Camilo Turmina, presidente da Associação Comercial do Paraná| Foto: Divulgação
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O setor de comércio e serviços do Paraná enfrentou seu maior baque histórico, mas está pronto para começar a recuperação, na visão de Camilo Turmina, presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP). A entidade, que representa 30 mil empresas do estado – em um universo de 550 mil --, foi uma das mais ferrenhas defensoras de medidas menos restritivas às atividades econômicas para conter a Covid-19 neste um ano e meio de pandemia. “É que houve excesso no ‘fecha tudo’”, como classifica o executivo.

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Há, por trás de sua batalha, uma razão de ordem econômica. Cerca de 20% das empresas do segmento que a ACP representa fecharam, segundo números da entidade. Agora, quanto mais veloz a retomada, melhor será sanada a saúde financeira dos empresários do estado. E o melhor momento para isto é este fim de ano, uma época tradicional de vendas e que, neste ano, ganhará um reforço adicional com o avanço da vacinação.

Nesta entrevista, Turmina faz um balanço dos efeitos da pandemia e projeta a recuperação do setor, que deve crescer entre 10% e 15% na comparação com o segundo semestre do ano passado. Confira:

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Passado quase um ano e meio de pandemia, qual é a situação do empresário que atua no setor de comércio e serviços no Paraná e, em especial, em Curitiba? 

Tem muita gente com as contas no vermelho. Fomos muito impactados. Nas últimas bandeiras, até março, por exemplo, não tivemos ajuda de ninguém. Não houve nenhuma forma de redução de jornada ou [acordo de] quebra de contrato. Teve muito pedido de empréstimo para capital de giro. Temos uma pesquisa informal que mostra que mais de 60% [dos empresários associados] criaram uma forma de vender diferente. Venda virtual por exemplo. Os que ficaram no mesmo padrão acabaram fechando. Os que criaram uma maneira [diferente] de atender seus clientes, passaram melhor. Mas os empréstimos para capital de giro triplicaram. O governo lançou várias linhas de empréstimo, como o Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, do governo federal]. Já quase gastaram todo o dinheiro. E faltou dinheiro porque a atividade econômica ainda não voltou ao normal. Agora que estamos saindo do rescaldo.

Quantas empresas fecharam nesse período? 

Diria que 20% das lojas fecharam. Quando soma com serviços, como bares, restaurantes e turismo, esse número é maior ainda. Se você não tem volume de negócios, não tem como se sustentar. A venda pequena não paga a conta. Fora os que foram embora. Você vê hoje muitas lojas vagas. As que estão aí ainda não encontraram o caminho do lucro. Estão buscando a manutenção dos seus negócios. É um momento ainda difícil, mas a esperança está aí, que é a vacinação. A volta das atividades deve entrar em outro patamar. Mas vai demorar até encontrarmos o equilíbrio para [o setor de] eventos, por exemplo.

Esse é um ponto interessante: nem todos os setores foram afetados da mesma forma então? 

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Quando você olha para os números [indicadores econômicos], já há alguma melhora. Algumas empresas vão mal e outros vão bem. Se pegar o varejo, de cada mil lojas, uma vai focar bem. É a Multiloja, a MadeiraMadeira, que vendem pela internet. A loja física está apanhando. Os setores que apanharam são do vestuário, calçados. Mudou hábito de consumo do próprio cliente.

A internet foi o segredo de quem passou melhor pelo período? 

Quando você olha para a Magalu ou para a Multiloja, que é uma empresa local, elas dobraram o faturamento. As empresas digitais conseguiram. Sabemos que 35% de todo o consumo é digital. De cada três vendas, uma é pela internet. O físico hoje é quase um centro de distribuição. O cara vem aqui na loja para comprar uma joia, ele já viu na internet, já soube o preço. Fica apenas cinco minutos aqui. Esse conceito mudou muito.

Quais foram, na sua visão, os erros da prefeitura de Curitiba e do governo do estado na condução das políticas de restrição às atividades comerciais? 

No exagero. Eles radicalizaram muito o ‘fecha tudo, não abre nada porque o vírus vai te pegar’. O estado foi mais complacente. Fez muito menos restrições. Já o prefeito [Rafael Greca – DEM] nadou de costas. Tivemos brigas homéricas com a prefeitura porque toda semana tinha uma bandeira. Ele impactou muito [o setor] em Curitiba. Tanto é que começamos a contar os dias de interferência da prefeitura [no funcionamento das empresas]. Terminou com aquela carreata que fizemos. As restrições de Curitiba foram muito pesadas. Foi aí que entrou o [Darci] Piana [vice-governador do Paraná], negociando os horários e funcionamento. Isso ajudou o setor, porque não era uma questão de vender mais. Era para ter uma renda. Imagina você pagar funcionários sem ter nada entrando. Felizmente houve um entendimento e começou a reduzir a pressão.

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Com o fechamento de 20% das empresas do setor e com a situação crítica em outras tantas, como ficaram os números do desemprego? 

Olha como é interessante. Quebraram empresas, ganhamos vários desempregados, mas também um caminhão de MEIs [microempresários individuais]. Criamos muito trabalhador. Estamos falando de um milhão de novos MEIs, enquanto foram 800 mil empregos perdidos. Houve acréscimo no número de pessoas dispostas a trabalhar. [O estado] Fechou CNPJs majoritários, mas ganhou empresários individuais. Hoje é temerário para qualquer empresa assinar uma carteira. Mas, se você olha um MEI, ele tá contratado. Porque produção, todos nós precisamos. E, além disso, o comércio já paga salário fixo e comissões. Todo funcionário, hoje, participa dos resultados. Se a empresa vender bastante, ele ganha bastante. Se não ganhar nada, ele não ganha. O desemprego se concentrou nas empresas que tiveram que fechar ou reduzir operações.

Estamos entrando em um período historicamente excelente para comércio e serviços, que é o fim do ano. As empresas estão preparadas para atender a demanda? E o principal: haverá demanda de consumo? 

Sou extremamente otimista. Acho que vacinaremos todos acima de 18 anos até o começo de setembro e voltamos ao normal. Precisamos do consumidor com disposição para comprar. Estamos com um consumo reprimido. Se ganharmos confiança de que terá trabalho, a vida volta ao normal, as pessoas compram mais, realizar seus sonhos. Nós viemos de um Natal difícil no ano passado e estamos com um ano e meio de pandemia. Tem tudo para voltarmos a crescer. Mesmo nos setores que foram muito impactados. Imagina a tristeza do [restaurante] Madalosso, que não faz um casamento mais. A esperança está na vacina. Aí as pessoas vão se libertar. Daqui para a frente, vai depender de diminuir o risco com a saúde para pararmos de vender tanta máscara e começarmos a vender mantimentos e outros produtos. Vamos deixar o álcool gel e as máscaras um pouco de lado.

Comércio e serviços vão voltar ao patamar de 2019? Ou seja, vamos vender como antes da pandemia? 

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[O resultado] Vai ser maior do que 2020, mas igual a 2019 vai demorar muito ainda. Tivemos 20% de quebra no ano passado em relação ao ano anterior. Eu acredito que vamos recuperar de 10 a 15%. Vamos crescer em relação a 2020. É um panorama bem melhor. As pessoas trabalhando, tendo renda e vão consumir.