Com um desfecho econômico imprevisível, a crise sanitária causada pela pandemia do coronavírus colocou o empresariado no olho do furacão – sobretudo os de pequeno e médio portes. Enquanto tateiam alguma fórmula salvadora para seus negócios, e aguardam a consolidação das políticas públicas propostas por governos federal e estadual, esses empresários recorrem a saídas criativas para, pelo menos, mitigar os efeitos de uma rasteira econômica que se desenha.
Uma incorporadora paranaense, a GT Building, reforçou seus sistemas de atendimento remoto. Via videochamada, o potencial cliente é atendido por um corretor, pode fazer suas simulações de financiamento e, claro, tours virtuais por empreendimentos. Se quiser fechar negócio no ato, o comprador tem a opção de assinar um contrato eletrônico. Visitas físicas até são feitas, mas com agendamento prévio e apresentação individual.
A Terrasse Engenharia, com 20 edifícios residenciais e comerciais para venda em Curitiba, segue o mesmo caminho: oferece ao comprador tour virtual 3D e 4K dos apartamentos decorados de seus principais empreendimentos. “Acessando os links, o cliente pode visitar o apartamento decorado virtualmente, sem precisar sair de casa, e ter a noção real da disposição e do tamanho dos cômodos, da melhor forma de aproveitamento dos espaços e de cada detalhe da decoração”, diz o diretor, Jefferson Gomes da Cunha.
Da mesma forma, a Swell Construções usa vídeos para apresentar os detalhes de seus empreendimentos prontos e o acompanhamento da obra de seus imóveis em construção, alguns com depoimentos de membros da incorporadora e clientes.
Vendas online e pré-vendas
Nada disso, obviamente, é novo. Mas a estratégia de digitalizar as vendas se tornou a regra definitiva do período de quarentena.
Mesmo atuando em um ramo considerado de “serviço essencial” – aqueles que não estão sujeitos às determinações de fechamento --, a petshop Esalpet colocou seu portfólio de 2,5 mil produtos no e-commerce. E com condições especiais para impulsionar as vendas: moradores de Curitiba tem frete grátis (para compras acima de R$ 100), entrega em 24 horas e 10% de desconto na primeira compra.
A rede curitibana de fish n’ chips Sirène, por sua vez, está vendendo vouchers para consumo pós-quarentena em seus estabelecimentos em todo Brasil. O setor dos bares e restaurantes é o que já sente com maior intensidade os efeitos do chamado “isolamento social”. “Parte do setor é composto por pequenos negócios, todos já estão sentindo a pandemia de uma forma muito dura nos últimos dias, para que os prejuízos financeiros sejam minimamente diminuídos, nós iremos comercializar vouchers virtuais, para que os nossos clientes possam nos ajudar a superar a crise”, diz Lucas Lopes, sócio-fundador da marca.
Os vouchers vão de R$ 20 e R$ 500, dinheiro a ser usado no giro de caixa da rede. Em troca, o usuário terá o retorno de R$ 8 quando for usufruir de sua compra, além de ganhar brindes como tênis, meias e bonés.
É uma estratégia semelhantes à da Lola Li Doceria, que também aposta nos vouchers para manter um fluxo de caixa e ter verba para pagamento de funcionários e fornecedores. As opções são de R$ 20, R$ 50 e R$ 100, que viram R$ 25, R$ 60 e R$ 120 na hora da troca.
E tem mais ações. Um grupo de pequenos empresários do ramo de chocolates lançou a campanha “Páscoa Adiada” nas redes sociais. O segmento é um dos que mais sofrerá com a quarentena. É que a data religiosa será celebrada no dia 12 de abril. Com as regras de isolamento social, espera-se uma redução considerável nas vendas de ovos e bombons.
Com a hashtag #pascoaatéjunho, esse conjunto de confeiteiros pretende dar fôlego a quem produz – a mão de obra tem sido afetada por conta do risco do coronavírus – e a quem compra. O objetivo é estender as vendas pelos próximos meses.
Futuro incerto para os pequenos e médios
Apesar do conjunto de medidas amenizadoras vistas aqui e acolá, a preocupação com a sobrevivência das empresas pequenas e médias para além da pandemia é uma constante no setor produtivo. E na economia como um todo, já que a principal geração de empregos está justamente neste tipo de estabelecimento.
De acordo com números do Sebrae, nove em cada dez empregos gerados no Paraná em 2019 foram em uma micro ou pequena empresa (MPE). A entidade filtrou os números do Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados mensalmente, e concluiu que as MPEs tiveram um saldo de 46.794 postos de trabalho – 91% do total no estado, que foi de 51.194 vagas.
Para comparar, as empresas médias e grandes geraram apenas 4.447 novas vagas no período.
Segundo um levantamento do Sebrae, alguns dos setores mais afetados pela crise do coronavirus são construção civil, alimentação fora do lar, moda e varejo tradicional.
Para especialistas, a solução é que o empresário esteja preparado para adotar medidas de austeridade, não apenas esperar as condições externas de impulsão da economia. Obviamente elas virão. O governo do estado, bem como o federal, já anunciou algumas ações para evitar a quebra e desemprego nas MEIs. “Teremos um abalo econômico mundial. Nesse segundo estágio, vamos atender comerciantes, industriais, autônomos e microempreendedores”, disse nesta semana o governador do Paraná Carlos Massa Ratinho Junior (PSD).
Por enquanto, segurar as contas, renegociar as dívidas e “queimar” de forma inteligente o caixa acumulado são as principais delas e devem funcionar, pelo menos, em um cenário mais otimista, com a crise durando poucos meses.
O próprio Sebrae tem disponibilizado atendimentos online e sem custos para auxiliar os empresários na crise. Além dos cursos, há um levantamento de cases de outros empreendedores que encontraram soluções inovadoras e dicas de como lidar com a atual situação.
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