*Jéssica Maes, especial para a Gazeta do Povo
Tempos de crise econômica pedem soluções nos negócios. Especialmente em resposta às dificuldades no mercado interno brasileiro, empresas paranaenses expandiram ainda mais seu olhar para além das fronteiras nacionais nos últimos anos. Porém, todo grande passo inclui desafios - e um projeto de pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) se debruçou sobre diferentes setores para traçar um diagnóstico da internacionalização das companhias e cooperativas do estado.
Com sete anos de duração, a previsão é de que a pesquisa vá até 2020. Ela é chefiada pelo professor Luís Carta Winter, coordenador da especialização em Direito, Logística e Negócios Internacionais da PUC-PR, e engloba duas teses de doutorado, seis mestrados e dez projetos de iniciação científica (voltados para alunos da graduação). Nas pesquisas foram analisadas áreas importantes para a economia paranaense, como agropecuária e indústria.
"A ideia desse projeto é fazer com que os alunos - mestrandos e doutorandos, mas principalmente graduandos - achem uma colocação no mercado quando saem da faculdade", afirma o professor. As atividades não fazem apenas o diagnóstico dos setores empresarias, mas também aproximam os alunos dos empregadores, fomentando um relacionamento que pode dar frutos.
O pesquisador aponta que, especialmente quando se fala em enxugar a máquina estatal, a tendência é de diminuição nos concursos públicos, que absorvem muitos dos graduados em Direito. Por isso, é preciso expandir as possibilidades e os currículos dos estudantes. Os participantes trabalham em parceria com o Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Desta maneira, é possível utilizar a mão-de-obra qualificada da academia para auxiliar na expansão das empresas paranaenses. "O interesse é recíproco e o resultado, promissor", afirma Winter.
Cenário econômico
A diminuição do consumo em solo brasileiro acabou forçando muitos empresários mudarem o foco para não ficarem para trás. "Nós aproveitamos esse mercado [interno brasileiro] de 150 milhões de pessoas, mas ele não é o suficiente. Para crescermos, nós precisamos de dinheiro de fora, precisamos importar e exportar. Essa é a única maneira de crescer. Então, nestes próximos anos, o comércio exterior passa a ser uma questão estratégica e aquele que tomar conhecimento disso vai sair na frente", aponta o professor.
Com sede na cidade de Cafelândia, região Oeste do Paraná, a Cooperativa Agroindustrial Consolata - mais conhecida pela sigla Copacol - é um exemplo de quem precisou ajustar o curso para se adaptar ao momento de crise. Ainda que, historicamente, as vendas da empresa do ramo alimentício sejam divididas igualmente entre Brasil e exterior, no momento a balança está pesando mais para o mercado internacional, que representa atualmente 55% do total dos lucros.
"Para manter o equilíbrio nas contas, temos que participar do mercado externo e do interno com boas condições de qualidade", afirma o presidente da cooperativa, Valter Pitol. Exportando para mais de 50 países, em cinco continentes, há um ano a Copacol abriu o escritório fora de terras brasileiras, em Dubai. "O que analisamos aqui, de acordo com a nossa perspectiva, era que precisávamos estar em Dubai para melhor atender o Oriente Médio. Aproximadamente 25% da nossa exportação vai para a região, cerca de cinco mil toneladas [de produtos] por mês", explica. Segundo ele, essa presença é importante para dispensar mais atenção aos parceiros atuais e fazer prospecção de novos clientes.
Fundada há mais de 50 anos, a cooperativa já está bem estabelecida no mercado internacional e exporta há três décadas. Inicialmente, a produção era focada na agricultura, mas hoje a empresa é referência também na avicultura, suinocultura, bovinocultura de leite e piscicultura, além de fabricar em escala industrial. São exatamente estes dois aspectos - produção em larga escala e diversificação no catálogo de produtos - os considerados mais críticos para a internacionalização das cooperativas paranaenses, de acordo com o grupo de pesquisa da PUC-PR.
