O uso de uma plataforma desenvolvida especialmente para o monitoramento de pacientes que utilizam o plano de saúde do Hospital Evangélico, em Londrina, no Norte do Paraná, possibilitou uma redução em 81% no número de pacientes de alto risco que antes eram atendidos mensalmente, em um período de 18 meses.
Além disso, houve uma redução em 44% nos custos com atendimento de emergência de pacientes crônicos e em 44,5% nos custos com internamentos destes pacientes. A economia, em um período de 12 meses, somando ambos os serviços (emergência e internamento) foi de mais de R$ 2 milhões.
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O uso da plataforma para gerenciamento de pacientes crônicos faz parte do Programa Viva Saúde - do Plano de Saúde Hospitalar - e que prevê atendimento domiciliar, presencial ou online para 1.736 pacientes com doenças como hipertensão, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica, obesidade, depressão, problemas cardiovasculares, pessoas em idade avançada e outros. Todos os pacientes que participam do programa foram selecionados com a ajuda de uma plataforma exclusiva.
A tecnologia chamada PGS/Nagis começou a ser utilizada em janeiro de 2023 dentro do plano de Atenção Primária à Saúde (APS). Com ela, é possível identificar o número e a frequência de pacientes crônicos que passaram por atendimento no hospital, elencando os mais graves e sugerindo quais deveriam ser acompanhados preferencialmente por uma equipe multiprofissional, em um período mínimo de 12 meses. A adesão dos pacientes aos tratamentos propostos pela equipe do programa foi de 87,86%.
Entre os monitorados, após 18 meses, 81% tiveram redução de risco, 19,86% dos pacientes tiveram redução de Índice de Massa Corporal (IMC) e 19,58% dos pacientes com IMC acima de 30, considerada obesidade grave, conseguiram reduzir o peso e as doenças crônicas associadas.
O responsável pela implantação do sistema, o superintendente da Associação Evangélica Beneficente de Londrina (Aebel), que abrange o Hospital Evangélico Londrina e o Plano de Saúde Hospitalar, Eduardo Bistratini Otoni, conta que é preciso inovar para tratar as pessoas. E as ferramentas utilizadas foram tecnologia e prevenção. “Em cima disso estruturamos equipes e iniciamos um projeto com 200 pacientes. Hoje, chegamos a mais de 1,7 mil pessoas e atingimos resultados econômicos e sociais nunca vistos", afirma Otoni.
“Quando a pessoa está doente o seu tratamento é mais caro. Se atuarmos preventivamente o tratamento tem menores custos e os pacientes têm uma redução dos seus sintomas . Além de tudo, trabalhar a prevenção é uma forma de engajar equipes médicas e pacientes”, reforça.
Segundo Otoni, o número de consultas não diminuiu, mas o programa conseguiu a adesão dos pacientes ao tratamento, reduzindo também custos de alta complexidade. Outro importante resultado foi a sinistralidade junto a ANS que caiu 10% em apenas um ano.
Diferencial da plataforma do Hospital Evangélico Londrina
A plataforma utilizada em Londrina possibilita a triagem automática de pacientes, incluindo classificação de risco, a identificação e priorização rápida dos que precisam de atenção imediata, a implementação de protocolos padronizados e diretrizes alinhadas com as normativas da ANS, otimizando recursos clínicos.
Antes do uso da tecnologia, todo o acompanhamento era feito por meio de planilha, o que possibilitava o controle de cerca de 300 pacientes apenas. Atualmente, 1.737 pessoas foram incluídas no programa, entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024.
Outra vantagem está no acompanhamento contínuo das condições dos pacientes, com agenda inteligente para os profissionais de saúde. “Isso aumenta a adesão ao tratamento e diminui riscos de complicações, reduzindo intervenções médicas desnecessárias", explica Arnaldo Alves de Souza, gerente administrativo da Atenção Primária à Saúde (APS).
Atualmente a plataforma do Hospital Evangélico Londrina mantém uma base de dados de exames de cada paciente, com o cruzamento de dados e a estratificação de todos os que geram maior custo, baseado no uso de serviços médicos.
