ganhamos na produtividade florestal e na produtividade industrial. Com isso usamos menos produtos químicos, menos energia, menos água. Outro ponto importante é o desempenho deste papel no que chamamos de corrugadores, que é onde é fabricado o papelão ondulado. Ele tem uma performance melhor. É um papel mais uniforme, consome menos energia, permite que se trabalhe em velocidades maiores. É um ganho de produtividade também para nossos clientes. Nós conseguimos fazer diversos testes com estes papéis aqui no Brasil - [sua produção] existe em vários lugares do mundo, como Europa, Oriente Médio e Estados Unidos - e conseguimos confirmar que esta receita inédita funciona. Os primeiros testes, dos papéis que saíram na primeira leva da produção, também indicam isso. São bastante superiores em qualidade aos papéis no mercado de fabricantes tradicionais: os escandinavos e os americanos.
Recentemente, a empresa mudou a segunda fase do projeto Puma II e optou por fabricar papel cartão no segundo maquinário (que ainda será instalado). Por quê?
Isso veio de nossa estratégia de mercado, das janelas de oportunidade que nós temos acompanhado. A gente já faz esse tipo de papel dessa nova máquina, que nós chamamos de '28' e virá até 2023, na unidade Monte Alegre, de Telêmaco Borba. Nós somos hoje o maior fabricante do Brasil de papel cartão e somos fornecedores principalmente da cadeia de embalagens longa vida. Somos um dos três maiores fabricantes do mundo. Esse mercado está bastante aquecido também. E a gente consegue integrar [usar na produção de outros produtos da Klabin]. Eu preciso ter a fibra do eucalipto, a fibra do pinus, a fibra de papel branqueado e a não-branqueado. Nós já temos isso tudo na unidade Puma, onde este projeto está localizado. Casou a situação.
Nos últimos anos, a Klabin comprou ativos importantes, como a operação da International Papers no Brasil. Esse movimento de aquisições deve continuar?
Nós avaliamos todas as oportunidades de mercado e analisamos o crescimento em investimentos. E quando há oportunidades de aquisições, a gente olha. Neste momento não tem nada em processo de negociação, mas sempre que aparece alguma coisa, nós olhamos se está alinhado com a estratégia da empresa, com as condições econômicas e com a questão ambiental. Prezamos muito pelo crescimento sustentável.