“A diversificação das atividades também pode influenciar na minimização dos riscos de se operar em um único mercado”, explica Matheus Camparim, que analisou o setor durante a graduação. “Isso também acarreta o rompimento das barreiras protecionistas impostas aos produtos comoditizados, além de intensificar a competitividade global entre cooperativas, o que acaba chamando a atenção do consumidor final”.
A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) tem 74 filiadas, formadas por aproximadamente 140 mil cooperados, que representam 55% da economia agrícola do Estado do Paraná. Elas participam ativamente da produção, beneficiamento, armazenagem e industrialização de grande parte dos produtos agropecuários produzidos no estado.
Indústria paranaense
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para primeiro trimestre de 2019 mostram que a produção industrial do Paraná teve o maior crescimento do país, com um aumento de 7,8% em comparação com o mesmo período do ano passado. Enquanto isso, a produção industrial brasileira fechou o primeiro trimestre com redução de 2,2%, o que demonstra a força do setor em relação ao quadro nacional.
Representando cerca de 25% do Produto Interno Bruto do Paraná, o setor industrial tem seus próprios desafios quando o assunto é comércio exterior. Analisando especificamente a indústria metal-mecânica, o grupo de estudos liderado por Winter encontrou entraves no excesso de burocracia, complexidade tributária e na precariedade da infraestrutura logística. Porém, estes mesmos aspectos são considerados obstáculos em todos os setores da indústria.
"Na indústria em geral há um receio sobre o nível de burocracia existente. O caminho de A a Z para exportar não é fácil", diz o vice-presidente e coordenador do Conselho Temático de Negócios Internacionais da Fiep, Paulo Pupo. Ele explica que as empresas, independente do seu tamanho, precisam cumprir vários passos para importar e exportar, usando ferramentas diversas e obedecendo a trâmites documentais específicos para diferentes países. "Os industriais precisam, então, entender quais as ferramentas existentes no mercado, tanto para financiamento da operação quanto para investimento em melhorias tecnológicas; compreender os desafios culturais, burocráticos e mercadológicos; e ter conhecimento das normas técnicas que devem obedecer", enumera.
Pupo aponta, ainda, as dificuldades impostas pelos altos custos de logística no Paraná. Além do pedágio mais caro do país, conta ele, a operação portuária também é dispendiosa. "E, além disso, todos os setores estão passando por um problema de escassez de crédito - com taxas muito distantes das taxas internacionais que os nossos concorrentes praticam - devido à instabilidade política e à crise econômica", acrescenta.
Ao lado da carência no crédito e na infraestrutura, o professor Wilhelm Meiners, do departamento de Economia da PUC-PR, acredita que a indústria paranaense sofre com a falta de uma força de trabalho mais qualificada para lidar com o mercado externo. "Essa qualificação existe, mas ela é fortemente concentrada. Com o crescimento industrial que a gente observou, por exemplo, no final da década passada e no início dessa década, houve carência de mão de obra qualificada", aponta o pesquisador, que acredita que isso é um limite para ganhos de produtividade.
Foco na Ásia
Para o futuro, o conselho dos especialistas é de que os produtores paranaenses olhem ainda mais longe: para o Oriente. "Temos que procurar mercados emergentes, como o asiático", destaca Winter, acrescentando que há mais oportunidades pela dimensão do público consumidor, com muita demanda.
Meiners, por sua vez, ressalta que o Paraná precisa ser mais agressivo para posicionar seus produtos nas cadeias globais de valor e em blocos mais dinâmicos. "O bloco de mercado mais dinâmico que existe hoje é o Extremo Oriente e o Paraná não participa das cadeias globais de valor, ele participa como fornecedor de matéria prima de produto primário", esclarece.
Para ele, tanto o estado como a produção nacional, como um todo, não conseguem alcançar países como Índia, China e Coreia do Sul com produtos básicos - e isso é uma fraqueza. "Se a gente consegue colocar nosso produto em mercados exigentes como a União Europeia e a América do Norte, por que a gente não consegue colocar nosso produto na Ásia? Porque a gente é pouco competitivo", conclui.
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