Os pacientes são selecionados e uma equipe realiza uma primeira avaliação, incluindo coleta do histórico de saúde, situação vacinal, aplicação de escalas de avaliação com classificação de risco, exames atuais, que determina a frequência do acompanhamento do programa, por meio de atendimento personalizado e telemonitoramento.
Cada paciente tem acesso a uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais de saúde, que desenvolvem um plano de cuidados individualizado, levando em consideração suas necessidades e metas.
As pessoas selecionadas têm suporte contínuo contato com a equipe de saúde por meio de aplicativo de mensagem, podendo esclarecer dúvidas, receber orientações e apoio emocional, evitando muitas vezes uma ida desnecessária ao pronto-socorro.
O diretor de Operações Hospitalar da Aebel, Felipe Rodrigues Leme, garante que o objetivo é expandir o atendimento para mais beneficiários.
“Há 5 meses atrás não utilizávamos os resultados dos exames para monitorar doenças complexas e hoje fazemos isso. A tecnologia nos permite gerir pacientes, de maneira customizada, incluindo protocolos de acordo com as nossas necessidades, o que gera resultados exponenciais", reforça.
O responsável pela criação do software, Wagner Marques, explica que a ferramenta envolve apoio operacional e estratégias que combinam análise avançada, automação e suporte contínuo para que hospitais e planos de saúde otimizem suas operações e entreguem resultados superiores. "O software é capaz de aprender protocolos diagnósticos e terapêuticos e auxiliar profissionais de saúde, permitindo a adaptação de protocolos de cuidados a diferentes situações, locais e níveis de complexidade (UPAS, UBS e Hospitais)", menciona Marques.
As tecnologias desenvolvidas pelas Nagis foram reconhecidas pelo Banco Mundial, através de seu órgão IFC (International Finance Corporation), como sendo uma inovação na área da saúde. "Fomos escolhidos entre 295 empresas e instituições, de 34 países", completa o desenvolvedor e idealizador da startup em saúde.
Resultados reais
Uma das pacientes que obteve resultados significativos com o Programa foi a guarda municipal Daiane da Silva Cardoso, de 37 anos. Após o nascimento do filho, com diagnóstico de autismo e deficiência visual, deixou de cuidar da própria saúde para cuidar do filho. “Ia muito no médico devido a dores na coluna e depressão", conta.
Alguns anos depois foi apontada pela plataforma como uma paciente que deveria ser acompanhada. Entrou no programa em julho de 2024, com diagnóstico de pré-diabetes, artrose, fibromialgia e crise de ansiedade. Em sua primeira avaliação com a enfermeira contou que era sedentária, estava com sobrepeso e precisava melhorar a alimentação. “Eu comia todas as noites. Estava muito preocupada com o futuro e precisava de uma mudança abrupta de estilo de vida", conta. Passou a fazer exercícios duas vezes por semana e, com suporte de nutricionista, aderiu a reeducação alimentar. Em apenas três meses já havia perdido 9 quilos. "Foram três meses que mudaram minha vida. Emagreci quase 10 quilos, não estou mais tomando remédio para diabetes. É uma vitória”.
Já a diretora de escola municipal, Dalva Regina Taniguchi, apresentava um quadro de crise hipertensiva, antes de entrar no programa. Passou por atendimento clínico, nutricionista, perdeu peso e está feliz com os resultados. "Estou muito satisfeita. Minha pressão está normalizada e, com isso, as idas ao PS acabaram.”
Aos 88 anos, o aposentado Reinhold Strass, passou a ser acompanhado pelo Programa em maio de 2024. No mês de setembro realizou uma prótese de joelho e teve complicações na cicatrização. A filha de Reinhold, Lilian Strass, enviou uma foto à enfermeira do Programa que realizou a correção da conduta para cuidados com curativos e solicitou um plano de cuidados para o médico de família do paciente, enviado ao domicílio para prestar atendimento.
“O trabalho do médico e das enfermeiras nos deu confiança e agilidade no tratamento no momento certo, garantindo a melhora do meu pai. O atendimento é maravilhoso, tanto para meu pai como para minha mãe, que não vão mais ao pronto-socorro", elogia Lilian. Além disso, toda e qualquer dúvida que temos nós entramos em contato com a equipe. Na idade dos meus pais isso é fundamental", completa.
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