Flávia Silveira, especial para a Gazeta do Povo
Há quem diga que em momentos de crise é que a criatividade costuma ficar mais aflorada. E isso pode ajudar muito na hora do aperto financeiro que, para muitos brasileiros, chegou com a crise econômica.
É neste contexto que começa hoje em Curitiba o 8º Quilt & Craft Show, feira que reúne empresas e profissionais artesãos de diferentes modalidades. A feira começa nesta quarta-feira (29) e vai até sábado (1.º), na ExpoUnimed Curitiba. São esperadas 10 mil pessoas circulando nos pavilhões durante os quatro dias da Quilt & Craft, vindas de todo Brasil. Só nas caravanas, ônibus fretados por grupos de mais de 15 pessoas, são esperadas duas mil pessoas. A expectativa é que a feira gere mais de R$ 10 milhões em negócios.
“Neste ano, tivemos muito mais facilidade em fechar os expositores, reflexo do bom momento do setor. 100% dos espaços já estão vendidos”, conta, orgulhosa, Emília Aoki, organizadora da feira.
Além das 100 empresas que participam expondo e negociando matérias-primas, produtos prontos e maquinários, a feira oferece cursos gratuitos três vezes ao dia, com técnicas diversas como amigurumi (técnica japonesa para fazer bichos em crochê), flâmulas, bastidores decorados e costura criativa. “Os cursos gratuitos são ideais para a parte do público que quer ter o primeiro contato com alguma técnica”, diz a organizadora.
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Como forma de complementar a renda familiar, ou mesmo como fonte única de renda, a economia criativa costuma ganhar fôlego em um cenário desfavorável. A expressão “economia criativa”, cunhada pelo consultor britânico John Howkins, se refere ao uso do conhecimento como principal insumo produtivo e abarca tanto a indústria cultural como artesanato, design e moda, passando por games, publicidade, inovação e desenvolvimento de novas tecnologias.
Segundo ela, boa parte das pessoas que já sabem fazer algum trabalho manual acaba levando a atividade apenas como um hobby, uma distração. “Esta é uma oportunidade para se profissionalizarem, ampliarem suas redes de contatos e perceberem que é possível capitalizar este saber”, reforça. “E ajuda a desmistificar que, para começar, são precisos altos investimentos. Muitas vezes tudo que você precisa é só de um pouco de tecido, linha e agulha”, completa.
Para os cursos gratuitos é preciso pegar senha no dia do evento. Há também workshops pagos para quem quer aprender ou aperfeiçoar técnicas de quilting, bordado, crochê, tricô, origami, bonecas de pano, estamparia, scrapbook, entre outras. As inscrições são feitas na secretaria do evento.
A lista completa de cursos, com horários, está disponível no site da feira. (http://www.quiltshow.com.br/curitiba/cursos/)
E para mostrar até onde é possível chegar trabalhando com artesanato, o evento terá uma Mostra Internacional de Arte, reunindo obras de artistas renomadas mundialmente, como a belga Marie Suarez, referência em bordados; e as brasileiras Marina Landi, premiada internacionalmente como uma das melhores artistas quilt do mundo, Aridane Cordeiro, estilista de moda em patchwork, e Dani Dalledone, pioneira na arte dos amigurumis no país.
A formalização do “bico” é caminho natural no empreendedorismo
Um mapeamento da indústria criativa no Brasil, elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), apontou que este setor gerou uma riqueza de R$ 155,6 bilhões para o país em 2015, representando 2,64% do PIB nacional, e empregando mais de 851 mil profissionais naquele ano. “Mesmo assim, existem muitos profissionais na informalidade, então os números podem ser ainda maiores”, avalia Aoki.
Muitos artesãos estão dentro de uma “economia invisível”, formada por pequenos núcleos em comunidades. Porém, neste novo momento da economia criativa, este perfil está mudando, uma vez que brasileiros têm migrado para este setor com uma bagagem de outras profissões. “Quem já tinha outra profissão e exercia o artesanato como um hobby, e já possui conhecimentos de como organizar e gerenciar uma empresa, acaba tendo mais facilidade nesta transição”, diz Aoki.
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Ela mesmo é um exemplo de como a formalização ajuda a alavancar os negócios. Mãe de dois, ela passou a trabalhar em casa quando os filhos nasceram e viu na Feira do Largo da Ordem, em Curitiba, uma oportunidade de começar a expor suas criações em patchwork, onde manteve uma barraca por 17 anos, até 2010. “Produzia durante a semana, no meu tempo livre, e aos domingos meu marido ficava com as crianças para eu expor”, lembra.
A formalização veio só em 2006, quando ela começou a participar de eventos do setor em outros estados. “Passei a ter acesso à compra de material com menor preço e a vender para empresas maiores, porque comecei a emitir nota. Você passa a existir”, diz.
Sua trajetória ajuda a contar um pouquinho da evolução do setor nos últimos anos: quando começou a participar da Feira do Largo, Emília era a única artesã de sua área, que inclui patchwork, bordado, tricô, crochê e pintura. Atualmente, a feira conta com 89 barracas de artistas expondo suas produções. “É um recorte do que é a nossa área, cada vez mais pessoas estão investindo na arte manual e buscando espaço de venda, seja no comércio, em feiras, eventos ou pela internet”, conclui.
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