Primeira indústria da América Latina a produzir plástico biodegradável, a Earth Renewable Technologies (ERT) acaba de receber aporte de R$ 50 milhões da XP Private, braço da XP Investimentos que atua com fundos de grandes valores.
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O montante será aplicado no aumento de produtividade da fábrica instalada há um ano na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), dentro da meta da empresa de alcançar faturamento de R$ 800 milhões e ficar entre a terceira e quarta maior fabricante de bioplástico do mundo até 2025.
A ERT surgiu como startup em 2012 na Universidade de Clemson, no estado americano da Carolina do Sul. Com atividade no ramo imobiliário e de shoppings - é dona de parte do Shopping Mueller -, o grupo paranaense Saga Participações comprou as primeiras ações da startup ainda em 2014.
Maior acionista da ERT, o grupo promoveu o salto da pesquisa para a produção industrial dos plásticos biodegradáveis a base de cana de açúcar. A empresa mantém um centro de pesquisa e desenvolvimento na cidade de Brevard, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, mas decidiu trazer a planta industrial ao Brasil pelo potencial do mercado e pelo fácil acesso à matéria prima, a cana. A ERT também mantém em Curitiba parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) em pesquisas de novos plásticos a partir da cana de açúcar.
"As pessoas se espantam ao ver nossa estrutura por termos começado como startup. Aí dizemos que somos uma startup com uma fábrica grande", brinca o CEO da ERT, Kim Gustensten Fabri.
Os R$ 50 milhões da XP Private serão destinados integralmente para a fábrica na CIC. O plano é aumentar dez vezes a capacidade produtiva até 2025, indo das atuais 3,5 mil toneladas/ano para 35 mil toneladas/ano. Para isso, ERT vai verticalizar a produção, fazendo o próprio polímero - matéria prima usada na fabricação do bioplástico.
Até então, o processo de polimerização do ácido láctico produzido pela cana era feito na Tailândia. Agora, toda essa fase que produz a matéria prima para embalagens será executada na própria ERT.
O objetivo, explica Fabri, é fabricar com 100% de insumo próprio as 35 mil toneladas de plástico previstas até 2025, diminuindo a dependência da importação da Ásia. "O problema hoje não é só o custo alto do frete, mas também a qualidade da matéria prima e a própria regularidade das entregas, com os constantes abres e fechas da indústria chinesa de insumos", argumenta Fabri.
"Sofremos muito com a qualidade da matéria prima chinesa, cuja entrega às vezes é boa, e às vezes é ruim. Isso obriga a nossa presença física lá para acompanhar os processos, o que vamos deixar de fazer com a verticalização", complementa o CEO.
Com o investimento da XP, a ERT dobrou o tamanho da planta na CIC para 3 mil metros quadrados. A empresa também já adquiriu o novo maquinário para ampliar a produção, o qual está sendo instalado. Atualmente com 35 funcionários, a ERT calcula que vá subir para 160 o número de empregos diretos no plano de expansão até 2025.
Vendas
Atualmente 70% da produção da ERT em Curitiba vai para o mercado externo. Com apenas um ano de operação, a indústria já conquistou o maior distribuidor de resina plástica dos Estados Unidos. "Esse cliente fez questão de nos incluir entre os fornecedores já vendo essa tendência de redução nos próximos anos do consumo de plástico feito de petróleo", explica Fabri.
No mercado interno, o maior cliente é a fabricante de produtos naturais Pura Vida, que foi adquirida pela Nestlé em maio desse ano.
A concorrência na venda de plásticos biodegradáveis, explica Fabri, é dura. Além da ERT, outras três indústrias produzem o material sustentável no mundo, todas gigantes do setor, como a francesa Limagrain e a americana Cargill. "Buscamos esse respaldo da XP nos investimentos justamente por estarmos concorrendo com empresas gigantes. Sei do desafio de concorrer com essas empresas, por isso preciso dessa retaguarda para escalonar minha produção", aponta Fabri.
Bioplástico x petroplástico
Atualmente, o bioplástico representa apenas 1% do consumo global de plástico. Mas a perspectiva é de que até 2030 essa fatia do mercado salte para 40%, principalmente no ramo de embalagens. A mudança é pela sustentabilidade: enquanto que um plástico convencional feito de petróleo leva mais de 100 anos para se decompor, o biodegradável leva apenas alguns meses.
"As grandes indústrias estão indo atrás de embalagens renováveis não só por obrigação da legislação, mas principalmente pela mudança de comportamento do consumidor. Em especial os mais jovens, que não querem mais usar uma sacola uma única vez ou um canudinho sabendo que aquilo vai levar muito tempo para se decompor", enfatiza o CEO da ERT.
Fabri afirma que o próprio setor produtivo já reconhece que a fase do discurso por uma mudança para padrões sustentáveis agora tem que se tornar operacional. "A fase do Power Point, das apresentações, dos planos acabou em 2020. Daqui por diante é a hora da execução", enfatiza.
Porém, o CEO da ERT admite que o mercado ainda vive uma dicotomia em relação ao plástico biodegradável, que é a capacidade de produção para atender a demanda da indústria. "Estamos em um ciclo vicioso: as grandes marcas não mudam esse processo porque não têm matéria prima suficiente e o lado de cá não vira porque não sabe se a indústria vai entrar nisso de vez", explica Fabri. "Agora é a hora da virada, de aumentar a capacidade produtiva para a indústria dar conta do aumento de consumo de plásticos biodegradáveis dos próximos cinco anos", ressalta.
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